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21/11/2013 - 13h02

Pequenas empresas usam softwares para criar a comida do futuro

NICK BILTON
DO "NEW YORK TIMES"

Megan Miller sabe que baratas contêm muita proteína, e diz que é possível fazer com elas um prato surpreendentemente saboroso. Mas se essa declaração é vanguardista demais para que você acredite, será que gostaria de comer grilos caso eles fossem "pulverizados de forma a que você não possa ver suas pernas e asas?"

Miller acredita que sua resposta seria positiva.

Ela é um dos fundadores da Chirp Farms, uma empresa iniciante de San Francisco cuja missão é produzir alimentos como as barras Chirp, vendidas a US$ 2,50 e feitas de grilos. Elas devem chegar às lojas no ano que vem.

Jim Wilson - 16.out.2013/The New York Times
Josh Tetrick é fundador e presidente-executivo da Hampton Creek Foods, que usa plantas para fabricar alimentos que imitam o sabor dos ovos
A Hampton Creek Foods usa plantas para fabricar alimentos que imitam o sabor dos ovos

Embora produzir alimentos com insetos como ingredientes possa parecer fascinante --ou nojento--, a abordagem que Miller adotou, a de tratar a Chirp Farms como uma companhia de tecnologia e não de alimentos, é o que realmente torna a empresa interessante.

"Minha formação é no campo de desenvolvimento de produtos digitais", disse Miller em entrevista. "Emprego o mesmo tipo de pensamento que usava em start-ups de tecnologia para construir essa companhia no ramo de alimentos". Além de criar a Chirp Farms, ela é diretora de pesquisa e desenvolvimento da editora Bonnier.

Embora número crescente de empresas iniciantes como a Chirp Farms tenham recebido dinheiro das grandes companhias de capital de risco, não está bem claro exatamente como empresas novas como a de Miller planejam concorrer com as bem estabelecidas gigantes do setor de alimentos.

Mesmo assim, elas não se deixam abater. O que veem é um mercado imenso e que se move lentamente, e parece estar implorando para ser invadido por alguém que tenha ideias novas e proponha novas maneiras de construir um negócio.

"O que está acontecendo no momento é que o Vale do Silício está começando a ver oportunidades de perturbar o status quo em outras áreas, para além da tecnologia tradicional", diz Miller.

Se isso soa familiar, é porque já aconteceu. Da mesma forma que a tecnologia atacou o setor de música, primeiro com o Napster e depois com serviços como o iTunes e o Spotify; da mesma forma que a Amazon.com tomou o setor de livros, e mais tarde todo o setor de varejo; e da mesma forma que o Craigslist tomou o mercado dos anúncios classificados tradicionais, esses novos fabricantes de alimentos acreditam que não seja absurdo imaginar que a indústria da comida pode ser derrubada.

"O sistema de alimentação é bizarro e ineficiente, e completamente desprovido de inovação", diz Josh Tetrick, fundador e presidente-executivo da Hampton Creek Foods, que usa plantas para fabricar alimentos que imitam o sabor dos ovos.

MENOS É MAIS

Criar uma produtora de alimentos bem-sucedida requer muito mais que apenas uma boa ideia. Há regras governamentais e concorrência de conglomerados muito bem posicionados, com vastos sistemas de distribuição.

Esses obstáculos não são fáceis de superar. Mas as empresas iniciantes estão tentando fazê-lo ao imitar o comportamento das companhias de tecnologia de maior sucesso, que começaram como simples ideias e se tornaram negócios multibilionários.

Algumas delas contam com programadores que estão criando software capaz de testar salgadinhos e determinar que tipos de ingredientes se combinam melhor. Outras abordam a questão da gestão da mesma maneira que as start-ups controlam suas operações, usando um processo conhecido como metodologia Agile, sob a qual gerentes de projetos trabalham em equipes muito pequenas com programadores, empregando práticas de desenvolvimento de software como o sistema Scrum, cujo objetivo é acelerar a criação e a introdução de novos produtos.

Essencialmente, eles estão organizando o desenvolvimento de produtos alimentares mais ou menos da mesma maneira que as empresas iniciantes de tecnologia organizam a produção de seu software.

"É preciso pensar em termos de escala, como acontece com o software, e é isso que o Vale do Silício oferece às empresas iniciantes de comida, porque sabemos como criar uma coisa em escala bem pequena e depois reproduzi-la e aperfeiçoá-la rapidamente antes de passarmos à produção em larga escala", diz Miller.

O interior do escritório da Hampton Creek em San Francisco parece uma mistura do laboratório de drogas de Walter White na série "Breaking Bad", com uma casa noturna e aquilo que esperamos ver em uma start-up. Plantas que em breve podem servir à produção de substitutos para ovos estão alinhadas no beiral da janela. Trinta programadores, profissionais de marketing e cientistas jovens (e antenados) circulam rapidamente, e a música sai em alto volume dos alto-falantes.

Os funcionários da Hampton Creek não falam de comida como se fosse comida, mas sim como se ela fosse um app que estão programando para venda na iTunes.

"Embora um ovo de galinha talvez jamais venha a mudar, nossa ideia é de que podemos ter um produto que permita atualizar o sistema, da mesma forma que a Apple atualiza o sistema operacional iOS", diz Tetrick. "Por isso temos uma maionese 1.0, mas a versão seguinte será a 2.0, mais barata e duas vezes mais duradoura".

As cadeias de lojas de alimentos estão começando a prestar atenção. A Hampton Creek anunciou recentemente que formou parceria com a cadeia Whole Foods para levar às lojas da empresa em todo o território dos Estados Unidos a Just Mayo, uma maionese desenvolvida pela empresa à base de vegetais.

COMPETIÇÃO DURA

Thomas Manuel, presidente-executivo da Nu-Tek Food Science, que fabrica um substituto de sal com menor teor de sódio, trabalha no setor de alimentos e agricultura há 43 anos. Conhece as dificuldades de ingressar no ramo e questiona se algumas dessas start-ups de alimentos não terminarão abocanhadas pelos gigantes cujo comportamento elas estão tentando mudar, ou se seus produtos serão copiados por outros, tirando-as do mercado.

"Ao contrário de outros setores da tecnologia, noa quais as pessoas obtêm patentes que protegem suas ideias, na maior parte da indústria do alimento isso não existe", diz Manuel. "Assim, se você desenvolve uma grande ideia e ela começa a encontrar grande sucesso, alguém pode simplesmente copiá-la".

No entanto, pode existir espaço tanto para as grandes empresas estabelecidas quanto para as start-ups, no futuro do setor de alimentos.

Um relatório divulgado pelas Nações Unidas neste ano alerta que, em 2050, a população mundial deve atingir os 9 bilhões de pessoas, e que o planeta não terá recursos suficientes para alimentá-las. O relatório sugere insetos como solução.

Será que a engenhosidade do Vale do Silício pode tornar insetos apetecíveis para os palatos do Ocidente?

"Com o crescimento da população, não haverá proteína suficiente para as pessoas. Não haverá como produzir carne naquela escala", diz Miller. "O que estamos tentando fazer é popularizar uma proteína que ainda não foi aceita pela cultura ocidental, e isso certamente causará muita perturbação".

 

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