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11/03/2015 - 15h18

Arquiteto canadense projeta 'castelos personalizados' para celebridades

STEVE KURUTZ
DO "NEW YORK TIMES"

Às vezes Richard Landry não consegue acreditar em como sua vida e carreira deram certo.

Afinal, e se ele tivesse ficado em Quebec e aceitado o posto de professor que lhe foi oferecido quando concluiu o curso de arquitetura? E se a província de Alberta não tivesse entrado em recessão, o que o levou a deixar o pequeno escritório de arquitetura comercial onde passou os primeiros anos de sua carreira e partir para Los Angeles, cidade que ele escolheu com base no clima e no fato de que era 1984 e todo mundo falava sem parar sobre a Olimpíada que aconteceu lá? E se, quando ele chegou à cidade sem conhecer ninguém e começou a procurar escritórios de arquitetura na lista telefônica, Frank Gehry tivesse atendido sua ligação?

Gehry não atendeu. Em lugar disso, Landry conseguiu emprego no R. Duell and Associates, um escritório de arquitetura cuja especialidade era projetar parques temáticos como o Magic Mountain, emprego que ele descreveu como "pura diversão, pura fantasia". Brilhante e ansioso por agradar, ele em seguida se transferiu a um pequeno escritório que estava produzindo projetos para um condomínio fechado chamado Beverly Park, em Beverly Hills.

Na época, Beverly Park era uma vasta extensão de terra nua, sem árvores, mas o condomínio veio a servir de exemplo máximo da bolha isolada em que vivem os ricos em uma cidade repleta deles: um refúgio livre de poluição para os bilionários do setor de capital privado, para os superastros dos esportes e para Sylvester Stallone, um dos clientes de Landry.

Por isso, ele sacode a cabeça, hoje, e diz que "sempre foi difícil refletir sobre isso e entender como cheguei até aqui". Talvez tenha sido o destino que o tenha levado para o oeste dos Estados Unidos, e o tenha dotado do temperamento e da competência necessários a criar as casas dos sonhos dos ricos em uma era de exuberância econômica.

Trinta anos depois de chegar a Los Angeles, carregando tudo que tinha no mundo no porta-malas de seu Honda, Landry, 57, é um dos mais procurados arquitetos residenciais finos do sul da Califórnia, e de muitos outros lugares. Seus clientes são as pessoas mais ricas e mais famosas –em muitos casos, as duas coisas ao mesmo tempo.

As casas que ele projeta para eles causariam inveja imobiliária aos senhores feudais. Há a casa de 1,1 mil metros quadrados, em estilo inspirado na França, que ele desenhou para Tom Brady e Gisele Bündchen em Brentwood, cercada pelo que a revista "Architectural Digest" define como "um verdadeiro fosso". A casa de 28 quartos e 32 banheiros, em aço, vidro e pedra, na encosta de uma colina em Bel-Air, foi definida pela revista "Robb Report" como "a casa definitiva", em 2011.

E o pavilhão em estilo europeu de 2,7 mil metros quadrados, dotado de quadra de basquete e duas Jacuzzis, que ele construiu para o ator Mark Wahlberg em Beverly Park?
"Quando ele me ligou, disse que acompanhava meu trabalho há anos e que estava feliz por eu poder cuidar do projeto de sua casa", conta Landry. "Um sujeito muito simpático. Nós nos divertimos muito."

QUERIDINHO DAS CELEBRIDADES

Landry é uma espécie de arquiteto oficial de Beverly Park, tendo projetado diversas das casas que ocupam o condomínio, entre as quais uma ampla villa hoje propriedade de um magnata das bolsas (e à venda por US$ 25 milhões) e o chateau de 1,35 mil metros quadrados que um dia pertenceu a Lisa Vanderpump, estrela de "Real Housewives" (demolido para abrir espaço a uma nova casa que Landry está projetando).

Ao atender os prósperos, Landry mesmo prosperou. Seu escritório, o Landry Design Group, emprega quase 50 pessoas, que trabalham em um edifício de escritórios adquirido por ele no ano passado, e a companhia tem dezenas de projetos em curso, em diversos estágios e diferentes partes do mundo.

"Eu poderia me aposentar hoje e viver bem pelo resto da vida", ele diz. "É ótimo estar nessa posição".

