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10/05/2015 - 03h45

Empresas 'copiadoras' deixam de ser vilãs ao melhorar versões de produtos

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

A exploração econômica de uma inovação é um direito ou um privilégio? A imitação de uma boa ideia deve ser punida ou incentivada?

As dúvidas não são uma novidade, mas as respostas começam a mudar. Se até recentemente predominava a defesa do criador, hoje a cópia é vista por alguns como tão importante quanto a inovação para uma empresa.

Um dos defensores dessa tese é o professor Oded Shenkar, da Universidade de Ohio. Segundo seu estudo, 98,7% do lucro de uma proposta nova de negócio vai para o bolso de imitadores.

"A Apple não inventou o iPod [o mp3 player foi criado por uma empresa coreana] e é a companhia de maior valor da América", exemplifica.

Eduardo Knapp/Folhapress
As sócias Ana Paula Casseb (esq.) e Barbara Brunca criaram uma empresa com um modelo de negócios adaptado
As sócias Ana Paula Casseb (esq.) e Barbara Brunca criaram uma empresa com um modelo de negócios adaptado

Entre start-ups, sobretudo, o limite entre cópia e inovação é nebuloso. Um aplicativo de celular para chamar táxis é desenvolvido na Alemanha e, com o sucesso, o conceito do negócio é reproduzido dos Estados Unidos à Índia. Se a plataforma for original, é praticamente impossível proteger a ideia.

Para quem empreende em tecnologia, o setor é terra sem lei, e assim deve ser, diz Paulo Veras, da 99Taxis, inspirada no app alemão MyTaxi.

"O que importa para nós é correr mais rápido que os outros", diz Veras, que disputa mercado no Brasil com a Easy Taxi, da Rocket Internet.

A defesa da cópia, porém, não é consenso. Para Marcos Vasconcellos, coordenador do Fórum de Inovação da FGV, a imitação como um fim em si é uma estratégia empresarial pobre, válida apenas como uma etapa para o desenvolvimento tecnológico.

A inovação é o motor do capitalismo moderno, de acordo com o economista Joseph Schumpeter, um dos mais influentes do século 20. Dar partida nele, contudo, custa caro: pesquisa exige investimentos pesados.

Para incentivar empreendedores a se arriscarem, propriedade intelectual e patentes foram desenvolvidas para garantir exclusividade sobre a exploração da criação.

"A patente no Brasil é dada para uma invenção ou para um modelo de utilidade. Invenção tem que ter 100% de originalidade e aplicabilidade industrial", diz Marcos Wachowicz, professor de direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Por isso, segundo ele, não é possível patentear modelos de negócio de internet no Brasil Ðse não pode ser usado na indústria, não é invenção.

Mas o professor não vê isso como um problema. Como o ciclo dos aplicativos é muito rápido (alguns ficam obsoletos em seis meses), patenteá-los pode impedir o uso da tecnologia como base para criação de versões melhores ou para disponibilizar opções para mais usuários.

Entre as empresas do setor, a visão é mais darwinista. "Há vários modelos de negócio que podem ser facilmente copiados, mas só os fortes sobrevivem. É uma seleção natural", diz Guilherme Junqueira, da Associação Brasileira de Startups.

Para Oded Shenkar, da Universidade de Ohio, a cópia é não só inevitável como positiva. "Como as invenções se espalharam pelo mundo? Pela imitação. Se as tecnologias não tivessem sido copiadas, o mundo estaria pior."

No livro "Copycats - Melhor que o Original" (ed. Saraiva, R$ 39,90, 208 págs.), o professor dá o exemplo da porcelana: inventada na China, os europeus demoraram séculos para reproduzi-la mas, quando conseguiram, inovaram no design e a fabricaram em escala.
o eike falou

Não são mais necessários séculos para uma ideia de sucesso ganhar imitadores. Em 2009, surgiu nos EUA a Rent the Runway, site de aluguel de vestidos de grife que fatura US$ 100 milhões por ano.

Em 2013, foi criada a Dress & Go, primeira a aplicar o conceito no Brasil. Em 2014, a Dress4You abriu em São José do Rio Preto (SP) com a mesma proposta.

"Uma vez li uma entrevista do Eike [Batista] dizendo que o bom empreendedor não necessariamente cria alguma coisa, mas que ele deve copiar de modo melhorado", diz Ana Paula Casseb, 36, da Dress4You, para quem a inspiração é legítima caso siga os princípios da empresa.

Luis Bernardinelli, da VeggieBox, e-commerce de assinatura de produtos veganos, vai na mesma linha. "Eu considero a VeggieBox uma cópia e uma inovação. Nós usamos o modelo de negócio [da canadense VeganCuts], nossa inovação é que transmitimos nossos valores."

Danilo Verpa/Folhapress
Samyra Cunha, Andrew Pedro (à esq.) e Luis Bernardinelli (à dir.), da Veggiebox
Samyra Cunha, Andrew Pedro (à esq.) e Luis Bernardinelli (à dir.), da Veggiebox

A imitação não é prática exclusiva brasileira. A incubadora Rocket Internet, dos irmãos alemães Oliver, Mark e Alexander Samwer, é conhecida por lançar cópias de start-ups americanas em mercados emergentes. O valor da empresa é estimado em mais de R$ 21 bilhões.

Ironicamente, quem imita é quem mais busca formas de se proteger sua exclusividade, diz Shenkar.

O recém-lançado Repassa, e-commerce que permite a usuários venderem objetos entre si, foi inspirado em modelos americanos e no brasileiro Enjoei. Tadeu Almeida, fundador do site, diz que registrou o modelo de negócio como obra literária na Biblioteca Nacional.

"É uma tentativa de se precaver. Nós sabemos que todo modelo que dá certo será copiado. As empresas que se destacam são as que conseguem manter um padrão de inovação, fugindo da concorrência."

 

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