Lição do primeiro fracasso alimenta futuro sucesso
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO
Fechar as portas traz mais do que experiências e sentimentos negativos. Muitas vezes, os erros da primeira empresa serão os propulsores do sucesso da segunda ou das demais, avaliam especialistas em empreendedorismo.
É raro acertar o modelo [de início], sem nenhuma história de fracasso durante o processo, ressalta Juliano Seabra, diretor de educação e pesquisa do Instituto Endeavor Brasil, ONG que promove o empreendedorismo.
Eduardo Ourivio, 44, abriu o primeiro restaurante no começo da década de 1990. No início, diz ele, foi muito bem.
Com sócios, montou mais nove pontos dois com o mesmo nome e outros sete.
Para abrir novas unidades, tomávamos dinheiro emprestado e ficamos com uma dívida que custava, em média, 5,5% [em juros] ao mês.
No fim da década, ele sentiu o mercado piorar e as vendas diminuírem. Quebramos, foi horrível, recorda.
Para Ourivio, o Spoleto, rede de alimentação do qual é sócio, é consequência de erros e acertos anteriores.
O fato de termos tido várias operações ajudou, pois aproveitamos o melhor de cada uma delas, analisa.
ESGOTAMENTO
É evidente que ninguém quer fracassar, mas quem experimenta ganha com isso, diz Luiz Barreto, presidente do Sebrae Nacional (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
A morte de negócios é normal, afirma. Há rotatividade natural, esgotamento e aumento de concorrência o mercado tem regulações naturais, considera Barreto.
Mas, independentemente dos motivos, os empresários que fracassam são penalizados socialmente, afirma ele. A família vira o rosto: ih, esse cara não deu certo.
Isso não acontece em países com cultura empreendedora mais forte, como os Estados Unidos, segundo ele.
Aimar de Paula, 41, está no sexto negócio e parece não se importar com a avaliação feita sobre suas experiências.
Luiza Sigulem/Folhapress |
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Aimar de Paula abriu uma empresa de 'Personal Chef', e antes disso teve quatro restaurantes |
Aos 18, teve escola de música. Depois, abriu quatro restaurantes. Alguns fecharam por desentendimento de sócios e outros, por mau planejamento ou má localização.
Achava que era só ter talento, bom produto e vontade de trabalhar. [Mas] é preciso dominar fluxo de caixa e outras variáveis", avalia
.
Há um ano, ele abriu empresa de "personal chef", que tem um funcionário e atende a clientes que queiram refeições personalizadas.
FRUSTRAÇÃO
Há dez anos, Roberto Miranda, 38, foi abordado por um oficial de Justiça em casa. A visita era para tomar um veículo do então empresário, que acumulava dívidas e não tinha recursos para pagar nem a conta de energia.
[Ele] falou para tirar os pertences [do automóvel]. Fiquei com os óculos escuros e os CDs vendo meu carro ir embora, lembra.
Esse foi um dos momentos mais dramáticos da vida profissional de Miranda, que sempre quis ser empresário.
Em 1991, abriu uma agência de promotores de venda.
A empresa cresceu, chegou a ter 40 empregados, mas erros estratégicos o fizeram perder clientes e receita. A solução foi trabalhar como empregado tornou-se gerente de marketing.
Foi desastroso. Eu não sabia ser funcionário, reflete ele, que foi demitido um ano depois. Hoje dono de uma escola de hotelaria, diz que a experiência foi traumática, mas tem orgulho de contá-la.
Sentimento de perda e frustração são as principais emoções que empresários experimentam ao fechar um negócio, segundo pesquisa do Sebrae-SP (leia abaixo).
Para o professor de estratégia do Insper David Kallás, um dos motivos é o apego, que cresce com o tempo.
AVALIAÇÃO
O professor de empreendedorismo do Ibmec João Bonomo diz que, após a sensação de derrota, empresários fazem autoanálise para tentar entender os erros.
Para a experiência, fracasso vale mais do que sucesso, mas ninguém quer se expor com isso, diz.
Depois de fechar uma empresa de comércio eletrônico de pneus e rodas importadas, Roberto Andrade, 30, abriu outras duas de impressão em 3D e de aplicativos.
Minha maior motivação é provar para mim que consigo ser meu próprio chefe.
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