Negócios ainda têm dificuldades para captar recursos em 'vaquinhas virtuais'
FELIPE MAIA
EDITOR-ADJUNTO DE "CARREIRAS"
RICARDO BUNDUKY
DE SÃO PAULO
O financiamento por "crowdfunding" (vaquinhas coletivas pela internet) tem crescido no Brasil, mas ainda é difícil conseguir recursos para negócios.
O Catarse, maior plataforma da modalidade no país, atingiu na semana a passada a marca de mil projetos financiados, que somam R$ 13,78 milhões em arrecadação. Mas quase metade dos projetos bem-sucedidos (46%) é de música ou cinema e vídeo.
O projeto que mais arrecadou na história do site foi o da banda carioca Forfun, que captou R$ 187 mil para a gravação de um DVD.
Paula Giolito/Folhapress | ||
Elliot Rosenberg é criador do Favela Experience, um sistema de acomodação e passeios em favelas do Rio |
O valor equivale a seis vezes o obtido pela impressora 3D Metamáquina, que captou R$ 30 mil, tendo sido uma das campanhas de captação com mais dinheiro no site.
Uma pesquisa feita pela consultoria Chorus no ano passado, que ouviu 3.336 pessoas, aponta que a identificação com a causa é o principal fator para financiadores apostem em um projeto, recebendo nota 88 em uma escala que ia até 100.
De acordo com o levantamento, 52% dos entrevistados querem apoiar iniciativas culturais independentes. Só 24% estão interessados em viabilizar novos produtos.
Para Eduardo Nicz, 32, sócio da plataforma ComeçAki, o vídeo publicado na página da campanha desempenha um papel fundamental para estabelecer um vínculo com os possíveis apoiadores e para mostrar que a ideia de negócio pode ter viés social.
"É uma relação emocional. É no vídeo que o projetista interage com o público, mostra qual é o sonho dele. E ele toca as pessoas para realizar esses sonhos", afirma.
Segundo a pesquisa, parentes, amigos e pessoas próximas do realizador são os responsáveis pelo estímulo inicial, e representam de 55% a 80% da arrecadação total.
O americano Elliot Rosenberg, 24, que coletou US$ 31,2 mil (R$ 69 mil) na plataforma americana Indiegogo para abrir um negócio de turismo em favelas no Rio, diz que o ideal é que o autor do projeto já tenha ao menos 30% dos recursos garantidos com amigos antes de iniciar a campanha.
"Vale a pena pesquisar o mercado e fazer entrevistas com possíveis clientes: se eles comprariam o produto e se fariam a aquisição por um site de "crowdfunding"', afirma Rosenberg.
Também usa-se muito o sistema de recompensa para incentivar o financiamento –que varia de uma camiseta ou um chaveiro até o próprio produto anunciado, numa espécie de pré-venda.
Veja abaixo ensinamentos de autores de projetos de negócios para o Brasil mais bem-sucedidos nas plataformas internacionais Kickstarter e Indiegogo e na nacional Catarse.
OFERECER BOAS CONTRAPARTIDAS
O americano Elliot Rosenberg, 24, conseguiu o equivalente a R$ 69 mil em uma plataforma de financiamento coletivo para o Favela Experience, um sistema de intermediação de aluguel de quartos em casas de morros do Rio.
A campanha era centrada na venda de hospedagem com desconto para a Copa –ao investir um determinado valor, o internauta podia fazer uma reserva mais barata.
"Como uma campanha de financiamento coletivo dura um tempo curto, a gente queria criar um senso de urgência no consumidor e atrair mais clientes", conta.
Outro fator foi criar um projeto inovador em um mercado já consolidado, o de acomodações, com algum impacto social. "Muita gente já estava procurando hospedagem e queriam algo que se encaixasse no bolso."
Fabio Braga/Folhapress | ||
Rodrigo Rodrigues da Silva, sócio e diretor do projeto Metamáquina, empresa que produz impressoras 3D |
CRIE UM PROPÓSITO
Rodrigo da Silva, 27, sócio da Metamáquina, que faz impressoras 3D, diz acreditar que as pessoas contribuíram com o projeto, que arrecadou R$ 30 mil, por compartilhar dos valores da empresa.
"Antes de ser um produto, era um conceito. A gente deixou claro que a máquina seria baseada em hardware aberto e software livre e que acreditávamos naquele modelo de desenvolvimento."
Para ele, é importante deixar claro se o projeto tem ou não fins lucrativos, porque os financiadores ficam com um "pé atrás" quando a proposta é obscura.
Silva diz também que, no caso da impressora, o "crowdfunding" serviu como um meio, e não como um fim.
"A missão só foi completada três anos depois, quando a lançamos a Metamáquina 2 [com recursos próprios]".
PÚBLICO SEGMENTADO
Quando perguntam a Saulo Camarotti, 27, sobre como fazer um projeto de financiamento coletivo, ele responde, brincando: "Primeiro faça 15 jogos, fique quatro anos trabalhando, crie uma comunidade e aí lance a campanha."
O empresário é fundador da Behold Studios, que levantou US$ 97,1 mil (R$ 214,7 mil) na plataforma Kickstarter para criar o game on-line "Chroma Squad".
Ele diz que o resultado foi obtido porque a empresa já era atuante na comunidade de games e também em razão de o produto ter como alvo um público bastante específico: pessoas que gostam de jogos e de séries japonesas como "Power Rangers" ou "Changeman".
Isso faz com que as pessoas se esforcem mais na campanha. "Quem é de nicho gosta de divulgar", afirma.
INVESTIR NOS AMIGOS
Carol Piccin, 35, diretora da Materia Brasil, uma consultoria que arrecadou R$ 33,5 mil para criar um banco de dados com fornecedores de materiais sustentáveis, diz que o projeto foi viabilizado com uma campanha entre os próprios amigos dos sócios nas redes sociais.
"Nem cogitamos investir tempo fazendo um mailing [com possíveis apoiadores]. A gente falou: 'Vamos soltar para os nossos amigos e ver o que vai acontecer'".
O projeto, que obteve o financiamento em 2013, ainda não saiu do papel devido a imprevistos que Piccin não detalha.
A empresária diz que o "crowdfunding" serviu para medir a aprovação da ideia pelo público. "Foi menos para captar os recursos e mais para validar o que a gente estava fazendo."
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