Colônia do Leste Europeu, Vila Prudente tem feira e bares típicos
DHIEGO MAIA
DE SÃO PAULO
Assim como a Liberdade (na região central) é o reduto de japoneses em São Paulo, o distrito de Vila Prudente (zona leste) é considerado um pedacinho do Leste Europeu na capital paulista.
Os sinais disso estão por todos os lados. Na Vila Zelina, a praça Púchkin (1799-1837) presta uma homenagem ao poeta russo Alexander Púchkin. Igrejas ortodoxas, como a paróquia russa Santíssima Trindade, estão espalhadas pelo bairro. E tem até imobiliária com o nome de cidade da Lituânia (Kaunas).
A primeira leva de imigrantes de países do Leste Europeu rumo ao distrito ocorreu no final dos anos 1920. O interesse pela região era financeiro: fábricas instaladas no local estavam de portas abertas para estrangeiros.
Mas foi um corretor russo que já vivia no Brasil que facilitou a concentração dos imigrantes na região, conta o vice-presidente da Amoviza (associação dos moradores de Vila Zelina), Antonio Viotto Netto, 69.
"Um loteamento foi aberto, e Carlos Korkisko fez a ponte com os imigrantes. Assim nasceu a Vila Zelina."
A presença de descendentes do Leste Europeu contribuiu para a criação de bares, restaurantes e festivais que disseminam a gastronomia, a arte e a cultura típicas.
Na rotisseria Delícias Mil (rua Monsenhor Pio Ragazinskas, 17), comandada há quase 40 anos pela matriarca lituana Helena Trinkunas Dizigan, 71, há desde biscoitos amanteigados de Páscoa até virtiniai (ravióli caseiro).
"A colônia é muito grande. Quando saio para fazer compras, nem preciso levar dinheiro. O bairro inteiro é uma família", afirma.
No Bar São Vito (avenida Zelina, 851), a pedida é a carne de vaca acompanhada de mostarda escura com pão francês –iguaria da Lituânia.
O bairro tem também casas de comida brasileira, como a Santa Coxinha, na praça República Lituânia, que serve 50 variedades do salgado.
A região ainda promove todo mês uma feira com artesanato, comidas e apresentação de grupos folclóricos. A decoradora Márcia Tuskenis, 52, expõe ovos de galinha pintados com símbolos ucranianos e lituanos na feira.
"Aprendi a técnica não só para lucrar, mas para não deixar a tradição morrer", diz ela, que é neta de lituanos. O próximo evento será no dia 13 de março, na rua Aracati Mirim.
CONFLITO
A paz que impera no distrito quase foi quebrada em 2013, quando a Amoviza propôs decorar os orelhões com matrioskas (boneca russa).
A proposta dividiu as comunidades que não se sentiram representadas, e criou um clima de "Guerra Fria" por lá, diz Tamara Dimitrov, 54, líder do Volga, grupo de dança russo.
"Acho que isso daria um valor cultural à região, como é hoje na Liberdade." O projeto foi engavetado e a paz retornou.
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