Brasil precisa de investidor que aceite risco, afirma especialista
FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO
O investidor brasileiro tem medo de arriscar em empresas iniciantes e prefere apostar em negócios que já faturam alto.
Esse desinteresse do capital privado nacional é um dos principais obstáculos para o crescimento das start-ups no país, defende Alexandre Barreto, responsável pela área no escritório Souza Cescon Advogados.
Ele ainda destaca a burocracia como entrave para os empreendedores interessados na área. Processos de abertura, formalização e financiamento precisam ser simplificados, afirma.
Divulgação | ||
Alexandre Barreto, sócio-fundador do Souza Cescon Advogados |
Veja abaixo os principais trechos da entrevista à Folha.
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Folha - Reclama-se que o Brasil não tem sistema adequado de proteção para start-ups. Você concorda?
Alexandre Barreto - O Brasil tem um sistema de proteção de marcas e patentes e não fica tão atrás das economias desenvolvidas. A questão é que muitas vezes essas empresas não tomam as medidas necessárias no início para se proteger.
Quais são as ferramentas disponíveis para se proteger?
É importante que desde o primeiro momento, os empreendedores estejam assessorados. Às vezes eles não têm os recursos necessários para pagar um advogado, mas há incubadoras que prestam atenção nestas questões. Orientação é importante desde o primeiro momento.
Ainda que não seja competição do ponto de vista de perder o produto intelectual, pode acontecer de, numa condução mal orientada do negócio, o empreendedor perder o controle sobre a empresa.
Já no segundo round de investimento ele é o cérebro mas não tem mais o comando da parte financeira da empresa na mão.
Ele precisa de uma certa assessoria para conseguir desenvolver o negócio e se proteger dos riscos naturais de mercado, como roubo de ideias.
Quais são os erros mais comuns de estratégia de negócio cometidos por start-ups?
Às vezes vem aqui o Professor Pardal e fala "inventei algo inacreditável", mas ele claramente não tem ideia de como transformar aquilo num aplicativo. Há gente que vem do mercado financeiro, muito talhada em administração e crescimento de negócio, com uma ideia mais ou menos e consegue muito mais sucesso.
Você precisa ter uma pessoa com expertise empresarial Apesar de algumas dores, como ficar preso a um plano de negócio, a chance de sucesso é muito maior. Se você foca apenas na parte intelectual, o projeto fica difícil de vingar.
Quais são os entraves do país que impedem o desenvolvimento de start-ups?
É um ambiente muito burocrático, para abrir uma empresa leva muito tempo. Quando você começa a crescer um pouco, tem questões trabalhistas. Fulano vai ser diretor ou terceirizado contratado? Todo esse imbróglio acaba não favorecendo o desenvolvimento do negócio.
Que soluções você aponta para esses problemas?
Qualquer incentivo específico para a área é muito bom, desde a desburocratização até o acesso a capital de forma mais simplificada.
Há poucas fontes de financiamento do governo e elas não são fáceis de acessar. Também não adianta você exigir desse empreendedor uma fiança integral do valor do investimento, que ele dificilmente terá.
O setor privado resiste a investir em start-ups. Por quê?
Esse tipo de investimento tem um índice de mortalidade alto, quem está neste mercado investe em dezenas de companhias para ter sucesso em duas, três, quatro. Geralmente, no exterior, quando isso acontece, esses sucessos compensam os fracassos.
No Brasil, esta cultura não está desenvolvida ainda, são poucos os que se interessam pelo setor de start-ups. Você tem fundos privados que são criados para investimento em empresas em estágio mais desenvolvido e não na etapa da primeira ideia. Há fundos de capital que focam em empresas que já geram faturamento na casa dos R$ 10 milhões.
Aqui não é um mercado fácil, pujante. O risco é alto, você tem que ter gente com mentalidade para aceitar o risco de perder, para aceitar que alguns dão certo e muitos, não.
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