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17/06/2015 - 07h30

Empresário constrói casa e escritório em árvores nos Estados Unidos

STEVE KURUTZ
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHOUGAL, WASHINGTON

Há pessoas que falam de largar tudo, deixar para trás a loucura da vida na cidade e pegar a estrada, mas ninguém realmente faz essas coisas. Exceto um cara: Foster Huntington.

Ele trabalhava em Nova York e tinha um futuro promissor na indústria da moda, mas decidiu cortar os elos e ir morar em uma casa na árvore.

"Eu poderia ter comprado uma casa", disse Huntington, 27, um sujeito de barba desgrenhada, "mas, para mim, isso é muito melhor. É como realizar um sonho de infância".

Desde o final do ano passado, Huntington mora entre abetos Douglas –árvore conífera comum na América do Norte– no topo de uma colina verdejante no sudoeste do Estado de Washington. É um lugar com terras planas e amplas e o vale de um rio de águas verdes. Uma serra adiante, ao sul, fica a garganta do rio Colúmbia. E à noite, de sua casa no topo de uma árvore, pode-se ver o brilho distante das luzes de Portland, Oregon.

Na verdade, ele tem duas casas em árvores: uma delas, que parece flutuar, Huntington chama de "estúdio"; já o "octógono" fica preso ao tronco de um abeto solitário. Huntington considera o estúdio como espaço de trabalho e o Octógono como quarto de dormir. A casinha construída por sua mãe, a 30 metros de distância, é sua fonte de eletricidade e encanamento.

Duas pontes, uma delas de cordas, conectam as estruturas lá no alto. Mais abaixo é possível ver uma sinuosa onda de concreto: é uma pista de skate.

Para chegar à casa no topo da árvore, ele corre por uma espécie de escada que se estende quase sem inclinação até uma outra árvore, na qual fica mais uma plataforma, e dela sai a ponte oscilante, de cordas, que conduz ao Octógono.

As duas casas contam com fornos a lenha, o que permite que Huntington durma por lá mesmo nas frias e tempestuosas noites de inverno da região noroeste. Janelas grandes se abrem e oferecem vistas diretas para as árvores.

Do lado de dentro, o espaço é acolhedor e bem iluminado, decorado em estilo que poderia ser definido como "jovem solteiro e rústico". Uma prateleira ao lado da porta guarda as câmeras e lentes de Huntington. Seu iMac está posicionado sobre uma mesa simples, contra uma parede, e, ao lado, há uma prancha de surfe.

Huntington construiu as duas casas no ano passado, ao longo de diversos meses, com a ajuda do que ele chama de "manos", um grupo de amigos. E contratou um empreiteiro para criar a pista de skate.

O lugar foi batizado de "Cinder Cone" [cone de cinzas], uma alusão ao fato de que as terras antigamente abrigavam um vulcão.

EMPRESÁRIO NA NATUREZA

Mas o Cinder Cone não serve para diversão em tempo integral. Huntington pode ter deixado Nova York, mas não abandonou a ambição ou o mundo da moda. Huntington é um empresário que vive na natureza e inventou a própria carreira. As casas de árvore são tanto moradia quanto um pano de fundo atraente para a publicidade de seus projetos.

Por algum tempo, ele ganhou a vida como consultor de mídia social para a Patagonia, fabricante de roupas para os adeptos da vida "outdoor", e colaborou com o grupo de serviços financeiros alemão Allianz e a fabricante de computadores HP, estrelando anúncios online que destacavam seu estilo de vida fora da grade.

Ele também trabalha como fotógrafo freelancer e responde pelo A Restless Transplant, um blog de viagens de aventura que criou em 2008.

Huntington posta fotos e vídeos do Cinder Cone para seus 965 mil seguidores no Instagram, e está trabalhando em um livro sobre o projeto –parte guia de como construir uma casa de árvore e parte livro de arte suntuosamente ilustrado. Ele planeja publicar o livro e vendê-lo em seu site.

NA ESTRADA

Um motivo para que Huntington construa casas de árvore, de fato, é que ele encontrou problemas para trabalhar em sua moradia anterior, uma casa sobre rodas com a qual ele percorria o oeste.

