Novos prédios têm carro, bicicleta e até imóvel para uso coletivo
LAURA LEWER
DE SÃO PAULO
Você precisa de uma furadeira, mas não quer comprar uma. Gosta de ter a opção de andar de carro, mas só de vez em quando. Pensa em trabalhar fora do escritório, porém não tem espaço em casa. Nada disso é um problema se você morar em um condomínio com serviços compartilhados.
Tendência já consolidada em diferentes setores, como transporte (com o aplicativo Uber) e aluguel de temporada (com o site Airbnb), a economia compartilhada chegou ao prédios residenciais.
Exemplo disso é um dos prédios recém-lançados pela construtora Gafisa em São Paulo. Com entrega prevista para 2018, o Smart Santa Cecília terá bike e car sharing expressões usadas para descrever estações com bicicleta ou carro de uso comum.
Divulgação | ||
Projeto de imóvel compartilhado do edifício Smart Santa Cecília, no centro de SP |
Além disso, os prédios terão um apartamento coletivo. Mediante o pagamento de uma taxa definida pela administração do condomínio, o morador poderá receber hóspedes no imóvel, decorado pela construtora. O prédio ainda tem unidades à venda, a partir de R$ 198 mil (26 m²).
ÁREAS COMUNS
Não é de hoje que os condomínios têm espaços coletivos, mas antes eles ficavam restritos às piscinas, salões de jogos e churrasqueiras, explica a economista e professora da ESPM, Neusa Souza.
"É muito acertado as incorporadoras oferecerem outras oportunidades de compartilhamento. O comportamento social passou a ser mais sustentável e repensou os padrões de consumo", afirma.
Outra incorporadora que aposta no conceito, em São Paulo, é a Vitacon. Além de bicicleta e carro compartilhados, os prédios da empresa vêm com caixa de ferramentas e salas de "coworking".
"Faz parte de uma mudança social. As pessoas estão menos apegadas à ideia de ter coisas e buscam uma eficiência maior nos recursos", afirma o CEO da empresa, Alexandre Lafer Frankel.
A analista de RH Camila Barossi, 26, se mudou há pouco mais de um mês para um apartamento no Vox Vila Olímpia, que tem estação de bicicletas e lavanderia coletiva. Os serviços contaram na hora de ela decidir pela compra do imóvel.
"Eu não tenho carro e, quando precisar, terei uma bicicleta à disposição. Vou andando para o trabalho e agora pretendo ir de bike", diz ela, que também quer usar a lavanderia coletiva.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Camila Barossi, 26, moradora do Vox Vila Olímpia, que tem lavanderia e bicicletas coletivas |
Morador do mesmo prédio, o contador Jean Rodrigo, 27, conta que o valor da lavanderia vem embutido no condomínio. "Se eu fosse comprar uma lavadora e uma bicicleta, gastaria muito mais."
TENDÊNCIA SEM VOLTA
Para Gustavo Reis, gerente de marketing da Tecnisa, o condomínio compartilhado é uma tendência sem volta.
"Existe um movimento de conscientização nesse sentido. Há todo um debate em torno da mobilidade urbana com as novas ciclovias."
A incorporadora tem seis empreendimentos na capital com bike e "car sharing".
Apesar de sempre existir, o ato de compartilhar objetos foi potencializado recentemente, de acordo com Souza. Um dos motores do compartilhamento é a tecnologia, que facilita a prática por meio de sites e aplicativos.
Seguindo essa lógica, a Gafisa pretende lançar um aplicativo para os futuros moradores do Smart Santa Cecília se comunicarem.
"Eles podem anunciar objetos que querem compartilhar e também pedir algo de que precisam, desde uma furadeira até a indicação de uma diarista", diz o diretor da Gafisa Octavio Flores.
Segundo ele, graças ao compartilhamento os moradores vão se livrar de gastos como IPVA, seguro de carro e hotel para parentes.
Para Souza, o grande desafio da economia compartilhada é a aplicação em larga escala. "Para atingir a massa é preciso mudar a percepção das pessoas", diz. Para ela, ainda existe a impressão de que as garantias de se compartilhar são poucas e os riscos são grandes, o que, na maior parte das vezes, não é verdade.
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