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30/12/2014 - 17h30

Apartamento de mágico reúne raridades de ilusionistas como Houdini e Pitchford

SANDY KEENAN
DO "NEW YORK TIMES"

No pequeno apartamento do mágico Joshua Jay, 33, em Chelsea, Nova York, equipamentos de bondage –fetiche sexual que consiste em amarrar o parceiro– são decoração casual.

Lá, expostos aos olhares, é possível ver prendedores de polegar, algemas de todas as variedades e uma camisa de força com amarras de couro.

"Acho que eu nunca tinha reparado quantos brinquedos eróticos nós temos", diz Anna Kloots, noiva e assistente de Jay. "Mas eles são valiosos demais para sexo".

A casa de Jay também serve de arquivo para seus livros e apetrechos de mágica que um dia pertenceram aos seus heróis e predecessores.

Ele exibe um par de luvas de couro que foi usado por Richard Valentine Pitchford, ilusionista britânico que se apresentava com o nome artístico "Cardini".

Pitchford aprendeu seus truques com cartas nas gélidas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e acostumou-se a tal ponto a usar luvas durante as apresentações, algo incomum entre os mágicos de sua era, que continuou a fazê-lo durante toda a sua longa carreira.

A camisa de força pertenceu a Harry Houdini. "E não, você não pode olhar por dentro", disse Jay quando tentei aproveitar a oportunidade e descobrir se ela escondia alavancas secretas ou truques de escape. Aqui, os segredos profissionais dos mágicos continuam imortais.

"Nem eu pude ver direito a camisa de força", diz Kloots. "E eu moro aqui".

O apartamento de 67 metros quadrados abriga também aparelhos para truques de carteado, como aparadores de carta antigos que sutilmente arredondam os cantos quadrados ou aparam margens de cartas, e obras de arte cujo tema é o ilusionismo, como um pôster do século 19 que promove P. T. Selbit, o primeiro mágico a executar a ilusão de serrar uma mulher ao meio.

A mais recente adição ao acervo é um paletó de smoking cor de rosa cintilante que pertencia a Doug Henning, mágico premiado com o Emmy. Henning ficou famoso nos anos 1970 e 1980, época em que suas mãos estavam seguradas por US$ 3 milhões.

"Serve direitinho para mim", diz Kloots, posando com o paletó, adquirido em um leilão por US$ 2 mil.

O casal não pretende viver pelo resto da vida em seu pequeno apartamento, mas ele será seu lar pelo menos até que os dois se casem. Eles planejam uma cerimônia de casamento no terceiro trimestre, em Manhattan, com um show de mágica de uma hora de duração feito pelos ilusionistas prediletos do casal.

Jay mantém segredo sobre o elenco, até mesmo para Kloots, e se limita a dizer que David Copperfield e Penn e Teller não estão na lista.

MÁGICA MINIMALISTA

Jay se apaixonou pela mágica aos oito anos. O pai dele, Jeffrey, dentista em Canton, Ohio, ensinou um truque com cartas dos anos 1940 ao menino. O truque se chama "fora deste mundo", e o participante é convidado a adivinhar se as cartas apresentadas em duas pilhas, com as faces para baixo, são pretas ou vermelhas. O resultado é 100% de acerto.

Jay ficou fascinado e se trancou no quarto com o baralho, só saindo ao descobrir como o truque funcionava. "Foi um momento seminal para mim", ele conta. "Aquilo realmente me capturou".

Ainda que já tenha se apresentado em 563 países e deva participar do programa "Today" no dia do Ano Novo, ele é muito menos conhecido do que ilusionistas como Copperfield, Criss Angel e Rocky Jay (de quem não é parente).

"Mágica muito minimalista", é como ele define seus truques, que incluem transformar uma nota de US$ 1 em US$ 100, dobrar moedas de 25 centavos ao meio com a "força da mente" e engolir duas dúzias de alfinetes.

"Não há como distrair a atenção de uma câmera", ele diz.

RARIDADES

Os objetos da coleção que Jay mais aprecia são aqueles que apresentam pontos de contato com a história do ilusionismo.

Ele é dono de um raro exemplar de primeiro edição (há poucas dezenas de cópias conhecidas) de "The Discoverie of Witchcraft". Escrito em 1584 por Reginald Scot, um membro do Parlamento inglês, o livro é visto como o primeiro a expor a mágica como truque e não feitiçaria.

"Na época em que foi publicado, mágicos eram queimados como feiticeiros", diz Jay.

Ainda que impressione, a coleção de Jay parece modesta se comparada à de Copperfield, que é bilionário e ao que se sabe adquiriu 150 mil itens relacionados à história da magia, que estão guardados em um armazém em Las Vegas.

Jay gostaria de ter algumas dessas peças e diz que duvida que Copperfield saiba quantas vezes tentou vencê-lo em leilões.

"Quando penso na conta bancária sem fim que ele tem, tenho ataques de desespero", disse Jay, acrescentado que só conseguiu comprar a camisa de força de Houdini porque "Copperfield já tinha uma".

O que talvez seja uma vantagem oculta: manter a ordem do pequeno apartamento, que também funciona como laboratório de desenvolvimento de truques, não vem sendo fácil.

Quando Kloots se mudou para o apartamento, este ano, o casal enxugou a coleção, mantendo mil livros e os objetos mais preciosos e guardando o resto do acervo em um armazém no Ohio.

Mesmo assim, Kloots queria mais 10% de redução, e Jay estabeleceu a norma de que cada nova peça comprada significa enviar uma das velhas ao armazém.

CIRURGIAS

No passado, houve um momento em que pareceu que ele teria de se concentrar em outros esforços empresariais e em suas coleções. Cerca de seis anos atrás, ele estava pegando onda na esteira de uma lancha em um lago no Ohio, colidiu com uma boia metálica e mutilou sua mão esquerda.

O primeiro especialista que ele consultou se recusou a operar, dizendo que Jay provavelmente não voltaria a se apresentar como mágico. O segundo, o Dr. Peter Evans, cirurgião da Cleveland Clinic e especialista em mãos que atende as equipes esportivas de Cleveland, mostrou mais otimismo.

Depois de três cirurgias e de muita reabilitação física, Jay reconquistou 90% da habilidade com a mão ferida. Ele treinou o dedo anular para compensar os danos ao dedo mínimo, um dos mais usados em prestidigitação.

Se ele guardou seu gesso, afinal coleciona objetos de bondage? Não, a ideia nem lhe ocorreu. "Acho que o incinerei", ele diz.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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