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06/06/2015 - 03h00

Renda define porta de entrada em prédios de área nobre de Manhattan

MIREYA NAVARRO
Do 'New York Times"

Uma nova torre envidraçada em Nova York causou indignação após construir uma entrada destinada aos proprietários de imóveis e outra aos inquilinos de baixa renda.

Mas a necessidade de atravessar a chamada "porta dos pobres" não desestimula quem busca um lugar a preço acessível para viver. Mais de 88 mil pessoas se inscreveram para as 55 unidades mais baratas do edifício, segundo a incorporadora.

"Há enorme demanda por moradia de alta qualidade e a preços acessíveis em bairros bonitos", disse Gary Barnett, presidente da incorporadora Extell Development Company.

A existência de entradas separadas nesse edifício no Upper West Side de Manhattan foi muito criticada no ano passado por autoridades e por ativistas da moradia popular, que apontaram trato discriminatório nessa configuração.

Apesar da polêmica, as pessoas estão ávidas por se mudar para lá. Os sorteios habitacionais usados pela prefeitura para distribuir apartamentos subsidiados em edifícios novos estão batendo sucessivos recordes de participantes desde que o sistema passou a permitir inscrições via internet, em 2013.

As loterias devem se multiplicar agora que o prefeito Bill de Blasio prometeu criar 80 mil novas unidades subsidiadas ao longo da próxima década.

Desde o começo deste ano, dez sorteios foram realizados, envolvendo 486 mil candidatos a 698 imóveis, segundo o Departamento de Preservação e Desenvolvimento Habitacional.

No caso do prédio da Extell, numa área nobre à beira do rio Hudson, podiam participar famílias com renda anual entre US$ 30.240 e US$ 50.340. Os aluguéis custam US$ 1.082 (dois dormitórios), US$ 895 (um dormitório) e US$ 833 (quitinete). Sem o subsídio, o valor de mercado para a locação num bairro como esse seria quase o triplo.

Para Barnett, a boa recepção mostra que a controvérsia envolvendo a "porta dos pobres" foi "uma polêmica artificial". "O importante é oferecer moradia a preços acessíveis", disse ele.

Ativistas da habitação popular se dividem a esse respeito. Alguns dizem que o foco deveria ser a construção de mais casas, não onde colocá-las. Apesar de muitos edifícios nova-iorquinos incluírem unidades de baixo custo, incorporadores como Barnett dizem que segregar os aluguéis em uma ala separada do prédio é preferível quando estão à venda unidades a preço de mercado, com melhores vistas e outros diferenciais, pois assim elas atingem valores maiores, permitindo que os incorporadores construam mais unidades a preços acessíveis.

Mas, no caso do edifício do Upper West Side, isso significa que os inquilinos mais pobres não têm acesso a piscina, academia, boliche e cinema privado, entre outras regalias oferecidas aos compradores que entram pela porta dos não pobres.

Os inquilinos de baixa renda terão uma lavanderia própria, uma área de convivência e uma garagem de bicicletas.

A empresa de Barnett constrói os imóveis para aluguel subsidiado em troca da liberdade de construir mais metros quadrados do que as leis municipais permitem, uma estratégia chamada zoneamento inclusivo. Pelas atuais regras, o incorporador é obrigado a oferecer entradas separadas se quiser unir os imóveis subsidiados e os que são vendidos a preços de mercado.

Mas a opção com duas portas, adotada numa minoria de novos projetos, não está de acordo com a posição política de De Blasio, e as autoridades cogitam alterar programas e códigos habitacionais para proibir essa prática. "Vamos alterar as regras. Não permitiremos entradas separadas com base na renda", disse Wiley Norvell, porta-voz do gabinete do prefeito.

O próprio sorteio deve ser revisto em breve. Um projeto de lei apresentado em abril na Câmara Municipal determina a criação de uma força-tarefa para rever o sistema e sugerir alterações. A Câmara poderá, por exemplo, modificar as regras para que os candidatos não percam seu lugar na fila se durante a espera houver alteração na sua renda ou status familiar, disse o vereador Mark Levine, autor da proposta.

Levine disse que também busca maneiras de proteger os incorporadores imobiliários de uma avalanche de pedidos ilegítimos de imóveis subsidiados, o que se tornou comum em meio à frenética caça por imóveis em Nova York. "A ideia de criar uma força-tarefa é para que possamos buscar formas de tornar o processo mais justo e mais fácil", disse ele.

A triagem de candidatos para o edifício com a "porta dos pobres" começou em maio.

Depois de serem aleatoriamente classificados, os milhares de candidatos que ocupam as primeiras colocações têm seus pedidos analisados. Cerca de 2.000 são chamados para entrevistas, dos quais são selecionadas 55 famílias que atendem aos requisitos de renda e de tamanho.

Há preferência para quem já vive na mesma área do novo prédio, para pessoas com deficiência e para funcionários municipais.

Os primeiros ganhadores devem começar a se mudar em agosto, segundo Barnett.

Por outro lado, a maioria dos 219 apartamentos de luxo já foi vendida, incluindo algumas unidades por mais de US$ 25 milhões.

 

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