Empresário troca motos por rede de produtos naturais e vira missionário do varejo
FILIPE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Uma promessa feita pelo empresário Ricardo Cruz, 42, enquanto sua mãe lutava contra um câncer o levou a trocar o mercado automobilístico pela venda de produtos naturais e a transformar sua forma de pensar e fazer negócios.
Era o ano de 2008. Na época, um médico sugeriu que buscasse tratamentos alternativos, como medicina ortomolecular, para ajudar na recuperação da mãe.
Ele conheceu um suplemento alimentar natural e jurou que, caso ela se recuperasse, ele se dedicaria a vendê-lo. E assim a mudança de ramo aconteceu.
Para cumprir a promessa, o empresário apaixonado por motos e dono de quatro concessionárias improvisou um andar em uma das lojas para vender o produto.
Ele conta que a reação positiva e emocionada dos clientes que compravam o suplemento fez com que desse o passo seguinte.
Davi Ribeiro/Folhapress | ||
O empresário Ricardo Cruz, fundador de uma rede de lojas de produtos naturais e defensor fervoroso do capitalismo consciente |
Cruz vendeu suas lojas, três imóveis e tirou do banco uma reserva de R$ 1 milhão para sua aposentadoria.
Os recursos, que somavam R$ 2,5 milhões, foram investidos em um novo negócio, a Nação Verde, que vende produtos naturais como alimentos, cosméticos e suplementos. A companhia foi aberta em 2011, inicialmente no sistema de venda porta a porta.
O passo seguinte foi estruturar o conjunto de valores da nova empresa. Segundo Cruz, obter lucro anda ao lado da missão de levar saúde para mais pessoas e criar uma sociedade mais justa.
A convicção missionária foi inspirada também no trauma de passar por três roubos à mão armada em suas concessionárias –no último deles foi gravemente ferido por um tiro na virilha.
"Acho que a agressão que sofri tomando um tiro é uma agressão social. Por isso quis montar algo para melhorar a sociedade. Uma empresa sem hierarquia, que não exige obrigatoriamente diploma, cuida das pessoas e procura desenvolvê-las", explica.
PRÁTICA E TEORIA
Em 2012, um ano após abrir a Nação Verde, Cruz conheceu o conceito do capitalismo consciente, divulgado internacionalmente por autores como John Mackey e Raj Sisodia, que lançaram em 2013 um livro com esse título, pela Harvard Business Press.
Cruz aderiu à causa que desafia líderes a repensarem a razão da existência de suas organizações como forma de obter vantagem competitiva.
A Nação Verde não possui mais do que duas hierarquias entre os 20 profissionais que trabalham na matriz.
Existem apenas supervisores e coordenadores, divididos em células de trabalho.
Cada funcionário possui tarefas e metas bem definidas, mas tem autonomia para requisitar novos trabalhos conforme se perceba apto.
"Você não monta empresa consciente sem pessoas com consciência também", afirma o empresário.
"O que existe não são empresas, mas grupos de pessoas. Não acreditamos em empresas. Elas são um estado psicológico, como felicidade", completa Cruz, consultando anotações suas sobre o tema durante a entrevista à Folha.
Segundo ele, apesar de haver pouco espaço para promoções formais dentro da companhia, os profissionais têm participação nos lucros atreladas ao desempenho e "não precisam ganhar poder para se sentir melhor".
A Nação Verde não possui guardanapos de papel ou copos ou pratos descartáveis.
As paredes das lojas são decoradas com frases que expressam ideais da companhia, como: "somos a mudança que queremos ver no mundo" ou "a Nação Verde não é apenas uma loja, mas uma experiência de vida".
"Nós não somos varejistas com uma missão, somos missionários com um varejo."
Hoje a empresa conta com 21 franquias e vendas pela internet. A primeira loja da marca, no bairro de Santana (São Paulo) fatura R$ 250 mil mensais –a empresa não divulga o faturamento total da rede.
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