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14/02/2016 - 01h00

Farol escondido no Jaguaré revela vista da zona oeste de São Paulo

MATEUS LUIZ DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um farol de 23 metros no topo de uma montanha –hoje a rua Salatiel Campos, 249– é o principal patrimônio do bairro do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. São 84 degraus que levam a uma vista privilegiada da cidade.

Em 360º é possível observar a marginal Pinheiros, a raia olímpica da Cidade Universitária, os bairros de Pinheiros, Alto da Lapa e Vila Leopoldina, também na zona oeste, parte da cidade de Osasco e o pico do Jaraguá.

Raquel Cunha/Folhapress
Farol do Jaguaré, na rua Salatiel Campos, 249, fica aberto para visitação aos sábados
Farol do Jaguaré, na rua Salatiel Campos, 249, fica aberto para visitação aos sábados

A história do farol e da região remetem ao sobrinho de Santos Dumont, o engenheiro Henrique Dumont Villares, que, em 1935, comprou terras naquele local.

Como a cidade passava por um processo de industrialização e necessitava de novos endereços fabris, o engenheiro planejou um bairro de galpões. Loteou o terreno e ofereceu a indústrias.

Em uma viagem que fez à Europa, no início dos anos 1940, Villares se encantou por um farol e quis erguer um semelhante no bairro recém-inaugurado.

Entre os moradores antigos, há a lenda de que o engenheiro acreditava que o rio Pinheiros seria navegável, e o farol serviria de orientação.

Em 1943, a construção estava pronta. Nas décadas seguintes, o Jaguaré atraiu diversas indústrias, como a alimentícia Bunge, que se instalou por lá em 1962.

O bairro também passou a abrigar muitos trabalhadores dessas empresas, que ocuparam um terreno abandonado da prefeitura dando origem à favela Nova Jaguaré.

BADALADAS

No topo do farol há um relógio que não funciona mais. Porém, quando o artesão Luiz Bernardino, 58, era criança, nos anos 1960, ouvia as badaladas de sua casa no Rio Pequeno, bairro vizinho onde passou a infância.

Bernardino viveu um tempo fora de São Paulo e retornou à cidade em 2010. Nessa época, comprou uma casa a 150 metros do relógio, que até então só tinha visto de longe. No ano passado, subiu no mirante pela primeira vez. "Realizei um sonho que tinha há 50 anos", conta.

Apesar de ser tombado pelo Conpresp (órgão municipal que cuida do patrimônio histórico) desde 2004, o imóvel está mal conservado. O reboco está solto em vários trechos, a água se acumula nas escadas e lá no topo as estruturas estão sujas.

"O farol tem um grande potencial turístico, mas não é aproveitado. São Paulo não sai do circuito centro-Paulista-Vila Madalena", afirma Douglas Nascimento, pesquisador e criador do site São Paulo Antiga.

A subprefeitura da Lapa diz que a administração do farol é particular e que não é responsável pela manutenção do local. A prefeitura não informa de quem é a gestão. A Associação de Moradores Amigos do Jaguaré, que já fez melhorias no prédio, diz que não cuida mais da área.

É possível visitar a construção, mas não há placas indicando como acessá-la.

"O farol é tão escondido que nem familiares de Henrique Dummont Villares conhecem essa história", diz Bruna Callegari, cineasta e diretora do curta-metragem "O Farol Invisível", em fase final de produção. O filme vai contar a rotina e as histórias de moradores que vivem no entorno da construção.

Quando cursava jornalismo, Bruna teve que fazer um ensaio fotográfico de um cartão-postal da cidade.

"Eu não aguentava mais tirar fotos da avenida Paulista e dos prédios do Centro. Foi então que um amigo disse que tinha um lugar incrível para me mostrar: o farol do Jaguaré. Desde então, sou apaixonada por lá."

Apesar de ser moradora de Pinheiros, ela criou uma ligação tão forte com o bairro que até seu mestrado em arquitetura na Universidade de São Paulo envolve o farol. No trabalho, ela pesquisa a relação entre paisagem e sociedade usando como ponto de partida o patrimônio histórico. (MATEUS LUIZ DE SOUZA)

 

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