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12/03/2015 - 10h00

Bangalô inglês com vigas aparentes vira refúgio da filha do pintor Lucian Freud

STEVEN KURUTZ
DO "NEW YORK TIMES"

Esther Freud, 51, fez sua primeira visita a Walberswick, uma aldeia na costa de Suffolk, na Inglaterra, 30 anos atrás, quando era uma jovem atriz vivendo em Londres e estava entediada com a vida urbana. Ela se queixou sobre o tédio ao pai, o pintor Lucian Freud.

Lucian, que morreu em 2011, disse a ela que "existe um lugar horrível, muito austero, que eu era forçado a visitar na infância. Pode ser que você goste de lá", recorda Eshter. "Ele ligou para organizar minha visita".

Esther se hospedou em uma casa chamada "Hidden Hut" [choupana escondida], com "lindas janelas de vidro, muito grandes", ela conta. Era novembro, um mês de frio e umidade, e como os artistas que afluem a Walberswick por conta da vida tranquila e da qualidade da luz local, ela amou o lugar.

"Era o lugar mais maravilhoso que eu tinha visitado até aquele dia", diz Esther. "Continuei viajando para lá sempre que podia. Por anos, meu sonho era ter uma casa na aldeia".

Esther, autora de oito romances, agora tem uma casa lá, um bangalô rústico, de pedra, com quatro quartos e um notável telhado de telhas vermelhas. A casa serve de refúgio para ela, o marido e os três filhos do casal (que vivem em Londres durante a maior parte do ano).

A construção data de cerca de 1700, o que faz do bangalô, provavelmente, a casa mais antiga da aldeia, ela diz.

Do lado de dentro, a velha estrutura foi exposta, com imensas vigas visíveis "dominando" diversos cômodos. Partes da casa contam com tetos altos e inclinados, como os de um celeiro, enquanto outros aposentos refletem a arquitetura de pé direito baixo e a falta de iluminação que caracterizam o período de construção da casa.

Esther disse que teve de elevar o topo das portas para que seu marido, o ator David Morrissey, pudesse entrar sem bater a cabeça.

Esse era um problema recorrente em sua primeira casa na aldeia, por coincidência bem ao lado da casa atual, e inspirou seu mais recente romance, "Mr. Mac and Me". A minúscula casa havia sido um pub e hospedaria chamado Blue Anchor, e nos 12 anos que viveu lá, Esther descobriu que o arquiteto escocês Charles Rennie Mackintosh havia sido hóspede do estabelecimento.

ARQUITETO

Mackintosh, mais famoso por projetar a sede da Glasgow School of Art, é figura célebre no mundo do design, um artista multitalentoso e de princípios tão rígidos quanto os de Frank Lloyd Wright, arquiteto que foi seu contemporâneo.

Quando ele descobriu Walberswick, em 1914, ainda enfrentava dificuldade para obter contratos, e começou a pintar aquarelas de flores e paisagens.

Forasteiro na aldeia, uma comunidade fechada, Mackintosh chegou a ser acusado de espionar para a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. "Comecei a pesquisar sobre ele e quanto mais eu descobria, mais me fascinava", diz Freud. "Descobri que ele teve uma vida muito difícil e frustrante. Passei a sentir grande afeto por ele".

Pamela Robertson, curadora sênior e professora de estudos sobre Mackintosh na Hunterian Art Gallery, Universidade de Glasgow, disse que o arquiteto e sua mulher, a pintora Margaret Macdonald Mackintosh, provavelmente viam sua passagem pela Inglaterra como um breve interlúdio, ainda que para todos os efeitos a carreira dele na arquitetura estivesse encerrada já então.

"Escolheram Walberswick porque conheciam o lugar", diz Robertson. "Outros artistas se hospedavam lá por conta da paisagem aberta e do céu azul. A decisão de deixar a Escócia não lhes parecia definitiva em 1914, mas então começou a guerra".

ROMANCE

O romance de Esther, que se passa nesse período, imagina uma amizade entre um menino de inclinações artísticas e o casal Mackintosh. O jovem narrador, Thomas, vive no Blue Anchor com sua família, que enfrenta dificuldades para ganhar a vida operando o pub.

"O fato de que Mac tivesse se hospedado lá me intrigou", diz Esther. "Eu queria escrever um romance que se passasse no pub, usando a edificação e sua história".

Não é a primeira vez que Esther usa a costa de Suffolk como ambiente para um romance, ou um arquiteto vivendo lá como personagem central. Em "The Sea House", ela fala sobre um refugiado judeu alemão que tenta restabelecer sua carreira arquitetônica na Inglaterra depois da Segunda Guerra Mundial.

Há um tema pessoal nisso? "Alguém certa vez escreveu em uma crítica que você descobre aquilo que realmente interessa a uma pessoa depois que ela publicou alguns livros", diz Esther. "Casas sempre me interessaram demais. Eu um dia pensei que gostaria de viver em todas as casas que existem".

DE FAMÍLIA

Pode ser que isso esteja em seu sangue. O arquiteto de "The Sea House" se baseava em seu avô paterno, Ernst Freud, um arquiteto bem sucedido que fugiu da Alemanha nazista para a Inglaterra em 1933, e lá retomou sua carreira. "Ele também viveu por muitos anos em Walberswick", diz Esther. "Há projetos dele por toda parte aqui, casas antigas que ele transformou em estruturas ao modo Bauhaus".

Mas Esther atribui seu interesse por casas ao fato de que nunca teve um lar permanente quando menina. Ela e sua irmã mais velha, a estilista de moda Bella Freud, passaram a infância perambulando. Os pais das duas não se casaram e, no pico do movimento hippie dos anos 1960, a mãe levou as meninas para viver no Marrocos, período que Esther transformou em ficção no seu aclamado primeiro romance, "Hideous Kinky".

"Nós não parávamos de nos mudar", conta Esther. "Isso transformou a busca da casa dos meus sonhos em uma obsessão. Mas eu na verdade adorava me mudar toda hora, o que tornou impossível encontrar a tal casa dos sonhos. É uma mistura engraçada".

"ANTIQUADO"

Decoração a entusiasma menos. Ela descreve seu estilo como "meio anos 1950, um pouco antiquado", e diz que gosta de procurar móveis de segunda mão, como o gaveteiro verde vitoriano que ela comprou no Portobello Market e colocou na cozinha de sua casa em Suffolk. E embora ela se importe com "a aparência das coisas", diz, em casa prefere manter sob controle seu desejo por beleza visual.

"Se meu escritório está realmente bagunçado, isso quer dizer que estou trabalhando", diz Esther. "Se a cozinha está desarrumada, é porque pessoas comem lá, vivem na casa".

Felizmente, ela precisou fazer muito poucas melhorias estéticas em sua casa de Walberswick. Quando ela era dona do antigo Blue Anchor, na casa do lado, os então proprietários da casa que agora é dela viviam reformando o imóvel.

"Eles arruinavam nossa vida", ela conta, rindo. "Mas agora não precisamos fazer muita coisa na casa".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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