Concentração de áreas verdes cria 'apartheid vegetal'
CARLOS ARTHUR FRANÇA
DE SÃO PAULO
Quando o critério é a cobertura verde dentro da malha urbana, a capital paulista poderia ser dividida em duas: a verde oeste e a cinza leste.
"É como se houvesse um `apartheid vegetal'", sentencia o pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Paulo Pellegrino. "As marginais formam um corredor verde do Morumbi até Pacaembu e Perdizes."
Dos 10 distritos com maior cobertura vegetal por habitante em que houve lançamentos imobiliários nos últimos quatro anos, 7 ficam do lado esquerdo da capital.
Do lado direito dessa linha imaginária que cortaria a cidade longitudinalmente a partir do centro, estão 15 dos 20 distritos com menor arborização da cidade.
Como área verde, estão computadas tanto reservas naturais e parques como árvores e gramados nos passeios públicos. Os dados são da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente cruzados com o censo demográfico de 2010.
Por trás de regiões com praças e árvores está o planejamento urbano. Áreas como Alto de Pinheiros e Pacaembu foram loteadas pela empresa Companhia City com o conceito de "bairros-jardins".
Já na zona leste, a ocupação desordenada é a maior responsável pela falta de verde, diz a pesquisadora Sandra Gomes, do Centro de Estudos da Metrópole.
AR FRESCO
Com árvores nas ruas, além de espaço de convivência, ganha-se também com temperaturas mais baixas.
"Se você pegar um mapa termal da cidade, vai ver que os pontos mais frescos coincidem com parques como o Ibirapuera", explica Neli Aparecida de Mello-Théry, pesquisadora de Gestão Ambiental da USP.
A vegetação também permite a infiltração da água no solo, reduzindo a chance de enchentes, pontua Juliana da Costa, pesquisadora da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Onde não há praças ou canteiros, a desapropriação de terrenos para criar áreas verdes é cara e demorada, avalia Sandra Gomes.
Diogo Shiraiwa/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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