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26/12/2014 - 17h15

Casas de fadas têm mercado próprio nos Estados Unidos; veja projetos

MICHAEL TORTORELLO
DO NEW YORK TIMES

"Estou interessado em comprar uma casa de fada", eu disse ao primeiro atendente telefônico da Bank of America Home Loans, a divisão de hipotecas do banco. Em agosto, a empresa controladora do banco aceitou acordo para pagar multa de US$ 16,65 bilhões por seu envolvimento na venda de títulos lastreados por hipotecas de baixa qualidade. Eu senti que estava procurando o banco certo.

Um dos atendentes do banco, Peter Herr, pareceu discordar, embora tenha sido muito simpático a respeito.

"Você está falando de uma estrutura para fadas?", Herr perguntou pelo telefone, de um escritório do Bank of America nas cercanias de Portland, Oregon. "Nunca ouvi esse termo".

Uma casa de fadas, evidentemente, é uma casa para fadas. E o que é uma fada? A questão é mais contenciosa, e tema de interesse e de estudo considerável.

O Pinterest, por exemplo, tem mais de 5.000 painéis dedicados a casas de fada. E o site de artesanato Etsy, que está ingressando aos poucos no mercado de imóveis, tem mais de 2.000 ofertas de casas de fada e mobília artesanal.

É lá que Debbie e Michael Schramer estão oferecendo sua Fairy Treehouse, por US$ 100 mil, e mais duas propriedades na faixa de preços de entre US$ 1.000 e US$ 24 mil. Alguns dos construtores mais encantadores do Etsy são parte da antologia "Fairy Homes and Gardens", que a Schiffer Publishing lança por US$ 24,99.

Eu estava procurando uma casa de fada para meu filho, Bear, 6, e minha filha Bea, 8.

Há meses minha filha vinha servindo como embaixadora humana para uma tropa de fadas migrantes que passaram o inverno em nosso quintal. Os deveres dela envolviam visitar as fadas diariamente, com temperatura abaixo de zero, e alimentá-las com batatas velhas.

As fadas, ao que parece, estavam vivendo na penúria. O que me conduz de volta à hipoteca e à conversa com Herr, no Bank of America. O rótulo "casa de fadas" o fez pensar em uma "casinha" de 18 metros quadrados. Será que eu poderia enviar uma foto por e-mail?

"Nunca vi coisa parecida", Herr comentou. "É realmente bacana".

Ainda assim, o Bank of America não pretendia me emprestar dinheiro para comprar uma casa de fadas. Não é?

"Odeio ter de informar, mas é isso mesmo. Odeio ter de recusar, porque é uma casa tão genial", respondeu Herr.

Aparentemente, minha compra de uma casa de fadas teria de ser paga integralmente em dinheiro. A boa notícia, quanto a isso, é que US$ 500 permitem comprar ótimas casas.

Julie McLaughlin, 55, artista de Seven Valleys, Pensilvânia, construiu cerca de 200 dessas casas sob medida. Elas as vende no eBay por preços de entre US$ 400 e US$ 1.000.

Um método comum de construção é começar por um kit de casa de boneca, que ela embeleza com musgos, cogumelos, cascas de árvore, películas de sementes e flores de seda. Trabalhar em escala de casa de bonecas (1:12) permite que os adeptos do hobby coloquem mobília que eles mesmos produzem.

Mas quem compraria um armário para guardar sapatinhos invisíveis de fadas?

"São os colecionadores mais maduros", disse McLaughlin. "Não se trata de produtos com preços para crianças. Mas você tem de admitir que uma casa de fadas é uma compra bem frívola", ela afirmou.

Pois para convencer os mais céticos, existem expedições anuais de visitas a casas de fadas, e oficinas sobre como construí-las em cidades como Rochester, Nova York, e Portsmouth, New Hampshire, que atraem mais
de 5.000 pessoas.

Tracy Kane, 61, escritora e ilustradora de livros infantis, estava a caminho de um festival como esse, em Farmington, Connecticut, quando conversei com ela, há algumas semanas. Sua Fairy House Series, cujo primeiro título saiu 14 anos atrás, é um dos marcos da retomada das histórias de fadas.

Os livros mostram crianças brincando nos bosques, descobrindo a natureza e sua criatividade. A mensagem se provou popular, disse Kane, especialmente entre os avós, que podem se sentir distanciados do tipo de "brincadeira" baseada em computadores que mais parece um estado de coma, para quem vê as crianças.

TERRA DA FANTASIA

Todo mundo sabe que o mercado imobiliário de Nova York é uma terra da fantasia. As fadas moradoras da cidade mal conseguem acompanhar todas as demolições e reformas.

Os incorporadores mais empreendedores (e impiedosos) são as crianças pequenas que participam do projeto Brooklyn Forest, o qual promove uma reunião semanal para brincadeiras na natureza no Prospect Park e Central Park.

Os sicômoros e castanheiros da Índia oferecem muitas vigas e estacas, diz a co-fundadora e diretora da escola, Joylynnn Holder. Mas uma criança de três anos sem dúvida terminará escavando também bitucas de cigarros e tampas de embalagens de leite.

"Minha filha estuda em uma escola Waldorf", diz Holder, 33. "Eles usam lixo. Nós não".

Muitos dos pais das crianças do projeto são músicos e artistas, e eles abordam o mundo imaginário com muito rigor no design. Se isso ajuda as crianças a se envolver mais, a Brooklyn Forest aprova. Mas o mercado adulto de casas de fadas –as casas deslumbrantes oferecidas no Etsy– intriga Holder.

"Fico imaginando quem de fato é o consumidor. É como clubes de strip-tease. São totalmente legítimos, mas quem quer ir a um deles?"

Crianças acreditam em fadas?

"Acho que algumas acreditam", diz Holder. "Mas os pais podem convencê-las do contrário –e o fazem às vezes, porque honestidade total é o modo do momento". Uma infância moderna, portanto, é como alguém contar o final do filme antes que o assistamos.

É tentador pensar que cada casa de fadas é construída sem encomenda. Isso vem sendo uma barreira para a maior parte dos arquitetos residenciais, que raramente trabalham em escala miniaturizada. Uma exceção é Andy Berheimer, 46, sócio diretor de seu escritório de arquitetura e diretor do programa de arquitetura da Parsons the New School for Design, em Manhattan.

Em colaboração com sua irmã, Kate Bernheimer, autora de livros de fábulas, Bernheimer desenvolveu uma série de projetos e ilustrações baseados em contos de fadas para o site Design Observer. A recessão, ele aponta, prejudicou muito a Bernheimer Architecture. Os pedidos "desapareceram". E já que ele só podia imaginar projetos, o arquiteto decidiu realizar projetos imaginários.

A primeira planta que ele criou para uma casa de fada foi para Baba Yaga, uma feiticeira russa que vive em uma casa com pés de galinha. Os desenhos de Bernheimer começaram bastante literais, quase plantas. O projeto da casa de Baba Yaga indica, por exemplo, a trajetória de voo da bruxa.

"Meu cérebro fica preso às convenções de minha profissão", ele disse. Embora seus projetos posteriores para fadas explorassem a abstração, em última análise "estou desenhando para um cliente", ele diz. As casas de fadas do Pinterest, ele afirma, não sofrem essas limitações. "No caso delas não há clientes. E não digo isso como crítica".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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