É claro que a vida dele não é só descanso. Landry não consegue encontrar peças de reposição para seu carro esporte elétrico de US$ 100 mil, porque a companhia que o fabricava faliu. Mais preocupantes são as críticas que surgem por conta de sua posição como arquiteto favorito do 1%. Ele já foi definido como "arquiteto de mansões", "rei das megamansões de mau gosto" e, nas palavras de um crítico online, como "mascate das gigamansões".

O blog imobiliário Curbed vem sendo seu mais ferrenho crítico, definindo as casas de Landry como "desnecessariamente exageradas" e "feias", e sugerindo que "se os plebeus soubesse mais sobre o que ele faz", isso poderia "deflagrar uma revolução populista nos Estados Unidos".

As casas que ele projeta são, de fato, uma ostentação escancarada de riqueza, expressa em forma de loggias e porte cochères, home theaters e saguões com pé direito duplo, mármore italiano e pedra calcária especial, envelhecida em banho de ácido. Mesmo os dois livros que Landry publicou sobre seus projetos são grossos como placas de mármore.

Mas o arquiteto, que viveu uma infância plebeia como filho de um carpinteiro na região rural de Quebec (e só aprendeu inglês aos 20 anos) não tem interesse pela luta de classes. Determinar se os ricos deveriam exercitar a discrição em nome da melhora da sociedade é assunto que cabe aos sociólogos. "É certo ou errado que alguém construa uma casa grande?", ele questiona. "Não cabe a mim responder essa pergunta."

A abordagem de Landry não é dizer aos clientes que uma horta sustentável de legumes instalada nos fundos de uma mansão gigantesca pode ser um tanto ridícula. Ou impor-lhes sua visão singular, ao modo de Frank Lloyd Wright. Acima de tudo, ele deseja fazê-los felizes. Projetar casas adaptadas às suas necessidades e caprichos individuais.

"Existem milhões de pessoas que posso fazer", ele costuma dizer. "Mas a casa é para você. Vamos falar sobre o que você precisa."

Se o fundo de hedge que um cliente dirige está obtendo retorno estrondoso e ele deseja uma piscina coberta para os cinco dias ao ano em que o frio não permite nadar em piscina aberta no sul da Califórnia, Landry criará uma piscina coberta. Se o cliente e sua terceira mulher, muito mais nova do que ele, acabam de passar por férias muito especiais na Itália e desejam levar um pouco do charme do Velho Mundo a Calabasas, Landry projetará uma villa em estilo italiano, usando um caminhão inteiro de madeira recuperada de um mosteiro. Se a série de humor que o cliente criou acaba de ser vendida para redistribuição por um valor altíssimo, e o cliente sempre quis uma quadra de squash dentro de casa, Landry acomodará o pedido –"e até aprendo a jogar squash", diz o arquiteto, rindo.

James Magni, um projetista de interiores que trabalha frequentemente com Landry em Los Angeles, disse que ele é diferente de todos os demais arquitetos, por conta de sua camaleônica capacidade de se enquadrar aos desejos dos clientes. "A maioria dos arquitetos tem uma filosofia de projeto com a qual eles trabalham", diz Magni. "Mas o estilo dele muda de projeto a projeto e de cliente a cliente."

EXPERIMENTANDO ESTILOS

Ainda que Landry seja conhecido principalmente por seus casarões em estilo falso europeu, ele não tem um look que sirva como assinatura reconhecível –e nem trabalha em um só tamanho. O escritório dele já criou muitos castelos gigantescos no vale do Loire, mas também casas de praia relativamente modestas, em estilo espanhol, casas inspiradas pela arquitetura norte-americana da metade do século 20, celeiros em estilo rural, imensas mansões modernistas, projetos austeros e reformas de casas existentes.

As pessoas que o definem como rei das megamansões e se concentram no tamanho cada vez maior de seus projetos não estão cientes do escopo mais amplo de seus projetos, diz Landry. E o rótulo tem um preço para ele. "Os clientes leem essas coisas e pensam que só projetamos mansões. Se eles querem uma casa de 450 ou 900 metros quadrados, acham que é pequena demais para mim. Mas uma casa de 900 metros quadrados é uma casa grande."

