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05/07/2015 - 02h00

Para físico austríaco, empresas devem ir além do 'verniz de negócio sustentável'

FELIPE GUTIERREZ
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

O físico austríaco Fritjof Capra virou uma estrela no começo dos anos 1980 com seu livro "O Tao da Física" (1975, Ed. Cultrix), em que se debruçava sobre a filosofia da ciência e traçava paralelos com o misticismo oriental.

Na época, ecologia não era um tema que o intrigava muito, mas hoje é um militante conhecido.

Rogério Assis - 29.mar.2012/Folhapress
O Físico Fritjof Capra, em 2012
O Físico Fritjof Capra, em 2012

No Brasil para dar palestras em Cuiabá e São Paulo, ele falou à Folha sobre como empresas podem se tornar mais sustentáveis.

*

Folha - No "O Tao da Física", a sua maior preocupação era filosofia da ciência e misticismo. Em que ponto você começou a se interessar por sustentabilidade?

Fritjof Capra - Escrevi "O Tao da Física" depois do meu pós-doutorado em Paris, em 1967, um período turbulento. Na época, eu estava mais preocupado com outras questões, mas cheguei a escrever que precisávamos de uma visão de mundo ecológica -o termo aparece no fim do livro. Depois me mudei para a Califórnia, o livro virou um sucesso e passei a conversar com gente de diversas áreas.

Em 1986, minha filha nasceu, e ter uma criança deu uma perspectiva mais pessoal sobre o futuro. Foi quando me dediquei a estudar ecologia intensamente.

O senhor tem contato com muitos empresários?

É comum que eu fale com empresários, mas só quando me procuram. Aprendi um pouco da linguagem de negócios, mas não sou totalmente versado nela. Meu ponto principal ao interagir com as empresas é dizer que elas são um sistema vivo e que podem aprender com os ecossistemas para se tornarem um negócio sustentável.

Como diferenciar sustentabilidade de "greenwashing" (ações superficiais de empresas para se promoverem como sustentáveis)?

Eu acho que o "greenwashing" não é totalmente ruim. É melhor que os empresários se sintam obrigados a dar um verniz de negócio sustentável do que acharem que podem se safar com tudo. Então, tornar a linguagem verde parte da estratégia de negócios já é uma vantagem. Mas, claro, é preciso mais na situação atual, que é crítica.

Quando falo com os chefes, pergunto como lidam com questões fundamentais do negócio, não se reciclam o papel que geram. Essas coisas são importantes também, mas a questão principal é se o produto que vendem é necessário e sustentável.

Pequenas empresas não têm dinheiro para investir em um projeto de cunho sustentável como as grandes. O que fazer?

Ser sustentável de verdade não é uma questão de dinheiro, é muito mais uma questão de ética. E isso é mais fácil de ser resolvido em uma pequena empresa, porque as relações são mais pessoais.

Em grandes empresas, isso é colocado como responsabilidade dos auditores, e fala-se mais sobre a taxa de retorno e os valores dos acionistas.

O importante é mudar a maneira de produzir, mas quem é esperto também consegue economizar dinheiro.

No geral, não é fácil porque a natureza da informação de uma empresa é toda medida em dinheiro, e não em termos de centímetros cúbicos de gás carbônico, por exemplo. É preciso mostrar às companhias como fazer isso.

E o mercado verde pode ser um nicho promissor para pequenas empresas?

Começa como um nicho, mas vai ser o futuro de todos. Se não chegarmos a uma sociedade sustentável, tudo vai pro ralo. As práticas que hoje são defendidas como sustentáveis se tornarão padrão.

As empresas é que devem ser mais responsáveis ou o poder público deve impor uma regulamentação mais rigorosa?

Se você me perguntasse há 20 anos eu responderia que as empresas deveriam tentar fazer mais do que a lei exige, mas hoje a situação tornou-se muito crítica.
Estamos em uma grave crise e não vamos superá-la a menos que mudemos dramaticamente.

A presidente Dilma assinou um compromisso para acabar com o desmatamento ilegal até 2030. É possível?
Não sei dizer. Eu fiz um seminário com a Marina Silva no passado e me lembro que ela anunciou que por medidas de restrição o desmatamento havia caído 40%. Não sei o que aconteceu de lá pra cá.

Qual é a sua relação com a Marina Silva?
Eu não a vejo faz muito tempo. Conheço gente que a conhece. Eu a encontrei diversas vezes, uma delas em Berkley, outra em um seminário, dei palestras em eventos em que ela também estava presente. E ela me chamou para organizar um seminário em Brasília quando ela estava no Ministério. Eu levei ecologistas e ela levou políticos. Acho que a vi uma vez depois da saída do governo. Eu a admiro muito, tenho uma foto de nós dois no meu escritório.

O repórter viajou a convite do Sebrae

RAIO-X
FRITJOF CAPRA

FORMAÇÃO
Pós-graduação em física teórica pela Universidade de Viena (Áustria)

PROFISSÃO
Diretor do "Centro para Eco-alfabetização"

OBRAS
"O Tao da Física" (1975), "Política Verde" (1984) e "A Visão Sistemática da Vida" (2014)

 

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