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27/04/2014 - 03h10

Sem dinheiro, empresas dão 'fatias' do negócio para pagar serviços

DE SÃO PAULO

Lucas Garcia, 26, Lucas Saraiva, 27, e Letícia Passarelli, 24, criadores da empresa Lets Park, dona de um aplicativo que permite buscar vagas em estacionamentos, sentiam falta da ajuda de alguém mais experiente, um consultor que entendesse bem de negócios. Mas eles não tinham dinheiro para essa contratação.

Renê Fernandes, professor da FGV, realiza o serviço sem ganhar nada, pelo menos por enquanto. O pagamento está sendo negociado em ações da start-up (empresa iniciante de tecnologia).

Seguindo uma tendência que já era forte internacionalmente, negócios em estágio inicial que não têm dinheiro em caixa para contratar serviços estão pagando os profissionais com "equity" (participação na companhia).

"Computamos as horas do meu trabalho e, depois que a eles receberem o primeiro investimento, vamos calcular qual será a minha participação, de acordo com o valor da empresa", diz Fernandes.

Ou seja, se o preço do trabalho dele ficar em R$ 50 mil e a companhia valer R$ 1 milhão, Fernandes terá direito a 5% de participação.

"Uma start-up tem uma estrutura financeira enxuta. Com o 'equity', você também mostra para o profissional que ele é importante", afirma Garcia, presidente-executivo da Lets Park.

Danilo Verpa/Folhapress
Os fundadores da Lets Park pagarão por serviço de consultoria com fatia da empresa
Os fundadores da Lets Park pagarão por serviço de consultoria com fatia da empresa

Fábio Rizzo, 31, fundador do Vindula, que faz redes sociais corporativas, também optou por dar uma fatia da empresa a Cassio Spina, presidente do grupo de investidores Anjos do Brasil, em troca de serviços de mentoria.

Para definir qual seria a participação de Spina, eles fizeram um cálculo em função do trabalho que ele desempenha e da perspectiva do valor do negócio.

"Você pode predeterminar o valor da empresa ou esperar que ela receba um investimento", diz Spina.

DESVANTAGEM

Para Yuri Gitahy, investidor-anjo e fundador da Aceleradora, a desvantagem dessa negociação é o dono da empreitada perder uma fatia acionária importante logo no início da operação.
"Sou partidário de que o empreendedor mantenha o maior percentual possível da empresa com ele, principalmente antes do primeiro investimento", diz.

Editoria de Arte/Folhapress

Dan Strougo, que faz mentoria para três companhias, afirma que a fatia de um mentor não deve passar de 5%. "Valores maiores geram muitas responsabilidades e mais obrigações."

Esse é exatamente o percentual que Strougo possui no estúdio de design Baobá. Segundo o cofundador, Felipe Carneiro, 38, essa foi a melhor opção para retribuir os serviços em um momento em que eles não tinham grande orçamento.

Para Gitahy, outro modo de calcular o equity é combinar com o profissional o que ele deve fazer. "A cada pacote de tarefas que ele realiza, ativa-se um percentual."

Além dos serviços de consultoria e mentoria, os especialistas afirmam que alguns profissionais da área de advocacia estão se interessando pelo negócio.

Para Rodrigo Menezes, do escritório Derraik & Menezes Advogados, a moda não deve pegar no setor.

"A não ser que seja com advogados que são pessoas físicas. Em sociedades, legalmente não podemos ser sócios de outra empresa."

RISCOS

Mas a estratégia pode deixar possíveis investidores ressabiados. Para Spina, eles podem não querer usar seu aporte financeiro para pagar dívidas antigas da companhia com outros profissionais.

"Também há o risco de um novo investidor não os querer como sócios", explica Fernandes, professor da FGV.
Para evitar o problema, Gitahy aconselha que os empreendedores tenham ao menos 75% da empresa antes do primeiro grande investimento.

Para Fernandes, um prestador de serviços não pode chegar nem perto de possuir o mesmo percentual da empresa que o empreendedor.

"É preciso avaliar e negociar esse pagamento. Não dá para levar esse investidor como um fardo, algo que você aceitou em um momento de desespero", explica.

Ainda assim, Lucas Garcia, presidente-executivo da Lets Park, não fica receoso. "O seu pedaço do bolo fica menor, mas a empresa fica maior", afirma.

Colaborou BÁRBARA LIBÓRIO, de São Paulo

 

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