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04/10/2015 - 02h00

Start-ups enfrentam maior dificuldade para conseguir grandes investimentos

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

O "stress hídrico" chegou na fonte das start-ups. Embora a situação dos investidores esteja longe da aridez da Cantareira, eles estão mais criteriosos sobre onde colocar dinheiro -e em situação melhor de negociação.

Na prática, isso significa que eles estão analisando com mais cautela novos negócios e repensando o ritmo de investimentos, caso de Alex Barbirato, presidente-executivo da Incube, empresa que investe e orienta empresas iniciantes de tecnologia.

Para ele, o "oba-oba" no setor acabou: empreendedores pedindo milhões para um negócio ainda em fase inicial vão ter que ficar mais realistas se quiserem sobreviver.

Soma-se a isso a fuga dos fundos oportunistas, segundo Manoel Lemos, sócio da Redpoint e.ventures, braço no Brasil do fundo de capital de risco do Vale do Silício (EUA).

"Você acaba tendo uma disponibilidade menor de capital", afirma.

Lemos diz que o fundo passou a "analisar de modo mais crítico" o impacto da crise ao pensar potenciais novos investimentos.

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Do lado dos empreendedores, a visão é mais pessimista. Ivo Machado, presidente-executivo da desenvolvedora de aplicativos MovUp, diz que vai para os Estados Unidos negociar com oito fundos condições melhores para a próxima rodada de captação que pretende lançar no início do próximo ano.

"Eles estão mais duros", afirma, referindo-se a exigências novas, como volume grande de usuários dos apps e de faturamento do negócio.

Raquel Cunha/Folhapress
Eduardo Grinberg, presidente-executivo da PiniOn, no escritório da start-up, em São Paulo
Eduardo Grinberg, presidente-executivo da PiniOn, no escritório da start-up, em São Paulo

Mas há os animados com a crise. Quem vende serviços que reduzam custos com atividades básicas de outras empresas, como entrega de encomendas, vê oportunidade para conquistar clientes.

SELEÇÃO NATURAL

Tanto para investidores quanto para empreendedores, a crise econômica pela qual o Brasil passa é um momento de seleção natural do ecossistema das start-ups.

Para Eduardo Grinberg, ex-consultor do Peixe Urbano e presidente-executivo da PiniOn, que faz pesquisa de opinião com consumidores, os fundos estão mais cautelosos ao escolher no que e quanto injetar, levando mais tempo para fechar negócio.

Grinberg diz que mudou a estratégia para reduzir custos. "Tentamos ficar menos dependentes de investidores quando percebemos que ia demorar mais para conseguir novos recursos."

Quem não tiver capacidade de adaptação, deve ficar pelo caminho, diz Grinberg.

Mas mesmo o planejamento está mais complicado com a crise. Com a inflação em alta, fica mais difícil para a empresa prever preços.

Em razão desse cenário, Eduardo Pedrosa, diretor financeiro da HotelQuando, que aluga quartos por hora, diz que esta oscilação gera "muita incerteza" sobre o planejamento do negócio.

Possíveis erros de cálculo de receitas e despesas, como os temidos por Pedrosa, podem deixar as start-ups mais vulneráveis. Essa fragilidade é oportunidade para investidores que esperam adquirir novos negócios a preços mais baixos, como Barbirato.

Outro fator que tende a barateá-los neste ano é a retirada do selo de bom pagador do Brasil pela agência Standard and Poor's. Na prática, isso levou a uma redução do valor de mercado das organizações nacionais.

Se uma start-up valia antes R$ 100, para comprar 1% dela o empreendedor pedia R$ 1 do investidor. Com a perda do grau de investimento, o valor dessa empresa cai. Se ela passou a valer R$ 90, o mesmo 1% custa R$ 0,90.

Eduardo Knapp/Folhapress
O empresario Fabien Mendez, 29, da Loggi, na sede da transportadora em Barueri
O empresario Fabien Mendez, 29, da Loggi, na sede da transportadora em Barueri

Além de reduzir o valor das empresas, a nota menor torna o investimento em start-up -por definição, arriscado- ainda menos atraente, avalia Fabien Mendez, presidente-executivo da Loggi, empresa de entrega de encomendas por motoboy e ciclistas.

LADO POSITIVO

Se o rebaixamento do Brasil afastou parte dos fundos, a alta do dólar atraiu outros ao aumentar seu poder de compra em reais.

"Para minha surpresa, o interesse pelo país cresceu comparado a outros emergentes que também estão em crise", diz Humberto Matsuda, sócio da Performa Investimentos e conselheiro da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital.

Matsuda foi ao Vale do Silício (EUA) na semana passada para conversar com investidores internacionais e mapear os efeitos da crise.

Ele faz a ressalva, porém, de que isso é válido para os fundos que já têm dinheiro aplicado no Brasil. Aqueles que nunca se arriscaram por aqui não devem começar durante a recessão.

"E isso se o cenário se mantiver e não ocorrerem novos fatos político-econômicos graves. Aí a leitura muda", afirma.

*

DE INVESTIDOR PARA START-UP
Conselhos para conseguir sobreviver à turbulência econômica

1 - Faça um planejamento financeiro conservador, levando em conta a inflação e a dificuldade de captar novos recursos

2 - Invista em fazer o negócio crescer e gerar faturamento por si próprio

3 - Convença o investidor de que a empresa tem potencial de retorno maior que a taxa de juros

4 - Prove que você tem um produto viável, e não apenas uma ideia boa

 

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