Publicidade
11/05/2015 - 12h00

Busca por luz natural e circulação do ar pauta arquitetura brasileira, diz curador

DE SÃO PAULO

Carlos Eduardo França de Oliveira é um dos curadores da mostra "Casa Brasileira", que ilustra o jeito brasileiro de morar da colônia aos dias atuais. A abertura será no sábado (16) na Caixa Cultural, em São Paulo.

Com fotografia de Renato Negrão, a exposição conta com cerca de 60 obras de nomes como Ramos de Azevedo, Victor Dubugras, Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Oswaldo Bratke, João Batista Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi, Ruy Ohtake, Siegbert Zanettini, entre outros.

Algumas peças expostas são inéditas, como os desenhos originais de Hector Vigliecca para seus conjuntos habitacionais em Heliópolis (SP) e croquis das casas de madeira de Marcos Acayaba.

No dia 10 de junho, às 15h, Oliveira e Bruno Silveira Carvalho, também curador da mostra, ministram palestra sobre a história da casa brasileira.

Confira a entrevista de Oliveira à Folha.

*

Folha - Qual é a ideia do projeto?
Carlos Eduardo de Oliveira - O objetivo é contar parte da trajetória da habitação no Brasil, evidenciando momentos e aspectos emblemáticos desse longo processo de acúmulo de padrões do construir e morar. A ênfase está no trabalho e no traço dos mestres de obra e dos arquitetos, que, ao construírem moradias, acabam edificando, voluntariamente ou não, uma memória sobre nós mesmos.

Qual foi o critério da curadoria?
Um dos fios condutores da exposição é justamente o traço do mestre de obra e, posteriormente, do arquiteto, tidos aqui não só como idealizadores de casas e edifícios, mas também como criadores de um complexo imaginário que cerca o, aparentemente, prosaico ato de habitar. Por isso, as obras dispostas ao longo da exposição são, em boa parte, projetos, plantas, desenhos, croquis e maquetes. Coube ao fotógrafo Renato Negrão o empenho de forjar para os dias de hoje a essência de construções de outrora.

Quais fases da habitação brasileira são apresentadas?

Em termos cronológicos, a exposição contemplará os períodos da Colônia (casa térrea e sobrado), Império (casas de porão alto) e República (palacetes e vilas operárias), chegando até os dias de hoje, após a renovação modernista dos anos 1930.

O que influenciou a casa brasileira?
Falar desse assunto é pisar em um terreno, ao mesmo tempo, fascinante e repleto de armadilhas, e talvez a maior delas seja a própria noção de "casa brasileira". Seria um tipo ideal de residência com características tipicamente nossas? Ou seria mais prudente falarmos em "casas brasileiras"? De qualquer forma, podemos afirmar que a mescla das culturas europeia, árabe e indígena foi fundamental para a criação de um morar brasileiro. As moradias indígenas apresentavam um profundo expertise no que diz respeito ao aproveitamento de materiais da terra e do conforto térmico. Os portugueses, por sua vez, trouxeram a influência árabe do uso da água, dos solares, dos muxarabiês, das treliças e das áreas de passagem entre as áreas comuns e as de intimidade familiar. Muito disso se perdeu, sobretudo com o advento da industrialização do país no século 20.

O que é típico do morar brasileiro?
A busca por luz natural e circulação do ar, como no uso de brises e cobogós [blocos vazados de origem no Nordeste]..

E o que mais mudou?
A utilização dos espaços. Os cômodos da casa passaram a ter funções cada vez mais definidas, consolidando uma forma burguesa de morar. Esse tipo de divisão rígida foi questionada por boa parte dos arquitetos modernos, adeptos das plantas livres. Mesmo assim, ainda persiste uma certa rigidez na disposição e utilização dos ambientes.

Como definiria a "casa brasileira" hoje?
Sinceramente, caracterizaria como uma grande bagunça, para o bem e para o mal. Se, por um lado, há arquitetos que continuam buscando nos materiais e nas características climáticas uma arquitetura mais adequada ao país, por outro, há setores, especialmente da construção civil, mais preocupados com o lucro do que com a qualidade do construir e morar. A proliferação de apartamentos de alto padrão com "varandas gourmet" são exemplos claros da confusão que reina em nosso país entre qualidade e status social.

-

CASA BRASILEIRA
Quando de 16 de maio a 19 de julho, de terça a domingo
Horário das 9h às 19h
Onde Caixa Cultural São Paulo
Endereço Praça da Sé, 111, São Paulo
Entrada gratuita
www.caixacultural.com.br

 

Publicidade

 
Busca

Encontre um imóvel









pesquisa

Publicidade

 

Publicidade

 

Publicidade
Publicidade

Publicidade


Pixel tag