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26/07/2015 - 01h30

Viver em condomínio não significa virar as costas para a cidade, diz especialista

DOUGLAS GAVRAS
DE SÃO PAULO

CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS

Para o arquiteto e urbanista norte-americano Matthew Lasner, 40, especialista em condomínios horizontais, embora a promessa de morar em um local com mais áreas verdes e segurança seja sedutora, as pessoas que se mudam para um condomínio horizontal devem se preparar para se engajar na vida em comunidade.

Autor de "High Life: Condo Living in the Suburban Century" (A vida em condomínio no século suburbano, em tradução livre), livro em que discute as particularidades da vida em condomínios, Lasner defende, que os empreendimentos podem inspirar a cidade a pensar em mais áreas de lazer.

Divulgação
O urbanista norte-americano Matthew Gordon Lasner
O urbanista norte-americano Matthew Gordon Lasner

Recentemente, ele assinou um artigo no jornal "The New York Times" em que defende que o condomínio do século 21 deve se reinventar para ser um espaço seguro de convivência das famílias, sem deixar de se perceber como parte atuante da cidade em que está inserido.

À Folha, Lasner, que também é professor de planejamento urbano no Hunter College, em Nova York, disse que os condomínios horizontais são fruto de um conjunto de expectativas das pessoas, que querem locais mais tranquilos para criar seus filhos. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

*

Folha - O que uma família procura ao trocar a cidade por um condomínio afastado?
Matthew Lasner - Quando as pessoas migram para essas comunidades, elas estão em busca de quase sempre a mesma coisa: segurança e estabilidade, especialmente na criação dos filhos. Elas querem isolar seus filhos (e a si mesmas) dos problemas de uma cidade, como pobreza, criminalidade, poluição.

É como uma promessa de qualidade de vida?
Sim. As pessoas procuram um ambiente em que sentem que podem confiar nos vizinhos, viver perto de pessoas com interesses similares aos seus. Embora condomínios no interior também possam ter problemas com criminalidade, os portões e o espaço verde oferecem uma promessa de proteção -e essa promessa é muito sedutora.

Boris Spremo/Getty Images
Condomínio do arquiteto Paul Rudolph, no Estado de Nova York
Condomínio do arquiteto Paul Rudolph, no Estado de Nova York

A arquitetura pode pensar em projetos menos previsíveis para essas regiões?
Arquitetos tendem a adorar projetar condomínios. Qualquer tipo de complexo que reunirá muitas famílias é uma oportunidade para o design criativo.

Há exemplos bem sucedidos desse tipo nos Estados Unidos no século 20, sobretudo os feitos nas décadas de 1960 e 1970. São locais que integraram de forma positiva a parte interna com a cidade ao redor. O problema é que, para cada profissional que se incomoda com a mesmice, há dez que optam por fazer mais do mesmo.

Os problemas dos condomínios urbanos são os mesmos nesses empreendimentos?
Os problemas básicos são os mesmos. Morar em um condomínio cria obrigações, e muitos proprietários se recusam a reconhecer que são responsáveis pela governança comunitária e manutenção das áreas comuns. Nesse sentido, podemos pensar em condomínios horizontais como um reflexo da sociedade.

Mas há problemas característicos dos condomínios horizontais, já que eles tendem a atrair mais famílias com crianças. Como qualquer pessoa que aluga imóveis sabe, as crianças tendem a causar uma série de danos e conviver com muitas delas numa mesma rua exige paciência.

Crianças que crescem nesses empreendimentos têm uma visão diferente do mundo?
As crianças tendem a adotar os valores de seus pais. Se eles decidem se mudar para um condomínio horizontal apenas por medo da violência nas cidades e desejo de viver ao lado de famílias parecidas com a sua, as crianças vão assumir esse tipo de atitude antissocial. Alguns pais também acreditam que os filhos podem agir como quiserem no condomínio e eles crescem sem limites.

É possível evitar isso?
Sim. Se a família opta por morar em um desses empreendimentos mais afastados das grandes cidades simplesmente porque quer viver em uma casa com jardim, numa rua tranquila, e continua atenta aos problemas urbanos e da relação da comunidade com o resto do mundo, as crianças podem se tornar bons cidadãos.

Mas a vida nesses locais acaba isolando os moradores?
Quando vivemos em comunidades fechadas, é fácil esquecer que somos parte de uma sociedade metropolitana, parece que não é mais preciso se preocupar com aquelas questões de pobreza, poluição e congestionamentos, que deixamos na cidade.

Ao mesmo tempo, existem exemplos nos Estados Unidos de condomínios horizontais muito politizados. Alguns complexos habitacionais para a classe média no interior e pequenas cidades planejadas acabaram atraindo muitas famílias com pensamento liberal e engajamento social.

E as cidades podem aprender com as experiências positivas dos condomínios do interior?
A popularidade dos condomínios horizontais revela quais são as preferências de pessoas que hoje moram em regiões metropolitanas, e pode desafiar as cidades a se tornarem mais seguras e oferecerem mais áreas verdes.

Um condomínio horizontal, dessa forma, incentivaria uma cidade densamente povoada e cheia de carros (como São Paulo, Rio e Nova York), a pensar mais criativamente sobre como oferecer às famílias de classe média o tipo de vida que elas querem ter.

Em uma cidade cara, como Nova York, isso também significa oferecer habitação mais barata para famílias de classe média e renda baixa.

 

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