"Vivi na estrada por três anos", disse, "e foi maravilhoso. É uma maneira espetacular de viver. Mas trabalhar é difícil". Ele meneou a cabeça e pronunciou o lamento do nômade do século 21: "Nem sempre a Internet é confiável".

Quatro anos atrás, Huntington estava trabalhando como estilista da linha masculina da grife Ralph Lauren. Era parte de uma equipe que lidava com design conceitual, desenvolvendo histórias, temas e apresentações para cada coleção –por exemplo, os pilotos de aluguel do Alasca, e seu mundo rústico e repleto de estilo.

Foi seu primeiro emprego ao deixar a universidade, e ele inicialmente o via como divertido e como um desafio em termos de criatividade. Mas, passados 18 meses, percebeu que não ligava tanto assim para roupas.

"Lembro-me de ficar olhando para fotos dos pilotos do Alasca e pensar que eu também sabia tirar fotos, e que não queria viver na cidade. Queria fazer algo diferente", diz.

Para os nova-iorquinos, deixar a cidade pode ser um processo longo, doloroso e, em alguns casos, jamais concluído.

Já no caso de Huntington, a partida foi decisiva, diz Phillip Annand, amigo dele e diretor da Madbury Club, uma agência de criação em Nova York.

Huntington disse que sabia que cada ano passado na Ralph Lauren tornaria mais difícil sair. "Eu estaria ganhando mais e mais dinheiro", ele diz, "o que significa que teria apartamentos cada vez melhores, e deixar o emprego seria mais difícil".

Ele acreditava que em dois anos seria possível poupar o bastante para comprar um furgão usado e deixar o emprego. Mas então a editora HarperCollins lhe pagou um adiantamento de dezenas de milhares de dólares para transformar o blog Burning House, que ele criou em 2008, em livro; o conceito do blog era perguntar às pessoas o que levariam com elas caso suas casas se incendiassem.

"Eu jamais havia tido tanto dinheiro", disse Huntington. "E pensei que poderia comprar um furgão e viver um ano, com aquele dinheiro".

BURRITOS

Em julho de 2011, ele viajou a Reno, Nevada, e comprou um Volkswagen Vanagon 1987, e foi no furgão até as terras em que viria a construir sua casa, em Washington.

Os pais de Huntington, corretores de imóveis que gostam da vida ao ar livre, haviam adquirido as terras anos antes; elas ficam a alguns quilômetros da rústica casa de madeira em que Huntington foi criado. Quando voltou a Nova York, Huntington anunciou sua demissão.

"Voei para cá e imediatamente saí em viagem de carro com meu irmão", ele diz. "Depois, viajei para a Califórnia, dirigindo costa acima e costa abaixo".

Ele comia em restaurantes mexicanos baratos, ou cozinhava na traseira do veículo. Para economizar na gasolina, passava semanas estacionado em praias da Baja California ou acampamentos na Sierra Nevada.

As fotos da experiência se transformaram no livro "Home is Where You Park It" [sua casa fica onde você estaciona], cuja publicação ele bancou com a ajuda de uma campanha no Kickstarter que arrecadou mais de US$ 65 mil. Ele vende o livro por US$ 65 em seu site.

Mas quando cansou de comer burritos e de acesso Wi-Fi precário, Huntington ligou para Tucker Gorman, seu colega de faculdade que é construtor e que estava vivendo em um veleiro na baía de San Francisco.

"Um dia Foster ligou e disse, 'cara, quero construir umas casas de árvore no Cinder Cone'", conta Gorman.

EXÉRCITO

Recentemente, Huntington recebeu Ned Siegel e Kai Korsmo, membros da equipe de construção das casas, para ajudar em seu mais recente projeto: um chuveiro a céu aberto que acompanharia a banheira de água quente ao ar livre e aquecida a lenha.

É difícil compreender como Huntington, um sujeito reservado e tranquilo em pessoa, consegue formar pequenos exércitos de amigos para construir as coisas com que sonha. "Não formei um culto", ele diz sobre a construção das casas na árvore. "É capitalismo. Pago o salário de mercado".

O fato de que o projeto seja tão bacana também influencia, diz Gorman. Receber a tarefa de colocar o telhado do Octógono em um dia de ventania significou trabalho árduo, e assustador, ele diz, "mas a vista era incrível, em todas as direções. Certamente foi um trabalho de sonho".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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