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11/12/2014 - 07h30

'Banheiros aéreos' escancaram vista e intimidade de moradores em Manhattan

PENELOPE GREEN
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA YORK

Entre as muitas visões vertiginosas oferecidas pelos apartamentos de cobertura do edifício 432 Park Avenue, de quase 430 metros de altura, está um banheiro destinado aos mestres (ou mestras) do universo, uma reluzente confecção de vidro e mármore.

Uma imagem mostra a imensa banheira oval que o equipará instalada diante de uma janela de nove metros quadrados, em um apartamento acima do 90º andar. Abaixo, Manhattan se estende como uma visão que se poderia ter da janela de um jato executivo.

Isso é que é banho para os poderosos.

Os estonteantes banhos aéreos do 432 Park Avenue, embora certamente os mais altos da cidade, não são os únicos banheiros de parede transparente em Nova York. Por toda Manhattan, em torres de vidro em construção ou a serem construídas, banheiros com paredes transparentes exporão os proprietários, nus, usando toalhas ou roupões, como se fossem peças em uma exibição de museu.

Parece que os antigos referenciais de luxo para os banheiros (a Inglaterra eduardiana, por exemplo, ou a antiga Roma) foram substituídos pelo cubo de vidro da loja da Apple na Quinta Avenida.

De fato, Richard Dubrow, diretor de marketing da Macklowe Properties, a incorporadora que construiu tanto a loja da Apple quanto o 432 Park Avenue, descreveu as "salas líquidas", ou salas de banho, dos novos apartamentos usando exatamente essa comparação.

Todo mundo quer uma janela, disse Vickery Barron, corretora de imóveis na imobiliária Douglas Elliman e diretora de vendas do Walker Tower, o edifício residencial convertido da antiga torre de Verizon em West 18th Street. "Mas agora precisa ser uma Janela. Agora, o que as pessoas antes queriam em suas salas de visita, elas querem nos banheiros. E se queixam se estes não oferecem vistas".

Era uma tarde chuvosa e escura, mas o apartamento de cobertura vendido por US$ 47,5 milhões que Barron me mostrou não precisava de luz artificial. O Walker Tower fica a apenas alguns quarteirões ao norte de uma área preservada pelo patrimônio histórico, o que significou que os responsáveis pelo projeto, o escritório Cetra/CRI Architecture, puderam expandir suas janelas até os 2,80 metros.

No banheiro de casal, uma imensa banheira prateada da Waterworks oferece vista para o sul, mostrando o panorama de Manhattan sem obstruções.

Não estamos falando de uma experiência como a do filme "Janela Indiscreta". Ninguém verá os vizinhos, do 23º andar, e estes certamente não verão os ocupantes do apartamento. Por conta do pé direito dos apartamentos da Walker Tower, disse Barron, "o 23º andar é como se fosse o 30º".

Dos banheiros de quina do edifício 215 Chrystie St., em construção no Lower East Side com projeto dos arquitetos Herzog & De Meuron, projeto de interiores do minimalista inglês John Pawson e incorporação de Ian Schrager, a vista inclui o Chrysler Building e a ponte da rua 59, se você não desmaiar de vertigem.

Os banheiros de 5,70 metros dos apartamentos, um por andar, são instalados nos cantos desobstruídos do edifício de vidro. Pawson projetou a banheira de concreto instalada de forma a propiciar visão daquele ângulo de 90 graus envolto em vidro.

"A abordagem de Ian é a de que, se há vista, devemos usar vidro", disse Pawson. "Não se trata de ser exibido, mas sim de desfrutar daquilo que existe do lado de fora. Qualquer exibicionismo será apenas um desanimador subproduto. Acho bacana que, em dado nível, estejamos criando um espaço social. As pessoas podem conversar no banheiro, dividir banheiras, levar cadeiras".

Em uma recente quinta-feira, havia sete pessoas no banheiro de casal do 20º andar do 737 Park, outro projeto da Macklowe, a conversão de um edifício dos anos 40, em projeto da Handel Architects. O apartamento, com três quartos em área de 394 metros quadrados, está à venda por US$ 19,965 milhões.

O banheiro tem 6,40 por 3,40 metros, e certamente tinha espaço para mais gente. Ao longo de duas paredes opostas, dois vasos sanitários e dois chuveiros se encaravam por trás de divisórias de vidro. A banheira em formato de ovo, uma visão que já havia se tornado familiar àquela altura, flutuava no centro do aposento.

"Algumas pessoas não se incomodam em mostrar um pouco, e outras não se incomodam em mostrar muito", disse Gary Handel, o sócio diretor da Handel Architects. "Elas se sentem completamente confortáveis com seus corpos".

PROJETO CLARO

Malay Shah, um colega arquiteto de Handel, acrescentou que as divisórias de vidro significavam que os mosaicos de pastilhas e os pisos de mármore são sempre visíveis. O vidro parece se evaporar, de modo que a sala é definida por suas paredes externas, e não pelos boxes de chuveiro e pelos vasos sanitários.

Nove dos apartamentos do edifício expressavam ideia ainda mais clara: uma parede de vidro com dois sanitários em cada ponta e um chuveiro no meio, o que intrigou muitos dos corretores e clientes, porque os vasos estão instalados um diante do outro. A clareza do projeto –e o espaço bem iluminado– provocam questões sobre a necessidade de privacidade em nossos espaços privados.

Jill Roosevelt, corretora da imobiliária Brown Harris Stevens que vinha mostrando algumas das novas e envidraçadas ofertas de apartamentos a um grupo de clientes, disse que o 737 Park, especialmente, causou discussão sobre os hábitos da intimidade.

"É definir o quanto você quer ficar perto de seu parceiro ao executar esse tipo de tarefa", ela disse. "Isso não afeta as vendas, mas há sempre uma reação, que varia do 'e daí?' ao humor. Depende de o quanto a pessoa se sente confortável com seu cônjuge ou parceiro. Os casais tradicionais que atendo costumam dizer que usarão vidro fosco".

Um casal, segundo Roosevelt, contemplou com interesse o duelo de privadas do apartamento do 737 Park. "Bem, acho que podemos ficar assistindo um ao outro lendo o jornal", disse a mulher, por fim.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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