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08/02/2015 - 02h00

Empresas buscam soluções para economizar e enfrentar a falta de água

FILIPE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Trocar louça por plástico descartável, vetar banho de banheira para as noivas e até a ducha para os animais de estimação. As empresas de São Paulo têm mudado sua rotina para se prevenir contra o agravamento da crise hídrica que ameaça colocar a cidade em racionamento.

A fábrica da Mr. Cheney, que abastece com cookies uma rede de 44 lojas franqueadas, reduziu os turnos de trabalho de dois para um, permitindo diminuir a quantidade de vezes que o local e os equipamentos precisam ser lavados ao dia, conta o sócio Lindolfo Paiva, 49.

A companhia também aumentou o armazenamento em caixas d'água de 1.000 litros para 5.000 litros e substituiu utensílios de alumínio usados na produção por plástico descartável.

Não há vantagem financeira nas mudanças: a empresa economiza R$ 150 na conta de água (15%), mas gasta até R$ 450 em itens descartáveis.

"Se não tivéssemos tomado essas medidas para ampliar nossa capacidade de armazenamento [de água], já teríamos tido problemas de abastecimento", conta Paiva.

Na rede de salões de cabeleireiro Jacques Janine, as banheiras usadas para tratamentos e em ocasiões como dia da noiva estão aposentadas há seis meses.

O borrifador de água tem sido usado para o primeiro enxágue dos cabelos, antes de se passar o xampu, e a mesma toalha que fica abaixo dos ombros da cliente na hora de lavar o cabelo serve para enxugá-lo.

Maristela Saletti de Araújo, 45, franqueada dos salões do shopping Ibirapuera e do bairro Jardim Paulistano, em São Paulo, conta que as medidas, somadas à conscientização da equipe, permitiram reduzir o consumo de água e energia em 30%.

Editoria de Arte
Arte carreira crise hídrica

SAI DA DUCHA

Os banhos em animais também ficaram mais econômicos e esparsos. Na Petland, no bairro paulistano de Campo Belo, os filhotes para adoção recebiam dois banhos por semana. Agora, só veem água a cada dez dias.

Eles passaram a ganhar banhos secos, com produtos químicos que permitem retirar a gordura do pelo.

O gerente Wagner Vieira, 25, conta que outras medidas para economizar foram a adoção de duchas que só funcionam enquanto pressionadas e a redução do tempo de enxágue de 5 para 3 minutos.

Outro truque da empresa foi trocar a mangueira por uma bomba pressurizadora na ponta de uma garrafa pet para lavar o chão da loja. A mudança reduziu o gasto de água de cerca de 50 litros para apenas 6 litros.

A rede de comida mexicana Si Señor decidiu aproveitar a água que pingava dos aparelhos de ar-condicionado usados nos restaurantes.

Thiago Mata, 32, coordenador de marketing da rede, conta que um reservatório capta a água e um sistema de bombeamento a manda para uma caixa d'água.

Na unidade do Tatuapé, são cinco aparelhos que geram cerca de 8 litros de água por hora, durante 10 horas por dia. São então 400 litros diários ou 12 mil litros mensais reaproveitados.

A água do sistema é usada para lavar o piso e regar o jardim. Representa 7% do total consumido pela casa no mês.

Para isso, foram investidos R$ 3.000 no sistema, que deve ser levado às outras 21 unidades da empresa.

ILUMINADO

Com medo de que o Brasil passasse por um apagão na Copa do Mundo de 2014, Elidio Biazini, 55, fundador da rede de pizzarias Didio Pizza, decidiu pesquisar um gerador que coubesse em seu orçamento ainda em 2010.

Encontrou um modelo de 5,5 quilowatts de potência que pode ser comprado por cerca de R$ 4.000, diz.

Após testes em uma de suas lojas, que atuou por três dias apenas com o gerador, ele decidiu implantar o equipamento, que consome 2,7 litros de gasolina por hora de uso, em toda a rede.

O apagão da Copa não aconteceu, mas o sistema pode vir a calhar para enfrentar os riscos renovados pelo baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas.

"Um dia de bom movimento sem luz, em que se pode perder a clientela e o estoque, paga o investimento tranquilamente", afirma Biazini.

ESPAÇO É MAIOR EMPECILHO PARA SISTEMA DE REÚSO

Investir no uso mais eficiente de água pode, em poucos meses, ter impacto positivo na conta das empresa.

Um sistema de reúso no qual a água de processos industriais passa por filtragens e tratamentos químicos custa, em geral, R$ 1,20 a cada 1.000 litros de água, diz Manoel Gomes de Souza, diretor comercial da Água P.U.R.A..

Na região metropolitana de São Paulo, a mesma quantidade de água limpa tem tarifa entre R$ 5 e R$ 13,97, sendo maior para empresas que consomem mais.

O maior empecilho para a instalação do sistema é o espaço exigido. Para tratar 1.000 litros por hora, seriam necessários 10 m² livres. O investimento também é alto, de R$ 30 mil a R$ 45 mil.

Para os pequenos negócios, o Sebrae subsidia em 80% as contratações de empresas credenciadas que forneçam serviços para ampliar a sustentabilidade.

"A adoção de investimentos em sustentabilidade levam a redução de custos e a empresas mais competitivas", afirma Enio Pinto, gerente de inovação e tecnologia do Sebrae Nacional.

Também existem serviços que fazem uma espécie de check-up, verificando a existência de vazamentos, excesso de pressão nas torneiras.

Na goiana TRC Sustentável, a revisão de um imóvel com 150 m² e 12 torneiras custa R$ 800 –não inclui serviços e trocas realizadas após a identificação de problemas.

Para empresas que consomem mais de R$ 5.000 de água por mês, a empresa recebe um percentual sobre a diminuição da conta.

 

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