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27/03/2012 - 07h05

De feirante a sócio-diretor

KATIA CALSAVARA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Muito da minha determinação se deve ao meu pai. Ele sempre foi rígido e exigia de mim atitudes "de homem" desde criança. Quando eu queria um brinquedo, me desafiava a encontrar uma maneira honesta de conseguir pelas minhas próprias mãos.

Eu ficava triste em ver que meus amigos tinham tudo o que pediam e eu não, embora não faltasse nada em casa. Meu pai era representante comercial de bebidas alcoólicas e minha mãe, costureira.

Meu primeiro trabalho, por volta dos 12 anos, foi como descascador de alho [em um armazém]. Fazia isso para poder comprar brinquedos que meu pai se recusava a me dar. Voltava para casa com as mãos corroídas pelo ácido do alho.

Depois de um ano, fui trabalhar em uma barraca de batatas na feira. Minha função era atrair a clientela, e a barraca enchia de vovozinhas. Eu saía dali com terra por todo lado, até nas orelhas.

Marcelo Justo/Folhapress
Vitor Almeida virou sócio da BDO, empresa de consultoria
Vitor Almeida virou sócio da BDO, empresa de consultoria

Como a feira era só às quartas, arrumei outro emprego em uma mercearia. Durante um ano juntei dinheiro e fui comprando, aos poucos, as partes de uma bicicleta. Quando finalmente consegui montá-la, meu pai me elogiou e disse que eu já era um homem. Tinha uns 15 anos.

Nessa época, fui trabalhar em um escritório de contabilidade que atendia às barracas do Mercado Municipal. Eu fazia o leva e traz de documentos, era rápido e elogiado na frente dos outros garotos, que chegaram a fazer uma roda para me bater. O dono percebeu e me levou para organizar documentos. Fiquei quase um ano em uma sala fechada e sem janela.

Depois, fui para o departamento pessoal, onde comecei a aprender coisas relacionadas à contabilidade, como cálculo e guias.

Eu queria fazer o curso de direito, mas meu salário não pagava a faculdade. Após muita insistência da minha mãe, meu pai se esforçou para pagar metade das mensalidades por seis meses. Consegui um estágio em uma empresa de auditoria chamada Terco, onde fiquei por cerca de seis anos.

Depois, fui para uma consultoria de negócios, a KPMG.

Trabalhava como gerente e estava sendo ameaçado de demissão caso não conseguisse falar inglês. Juntei os trocados que tinha e paguei um curso [de inglês] de três meses na Austrália.

Paguei tudo, mas não tinha dinheiro para me manter lá. Não falei isso para ninguém. Meu chefe percebeu e me emprestou US$ 3.000.

Na Austrália, eu ficava o tempo todo estudando. Assistia a filmes em inglês com legendas no mesmo idioma e grifava em um dicionário as palavras que não sabia. Se voltasse a procurá-las, era porque eu era burro e não estava aprendendo.

Voltei e passei em uma prova de negócios extremamente difícil. Depois, saí da KPMG para advogar.

ARROGÂNCIA

Por ter conseguido tantas coisas, nessa fase me tornei uma pessoa arrogante. Fui derrubado do pedestal. Sofri muito e voltei a ser quase um estagiário.

Aos poucos fui melhorando meu jeito de lidar com as pessoas. Em 2004, o Raul Corrêa da Silva, que era presidente da Terco, me chamou para trabalhar na BDO quando o escritório devia ter umas 20 pessoas. Ajudei a construir um departamento e hoje sou um dos sócios-diretores da empresa.

Busquei e ainda busco ser mais humilde e acredito que minha real função é ensinar os que chegam à profissão, além de atuar como um gerador de oportunidades.

 

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