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24/02/2015 - 07h30

Ousada e provocante, casa reúne acervo de arte negra norte-americana

PENELOPE GREEN
DO "THE NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Em agosto de 2009, um incêndio destruiu a elegante casa de Peggy Cooper Cafritz, 67, em Washington, repleta de obras de arte.

O incêndio também destruiu um dos polos sociais mais ativos da cidade, um nexo para contatos entre ativistas, políticos e jovens artistas que circulavam em torno de Cooper Cafritz, ranzinza, mas charmosa, patrona das artes, anfitriã e antiga presidente do Conselho de Educação.

Sua prodigiosa e atraente coleção de arte africana e arte negra norte-americana contemporânea também se foi, com peças que traçavam uma linha, nem sempre reta, entre a pintura narrativa de Jacob Lawrence e as provocações de Kara Walker, Kehinde Wiley e Hank Thomas Willis, entre outros.

Nos anos que se passaram desde então, Cooper Cafritz sofreu não só com as perdas causadas pelo incêndio, mas também como as dificuldades de um processo judicial contra as autoridades locais de água, que ela processou em US$ 30 milhões por negligência na manutenção dos hidrantes em seu velho bairro.

Ela também passou por uma série de problemas de saúde: duas cirurgias fracassadas na coluna, uma operação de emergência por pedras na vesícula –quando ela estava visitando a Croácia no ano passado e que a deixou 11 dias em coma– e um surto de pneumonia no final de 2014.

Cooper Cafritz foi atingida também pelas mortes repentinas de seu muito admirado mentor e padre, o reverendo John Payne, diretor da Duke Ellington School of the Arts –escola de segundo grau que Cooper Cafritz ajudou a fundar quando ela ainda estava no segundo grau–, e de seu sobrinho A. J. Cooper, 34, um ativista comunitário em Washington que estava em campanha para um posto como vereador quando sofreu um ataque cardíaco.

Em meio a todos esses problemas, Cooper Cafritz começou a colecionar novas obras, "fragilmente, no começo", como ela descreve, e mais tarde com a voracidade que a define.

Enquanto isso, criava um novo lar em um apartamento duplex em um edifício de aço, concreto e vidro, que ela comprou por US$ 3,25 milhões em 2011 e reformou completamente em três meses.

HABITAT INCOMUM

Posicionado entre os institutos de pesquisa e as embaixadas da Massachusetts Avenue e do Dupont Circle, o novo edifício não fica perto do "vale caucasiano" –descrição brincalhona de Zachary e Cooper, os filhos de Cooper Cafritz, para o bairro de Kent, a região de elite onde cresceram.

Com andares dispostos irregularmente, salas em forma de trapézio e espaço livre mínimo nas paredes, o apartamento é um habitat incomum para um colecionador de arte e nada parecido com o antigo ambiente de Cooper Cafritz, uma casa com colunas, mansardas e oito quartos que ela construiu nos anos 1980 com o ex-marido Conrad Cafritz, incorporador imobiliário de quem se divorciou em 1998, e encheu de antiguidades inglesas.

"Eu visitei 500.817 imóveis e meus filhos amaram este apartamento, acharam que me deixaria menos isolada e mais perto deles", diz Cooper Cafritz.

"Também decidi que a realidade e o bom senso ditavam que minha nova casa não fosse, de modo algum, uma reconstrução de qualquer coisa, um guarda-roupa ou uma coleção de arte. Eu não queria reconstruir o que um dia tive, mas buscar algo de novo", acrescenta.

NADA MINIMALISTA

Vistoso, adorável e provocante, o novo lar agora está decorado com tantas peças novas que serve como um rico tutorial sobre a arte negra norte-americana contemporânea e emergente, uma combinação do melhor que se pode encontrar em uma mostra coletiva no Studio Museum do Harlem, na galeria PS1 e na Jack Shainman Gallery, em Chelsea, que está há muito tempo entre os fornecedores de Cooper Cafritz.

Cooper Cafritz nada tem de minimalista. Basta observar a área, bem pequena, que serve de saguão de entrada: na parede única, e diante dela, há uma peça que se estende do teto ao chão, trabalho de Leonardo Benzant, artista do Queens, um quadro circular de Mark Thomas Gibson, uma reluzente cadeira "cubista" do designer francês Stephane Ducatteau, uma luminosa colagem de Njideka Akunyili Crosby, uma valise Luis Vuitton com um personagem de hip-hop e uma nuvem azul turquesa pintada por Iona Rozeal Brown, além de um tapete indiano multicolorido que parece uma colcha de retalhos.

Em alguns aposentos, pode ser difícil encontrar a mobília. Paul Siskin, designer de Manhattan que ajudou Cooper Cafritz a criar sua primeira casa e tornou-se grande amigo dela, disse que não gostou muito do novo espaço.

"É muito industrial, mas a localização é melhor. Nós demos a ela todo o conforto possível [colocando um sofá ou dois], mas não é isso que a interessa. Para ela importa a arte. São peças ousadas, grandes e exageradas, e isso revela alguma coisa sobre Peggy. Ela nada tem de tímida, graças a Deus por isso".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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