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14/12/2014 - 02h02

Psicoterapeuta critica consumismo e vaidade de 'executivos ostentação'

ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO

Acostumado a atender empresários de sucesso, o psicoterapeuta Flávio Gikovate tem um alerta para quem sonha com riqueza: "felicidade tem pouca relação com o dinheiro e os bens materiais, a não ser no que diz respeito à satisfação das necessidades básicas da pessoa".

Autor do livro "Mudar –Caminhos para a Transformação Verdadeira" (MG Editores), ele diz que os mais bem-sucedidos no Brasil são "muito mais elitistas e segregadores do que em outros países mais desenvolvidos".

Competição excessiva, consumismo e isolamento são problemas desse público.

Jorge Araujo/Folhapress
O psicoterapeuta Flávio Gikovate, para quem competição demais destrói laços de amizade
O psicoterapeuta Flávio Gikovate, para quem competição demais destrói laços de amizade

Veja abaixo reflexões do psicoterapeuta sobre as ciladas pessoais em que empresários de sucesso caem.

EQUIPE DE FOMINHAS

O custo da competição é danoso para a empresa e para os funcionários sempre que ela vier prejudicar demais o clima de cooperação.

É como num time de futebol: todos querem se destacar, ganhar espaço, ir para a seleção; porém, antes de mais nada é preciso que o grupo consiga ser organizado e cooperativo para que bons resultados beneficiem o grupo como um todo, criando condições para que os mais talentosos acabem por se destacar mais naturalmente.

Esse é o maior desafio, empreitada difícil no esporte competitivo de caráter coletivo e também numa empresa.

O custo pessoal quando o ambiente é essencialmente competitivo tem a ver com o estresse e o esfacelamento dos elos de amizade e companheirismo que tão bem fazem a todos os humanos, especialmente àqueles que passam mais de um terço de suas vidas no ambiente de trabalho.

ESPELHO, ESPELHO MEU

O consumismo é um outro tipo de competição um tanto vazio, posto que os prazeres ligados ao consumo exagerado só costumam ter a ver com a vaidade e não com o real usufruto de determinados bens.

A vaidade tem a mesma origem etimológica que "vão", ou seja, "vazio": trata-se de algo efêmero e um tanto pobre em termos de resultado para a autoestima da pessoa e também para a efetiva felicidade, ou seja, para um bem estar razoavelmente estável e duradouro.

Essa competição envolve não apenas os executivos mas suas famílias e principalmente os empresários, que cada vez mais desejam se destacar pelo que consomem ao invés de se orgulharem do que são capazes de produzir.

Além disso, o consumo é sem fim, de modo que sempre ficam faltando coisas mesmo para os que compram de modo compulsivo.

Quando penso nisso, lembro do Epiteto (filósofo romano do início da Era Cristã) que dizia: "rico não é quem tem tudo e sim aquele que não deseja nada".

Felicidade tem pouca relação com o dinheiro e os bens materiais, a não ser no que diz respeito à satisfação das necessidades básicas da pessoa.

DINHEIRO NÃO COMPRA

Não tenho visto a saúde negligenciada em termos de visita ao médico: em muitas empresas os exames regulares são mais ou menos obrigatórios.

Mas percebo uma certa negligência nas medidas preventivas, ou seja, na prática regular de exercícios, no consumo de alimentos saudáveis e uma vida mais serena e com menos ambição e estresse.

Isso tem a ver até mesmo com o estilo de vida, muitas vezes envolvendo viagens, refeições em restaurantes em horários não tão recomendados, ingestão de bebida alcoólica em dose um tanto exagerada até mesmo para conseguir relaxar...

BRIGA PELO TRONO

A rivalidade entre pai e filho homem competente é quase que inevitável. É um tipo de tensão que nasce com a criança, uma vez que a mãe é objeto de amor de ambos!

Afora isso, é claro que os empreendedores têm muita dificuldade de abandonar o comando do barco, mesmo quando o filho está pronto para assumir suas funções; a única solução é a transferência da função executiva para o filho, sendo que o pai se retira para um conselho (real ou fictício), passando a agir mais como um observador, dando sugestões e conselhos quando achar necessário.

Isso atenua o conflito, mas não faz com que desapareça completamente, posto que ainda assim existirão tensões. São poucos os que conseguem esse convívio com razoável harmonia e respeito mútuo.

É bem mais fácil quando o pai tem outros interesses e consegue ir se desligando da empresa e se dedicando a suas outras atividades; porém, essa não é a regra, posto que os mais bem sucedidos não costumam ser pessoas ricas em hobbies.

MEU CASTELO, MINHA VIDA

As condições de segurança pública fazem com que quase todas as pessoas com boa condição financeira no Brasil se protejam contra assaltos vivendo dentro de muralhas, exatamente como eram as cidadelas na Idade Média.

Condomínios fechados cercados por altos muros e com portaria rigorosa são a regra em países onde a desigualdade social é grande e onde o nível cultural e ético é baixo (Brasil, África do Sul...).

Afora isso, no nosso país o sucesso raramente desperta admiração, sentimentos positivos (como é o usual nos Estados Unidos) e sim hostilidade e inveja.

Em virtude disso, as pessoas mais bem sucedidas também se afastam de seus antigos amigos e mesmo de certos parentes.

A vida se torna mais rica, porém bastante menos interessante e interativa do que a qualidade de vida dos que vivem em bairros mais populares.

Em cidades como Londres, Paris e Nova York os mais ricos e bem sucedidos também andam a pé, vão aos cinemas e esperam na fila como todo o mundo.

Os mais bem-sucedidos aqui no Brasil gostam sempre de tratamento diferenciado, de modo que detestam filas, não vão ao cinema por ser atividade muito popular. Em uma frase, são muito mais elitistas e segregadores do que em outros países mais desenvolvidos culturalmente.

Assim, nem todo o "encastelamento" tem a ver com segurança; uma parte do processo diz respeito ao gosto mais forte de viver uma vida elitizada, mais distante da grande maioria da população.

 

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