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08/06/2014 - 03h15

Empresários têm prejuízo com franquias que viram moda, crescem e decaem rapidamente

ISABEL KOPSCHITZ
BÁRBARA LIBÓRIO
DE SÃO PAULO

O funcionário público carioca Paulo Henrique Andrade, 47, tentou surfar na onda do "frozen yogurt" quando ela ainda não dava sinais de baixa, em 2010. Ele investiu uma herança de família em duas franquias de lojas do produto, no Rio. Em menos de dois anos, os resultados foram R$ 400 mil de prejuízo e duas unidades fechadas.

O número de franquias desse doce se multiplicou por 12 entre 2009 e 2012, chegando a 456 unidades. Daquele ano para cá, sobraram 214, menos da metade delas. Os dados são de levantamento feito pela consultoria Rizzo Franchise a pedido da Folha.

"Entrei por causa da moda. Era uma novidade e tinha algumas lojas abertas que estavam dando certo. Eu me precipitei", avalia Andrade.

O caso dele é um exemplo do risco de investir em uma franquia de um setor que vive um boom. "Às vezes, uma coisa fica na moda e tem estouro de vendas, mas cai porque não tem massa crítica para ser negócio", diz Ricardo Camargo, diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising).

Camargo diz que é importante montar um plano de negócios levando em conta que o movimento será menor depois que a "febre" do produto passar. "E há a responsabilidade do franqueador, que tem que desenvolver novos produtos para manter o interesse", afirma.

Os dias de glória dos cupcakes também parecem contados. Bruno Queiroz, 24, criador da The Original Cupcake, percebeu que o nicho de mercado já entrou em declínio e resolveu criar uma versão da franquia para bolos caseiros, que está em voga hoje. Ele fechou duas unidades da loja de bolinhos e recomprou duas de franqueados. Atualmente, a rede tem 30 lojas.

Raquel Cunha/Folhapress
Bruno Queiroz viu declínio dos cupcakes e criou franquia de bolos caseiros
Bruno Queiroz viu declínio dos cupcakes e criou franquia de bolos caseiros

"Já sobrevivemos à moda do cupcake, que passou há uns três anos. Quando é novidade, vende-se muito mais. Depois que passa o frisson, quem não está bem estruturado fecha", diz.

Kássia Diegas, 41, investiu R$ 250 mil em uma loja do The Original Cake na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, com dois sócios. Cada bolo inteiro custa R$ 14 e a fatia, R$ 3. Ela diz não temer investir em um negócio da moda. "Não é só uma tendência. Nosso público é grande: 300 pessoas por dia", afirma.

Segundo Marcus Rizzo, da consultoria Rizzo Franchise, três fatores são muito importantes na hora de optar por uma franquia: conhecer e gostar da área escolhida, optar por um franqueador que tenha muita experiência no assunto e observar a relação entre investimento inicial, custo de manutenção e o tíquete médio do produto.

"Mais de 40% dos franqueadores brasileiros sequer têm unidades próprias. Como um negócio é tão bom que nem o dono quer ser proprietário?", questiona Rizzo.

DESABAMENTO

O setor de manutenção e reparos domésticos também dá sinais de baixa. Uma das maiores do ramo, a Dr. Resolve, cresceu mais de seis vezes em número de lojas entre 2011 e 2013, chegando a 550. Entretanto, no último ano teve redução de 20,4%, ficando com 438. Os dados foram tabulados pela Folha a partir de catálogos da ABF.

"Toda rede que cresce passa por um processo de ajuste. Só temos três anos de existência", diz David Pinto, fundador da Dr. Resolve.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Angelo Agulha teve prejuízo de R$ 150 mil com loja de empadas
Angelo Agulha teve prejuízo de R$ 150 mil com loja de empadas

Rizzo acrescenta que o modelo da maior parte das franquias no Brasil, por meio do qual o franqueador vende o produto para o franqueado, não é o mais saudável. "Um elo comum entre as franquias que têm problemas são aquelas de marca e produto, nas quais o franqueador olha para o franqueado como um ponto de venda seu", diz.

Foi o que aconteceu com o professor Angelo Agulha, 52. Em 2008, no auge da onda das casas de empada, abriu uma em Salvador, que durou menos de dois anos.

Ele investiu R$ 100 mil e teve um prejuízo de R$ 150 mil. Quando passou a ter que comprar as empadas prontas do franqueador, diz, o negócio ruiu.

"Eu entrei no setor pelo modismo. Achava um glamour fazer parte de um segmento novo. Mas virei um gerente de luxo, não um empresário", afirma Agulha.

 

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