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19/07/2015 - 01h17

De saída, dono de fábrica icônica nos EUA vende empresa para os funcionários

JOE COSCARELLI
DO "NEW YORK TIMES"

Na fábrica de sintetizadores Moog, em Asheville, Carolina do Norte, o proprietário e presidente-executivo, Michael Adams, desejava comunicar a todo o pessoal uma notícia que mudaria suas vidas. "Vendi metade da empresa", ele anunciou.

O grupo muito unido de trabalhadores foi tomado pelo silêncio. Muitos sentem lealdade quase familiar pela empresa.

Em seguida, Adams revelou o nome dos compradores. "Eu a vendi a vocês", disse, diante de um coro de exclamações entusiásticas, aplausos e lágrimas de felicidade, de acordo com trabalhadores que estavam lá.

Siobhan Robinson, programadora de produção que começou na empresa como administradora de escritório, dez anos atrás, falou aos solavancos, entre lágrimas de alegria e risadas.

"Isso cuidará da minha família; é tudo que temos", ela disse.

Susannah Kay/"The New York Times"
Funcionários produzem sintetizadores na fábrica da Moog Music; em seis anos, eles serão donos da companhia
Funcionários produzem sintetizadores na fábrica da Moog Music; em seis anos, eles serão donos da companhia

O novo acordo que cede parte da empresa aos funcionários é mais que notícia feliz para os trabalhadores; é uma vitória para uma pequena empresa cujo sucesso financeiro nem sempre se equiparou ao seu impacto cultural.

A Moog Music, fundada por Robert Moog, criou o que talvez tenha se provado o mais popular dos instrumentos musicais desde a guitarra elétrica. Feitos a mão, os sintetizadores modulares Moog são um pilar da música eletrônica moderna, usados por músicos como o Yes, Devo, Dr. Dre e Beastie Boys.

Mas a despeito da onipresença do instrumento e de seus seguidores dedicados, a companhia enfrentou dificuldades ao longo dos anos para tentar manter sua reputação como local de trabalho artesanal, com mão de obra estritamente local e trabalhadores que mantêm seus empregos por muitos anos. Muitos deles mantiveram a dedicação à empresa depois da morte de Robert Moog em 2005, mesmo nos períodos de vacas magras e atrasos de salário.

Os funcionários agora são donos de 49% da companhia, por meio de um plano de propriedade de ações pelos trabalhadores, explicou Adams.

Ele estabeleceu um fundo sem custo inicial para os trabalhadores, essencialmente emprestando dinheiro à empresa para que esta adquira seus 51% restantes das ações em seis anos. Quando eles se aposentarem, poderão vender as ações acumuladas para a companhia.

No momento, existem cerca de 7.000 planos de participação como esse nos Estados Unidos, de acordo com o Centro Nacional para a Propriedade por Empregados. Douglas Kruse, economista da Escola de Administração e Relações Trabalhistas da Universidade Rutgers, pesquisa sobre a propriedade de empresas por seus trabalhadores e diz que essas companhias tendem a ter conexão mais forte com seu pessoal e a se manter mais estáveis durante recessões.

O risco para os trabalhadores que estão planejando sua aposentadoria, ele disse, é que a companhia pode falir, ainda que planos como esse tenham menor probabilidade de fracasso, em geral.

Na Moog, 60 dos 61 atuais funcionários em período integral são elegíveis para participar do plano. O filho de Adams, que é trabalhador da empresa, não é elegível.

O período de carência para a maioria dos trabalhadores é de seis anos - em incrementos anuais de 20% depois do primeiro ano de emprego -, enquanto os sete funcionários que tinham nove anos de trabalho na empresa em janeiro de 2014, entre os quais Robinson, já têm direito a remuneração em ações.

Como resultado do plano, a companhia estima que, caso continue a crescer, um operário de produção que comece com salário de US$ 12 por hora poderia, depois de uma década na Moog, receber cerca de US$ 100 mil em benefícios da companhia quando se aposentar.

"É como o plano definitivo de pensão", disse Adams, 59. E esse também é o caminho de Adams para sua aposentadoria. "Eu estava procurando uma maneira de sair", ele disse. "E essa é minha estratégia de saída".

"Eu poderia vender a empresa amanhã a um comprador estratégico ou companhia de capital para empreendimentos", acrescentou Adams. "Mas acredito que eles continuarão a crescer, e que a segunda fatia de 51% valerá ainda mais".

Tornar a Moog uma empresa controlada pelos trabalhadores também realiza um sonho do fundador da empresa.

Robert Moog criou os revolucionários sintetizadores analógicos dos anos 60 e 70, mas sua empresa sempre se manteve pequena e não conseguiu encontrar estabilidade financeira. Quando Adams entrou para a
companhia como sócio, em 2002, os oito empregados não recebiam há nove semanas. A Moog tinha dois anos de atraso no lançamento de seu novo produto, o Minimoog Voyager, e "provavelmente estava a uma ou duas semanas de fechar as portas", disse Adams, engenheiro mecânico com experiência industrial.

Ele implementou mudanças que ajudaram a gerar crescimento sustentado no faturamento, de em média 18% ao ano nos últimos 12 anos, de acordo com a companhia. A Moog avançou de uma linha com seis produtos para mais de cem, com instrumentos que variam em preço de alguns milhares de dólares a US$ 35 mil para um dos modelos de topo de linha, e contratou dezenas de novos funcionários, que trabalham para a companhia por em média sete anos.

Embora Adams tenha se recusado a revelar o lucro da Moog, ele disse que planos de controle acionário pelos trabalhadores em geral são recomendados para companhias cuja receita ultrapasse os US$ 15 milhões.

Adams recorda ter contado a Robert Moog em 2004, em um dos almoços semanais da dupla, que a companhia havia saído do vermelho.

"Ele comentou que nunca tinha trabalhado para uma empresa capaz de prover o necessário aos trabalhadores e suas famílias", disse Adams.

Ileana Grams-Moog, a viúva de Robert Moog, disse que seu marido havia proposto a ideia de uma empresa controlada pelos trabalhadores ainda em 2001, mas que a companhia enfrentava dificuldades.

"Foi uma ideia que ele abandonou com relutância", ela disse. "Posso afirmar com certeza que Bob ficaria absolutamente deliciado com a decisão de Mike".

Susannah Kay/"The New York Times"
Ileana Grams-Moog, viúva do fundador, diz que vender a empresa estava nos planos do marido
Ileana Grams-Moog, viúva do fundador, diz que vender a empresa estava nos planos do marido
 

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