Cerveja artesanal está florescendo, mas produtores veem ponto de inflexão
IAN MOUNT
DO "NEW YORK TIMES"
Quando o termo "microcervejaria" entrou no vocabulário dos Estados Unidos, Rich Doyle viu possibilidades. Quase três décadas atrás, ele se tornou cofundador da Harpoon Brewery, em Boston, e ela cresceu até se tornar a 12ª maior fabricante de cerveja artesanal do país.
Em julho de 2014, tendo participação de pelo menos 40% no negócio, ele sentiu que era o momento de dar um novo passo. Pediu a seus sócios autorização para procurar um investidor para que a companhia pudesse adquirir concorrentes que enfrentavam problemas. Quando eles recusaram, Doyle optou por vender sua parte e deixar a empresa.
Para pessoas como Doyle, a atual exuberância do mercado de cerveja artesanal está criando uma bolha de expansão que vai estourar e deixar para trás perdedores que poderão ser adquiridos a baixo preço.
"Acredito que exista oportunidade agora e que existirá ainda mais quando o ciclo da exuberância se completar e as pessoas começarem a perceber que expandiram demais a sua capacidade e as margens já não são tão boas quanto no passado", ele disse.
Divulgação | ||
Microcervejarias nos EUA enfrentam dilema entre aceitar investidores ou permanecer pequenas |
Essas perspectivas conflitantes vêm se revelando em todo o setor, enquanto os fabricantes de cerveja buscam administrar a necessidade de crescimento diante da necessidade de liquidez criada por fundadores interessados em vender suas ações e sair. O resultado de tudo isso pesará muito para a determinação da futura identidade da cerveja artesanal.
Sob qualquer indicador, a cerveja artesanal vem registrando ótima fase desde que decolou, na metade dos anos 80. O número de cervejarias e de microfabricantes locais e regionais subiu de 1.521 em 2008 a mais de 3,2 mil em 2014, de acordo com a Associação dos Cervejeiros, um órgão classista que define cervejarias artesanais como empresas que produzem menos de seis milhões de barris ao ano e contam com menos de 25% de participação acionária de um grande fabricante de cerveja.
O boom é tamanho que existem até sites de crowdfunding, operando com autorização dos governos estaduais em Wisconsin e Indiana, cuja especialidade é bancar a criação de fabricantes de cerveja artesanal.
Do lado das vendas, as cervejarias artesanais registraram avanço de volume de 17,2% em 2013 ante 2012, ante uma queda de 1,9% no mercado geral de cerveja. E as cervejas artesanais hoje respondem por 14,3% do mercado de cerveja dos Estados Unidos, que movimenta US$ 100 bilhões ao ano.
"Cervejaria após cervejaria busca maneiras de crescer; quando você fala com essas companhias, o maior obstáculo que enfrentam são suas limitações de capacidade", diz Bart Watson, economista chefe da Associação dos Cervejeiros. "Elas estão vendendo rapidamente toda a cerveja que produzem".
Isso mudou a dinâmica de investimento do setor. Depois de anos de rejeição da parte dos fabricantes de cerveja artesanal, investidores estratégicos e grupos de capital privado por fim começam a encontrar interessados entre as cervejarias artesanais que buscam capital para crescer. Da metade do ano passado para cá, a SweetWater Brewing, de Atlanta, vendeu uma participação à TSG Consumer Partners; a Southern Tier Brewing, do interior do Estado de Nova York, vendeu uma participação à Ulysses Management; e a Uinta Brewing, do Utah, vendeu participação majoritária à Riverside. E a Elysian Brewing, de Seattle, e a 10 Barrel Brewing, de Bend, Oregon, se venderam integralmente para a Anheuser-Busch.
Para obter capital novo sem procurar novos investidores cujo interesse seria a aquisição completa da empresa, um caminho é oferecer participação aos funcionários. Foi como Doyle conseguiu vender sua parte na Harpoon, E Gary Fish, da Deschutes Brewery, em Bend, Oregon, criou um plano de participação acionária para seus funcionários, obtendo empréstimos para adquirir participações de sócios e em seguida distribuindo as ações aos funcionários.
"A participação acionária de funcionários se tornou solução popular para comprar a parte de um sócio, para aqueles que não desejam ver a venda da empresa para a Anheuser-Busch ou Coors", disse Benj Steinman, presidente da "Beer Marketer's Insights", uma publicação especializada do setor. "Mas isso cria outras questões. Como a companhia deve seguir adiante? Será que pode fazê-lo com uma estrutura acionária de controle pelos funcionários e fundadores, mas mantendo uma visão forte? E fazer dívidas requer toda uma gama de outras considerações".
Para outros fabricantes de cerveja, o caminho para crescer é trazer dinheiro e conhecimentos de fora. Um deles é Will Hamill, que passou 22 anos expandindo a Uinta e fazendo da companhia um fabricante com capacidade anual de 144 mil barris. Mesmo depois de receber US$ 18 milhões em investimento, o crescimento de 30% a 35% projetado para este ano colocaria a empresa de novo no limite de sua capacidade. Ele vem imaginando que a empresa talvez precise de mais do que apenas sua capacidade de gestão.
"Sempre cresci organicamente, reinvestindo lucros na empresa", disse Hamill. "Fiz tudo por conta própria, e acumulei dívidas pesadas. Por mim, tudo bem, mas agora procuro mais US$ 10 milhões em investimento. Quero dar à Uinta o crescimento que ela merece, sem qualquer obstáculo".
À medida que investimentos como esses se tornam mais comuns, há quem imagine que mudanças isso causará na cultura do setor.
Kim Jordan, presidente-executiva e uma das fundadoras da New Belgium Brewing, em Fort Collins, Colorado, diz que essa preocupação é válida.
"O que me preocupa é termos empresas sendo vendidas a pessoas cujas histórias de marca não são tão convincentes, que não são fundadoras de empresas", disse Jordan. "Acho que isso afeta a imaginação coletiva das cervejarias artesanais como um todo. Elas estão deixando de ser uma comunidade iconoclasta, repleta de práticas de negócios interessantes e expressões interessantes de sua cultura artesanal, e se tornando um negócio como qualquer outro".
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