Landry se descreve como avesso à atenção da mídia e desinteressado em fama. ("Já me convidaram para fazer TV; não é a minha", ele diz.) Mas para ilustrar a gama completa de projetos que produz, ele se oferece para me mostrar diversas casas que projetou. Ele as classifica por ordem de tamanho –"pequenas, médias, grandes e extragrandes".

Perguntado sobre o que conecta seus diferentes projetos, Landry para e pensa por um momento. "Há alguma coisa... uma sensibilidade em termos de detalhes, de qualidade, na casa", ele diz, por fim. "Porque o que importa não é o tamanho. Não é se o projeto é casual ou moderno. Acho que existe alguma coisa comum que não é fácil definir."

Estou percorrendo a Pacific Coast Highway com Landry em seu carro esporte elétrico, e depois de alguns quilômetros ele dobra pela elegante Malibu Road e estaciona diante de uma casa em estilo colonial espanhol, com paredes brancas rústicas. Landry, um sujeito alto e esbelto, vestindo calças pretas bem passadas e uma camisa social branca, me leva ao outro lado da rua para me mostrar seu trabalho.

Ele conta que a casa é a terceira das quatro que projetou para um mesmo cliente, um empresário que parecia estar experimentando estilos arquitetônicos (villa toscana, estilo rural francês, estilo colonial espanhol) da mesma maneira que alguém experimentaria bombons em uma caixa de chocolates sortidos. Da rua, uma porta de madeira pesada se abre para um pátio com paisagismo elegante, do qual se pode contemplar a casa. O oceano é visível, logo além dela.

Com 680 metros quadrados, a casa se qualifica como média, no mundo de Landry. Percorrendo os aposentos, ele aponta para o esforço considerável envolvido em fazer com que uma casa nova pareça antiga. "Não há como recriar essas coisas –elas são reais", ele diz, apontando para placas de madeira reaproveitada, algumas delas ainda mostrando marcas de machadadas, nos balcões da cozinha.

Em um corredor coberto que conecta duas suítes de hóspedes, do lado de fora, Landry toca uma das diversas colunas de pedras com acabamento rústico. "São peças novas. Nós batemos nelas com martelos e pregos para criar o efeito de erosão pelo tempo". Para o interior da casa, "o melhor profissional de acabamento em gesso de Los Angeles" foi contratado para criar ondulações nas paredes, como se fossem imperfeições causadas pelo tempo.

O luxo verdadeiro, ao que parece, é a manipulação da realidade. "É a personalidade do Velho Mundo", diz Landry. "Aquelas antigas villas europeias, meu Deus, como são deliciosas".

O arquiteto sorri. "Você não faz ideia de quantas vezes um cliente me diz que acabou de se mudar para a casa mas sente sempre ter vivido ali. E eles dizem essas coisas com lágrimas nos olhos. Isso significa muito para mim."

Na manhã seguinte, Landry me levou a outra casa projetada por ele, na parte plana de Beverly Hills. Com 2,1 mil metros quadrados de área, ela servia como exemplar "grande" em nossa turnê. O exterior da casa é revestido de pedra calcária francesa, o que, somado ao projeto simétrico e ao paisagismo gracioso, dá um ar de classicismo e formalidade à construção.

Landry ligou da entrada para o administrador do imóvel, que veio abrir o portão para ele. E por trás do imenso portão havia uma bela casa.

O porão foi projetado para parecer o deque de um navio, mas os demais aposentos eram bem proporcionados e tinham acabamento fino: pisos de mármore, exóticas madeiras africanas, um corrimão de mármore italiano portoro, com veios em cor creme. Para obter um efeito Art Déco, ele empregou molduras entalhadas para as janelas.

Em lugar de parecer um simulacro, a casa transmitia uma sensação genuína da Hollywood do passado: o visitante não se surpreenderia se visse Greta Garbo descendo a escada em espiral.

Lee Samson, o proprietário, é um executivo da área de saúde, e disse que ele e a mulher hesitaram inicialmente em contratar Landry por conta de sua reputação "mega". Mas quando conversaram, primeiro pelo telefone e depois em pessoa, "a sensação que tive foi muito calorosa, de muita amabilidade, vinda dele".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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