Análise: Após três anos de alta, preço de imóvel pode cair a partir dos próximos meses
LUIZ CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Atualizado em 04/07/2011 às 15h10.
Um esquilo busca avidamente sua noz na animação "A Era do Gelo". Com a mesma obstinação, muitos focam cegamente a realização do sonho da casa própria. Mas, considerando o atual nível de preços dos imóveis, é mais vantajoso comprar ou alugar?
A decisão é complexa porque extrapola a esfera das finanças -que já é complicada. Emocional, a decisão tem como pano de fundo as sensações de status e segurança.
Do ponto de vista financeiro, as condições atuais tornam o aluguel mais vantajoso, já que o reajuste não acompanhou a valorização abrupta dos imóveis.
Hoje é possível alugar um residencial por menos de 0,6% do preço de mercado do imóvel. Considerando uma aplicação (CDB, fundo DI ou Tesouro Direto, por exemplo), com rendimento de 0,85%, já descontados os impostos, quem tem no bolso o suficiente para pagar o imóvel à vista pode, em vez de comprar, alugar um local semelhante e obter ganho.
Além disso, quem compra agora pode cometer o grave erro de comprar na "alta". Os preços dos imóveis também estão sujeitos a oscilações.
Após três anos de aumentos consecutivos, já estamos perto do ápice da valorização. Ou seja, os valores dos imóveis podem cair nos próximos meses.
Outro fator a ponderar na compra são os custos de transação (como cartório e impostos), que chegam a 6% do valor do bem. Caso o período de ocupação for inferior a sete anos, não haverá tempo para diluir esses custos, que são cobrados à vista.
Tudo isso não significa que a compra de um imóvel no atual cenário é, por definição, ruim.
Trata-se de um sonho que todos, em algum momento da vida, queremos realizar. No entanto, é preciso evitar a precipitação do esquilo que deseja sua noz a qualquer custo. Sobretudo em períodos de preços elevados, como o atual, a compra pode não ser a melhor opção para quem quer ver seu patrimônio crescer, e alugar, a fim de aproveitar um momento mais adequado, poderá proporcionar um melhor negócio no futuro.
Ademais, como o imóvel costuma ser o bem mais caro que adquirimos durante a vida, é bastante comum o uso de financiamento. Muitas vezes, na hora de assinar o contrato, não se leva em conta o preparo e a disciplina necessários para honrar as parcelas em dia. O que potencializa o risco de uma catástrofe financeira, sob pena de deixar outros sonhos de lado ou conviver com o pesadelo de uma dívida inadimplente.
Lembre-se, aquele esquilo luta ansiosamente pela noz, sem sequer olhar ao seu redor. Quando a consegue, arruína tudo ao seu lado. Por isso, é preciso ter calma para avaliar a situação. Ninguém deseja ver suas finanças entrarem na era do gelo.
LUIZ CALADO é vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças e autor de "Imóveis" (ed. Saraiva)
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