Fundadores de start-ups se veem como rivais, critica empresária
FERNANDO SILVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando Diana Assennato, 32, lançou a Arco, em agosto de 2013, o sucesso era tido como certo. Ela e os três sócios receberam elogios pela ferramenta de "comércio social", que possibilitava comprar e vender pelo Instagram.
O projeto durou dois anos. "Parecia que não tinha como falhar, pois com uma boa ideia sempre dá certo. Assim vendem a história. Mas aí percebemos que é bem mais complexo", diz a empresária.
Assennato aponta a falta de investidores como principal razão do fim da Arco, mas critica também a concorrência exacerbada entre os criadores de start-ups.
"As pessoas não se ajudam, já que muitas se veem como concorrentes, por mais que estejam em ramos diferentes", diz.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Diana Assennato, 32, no espaço de coworking de onde toca a Cobalto, em SP |
Leia trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - Como surgiu o conceito da Arco?
Diana Assennato - A ideia nasceu quando estava em Londres, pesquisando sobre futuro do comércio eletrônico. Como o Instagram era ótimo para o "comércio social", quis fazer um perfil em que novos produtores do Brasil vendessem suas criações. Um dia, Arthur Lima, um dos sócios, sugeriu aplicar a ferramenta de pagamentos que eu tinha criado em perfis de toda a rede e assim começou.
Parecia que não tinha como falhar, pois com uma boa ideia sempre dá certo. Você consegue investimento, monta um time. Assim vendem a história. Mas aí percebemos que é bem mais complexo do que isso.
O que deu errado?
De fato, a gente era um pouco inexperiente. A principal razão, porém, foi o medo de investir. Todo mundo com quem eu me reunia vinha dizer "que grande ideia!". Na hora de colocarem recursos, porém, nada.
Grandes marcas nos elogiaram, mas não abraçaram a ideia. Quem o fez foi o micro e o pequeno empreendedor.
Nos Estados Unidos, se investe para conectar o nome a uma ideia, é uma quantia que vão torrar. No Brasil, o dinheiro precisa necessariamente dar retorno. E quem trabalha com inovação não tem como falar: "Eu garanto lucro em tanto tempo". Não dá. Tínhamos algumas falhas, como não permitir o parcelamento de compras, algo de que o público brasileiro precisa. Mas, se tivéssemos mais dinheiro, poderíamos explicar melhor o projeto e nos concentrar mais no produto, em vez de lutar tanto para criar público.
Mas você já declarou considerar o Arco muito bem-sucedido. Por quê?
Fizemos com que 20 mil pessoas entre usuários da ferramenta e seguidores do perfil olhassem as redes sociais de outra forma e, para mim, isso foi um sucesso.
Sem contar a chuveirada de humildade que eu -sempre orgulhosa- recebi. O Arco ainda abriu portas e me deu visibilidade: hoje, querem ouvir o que digo. Isso não tem preço.
Qual foi a maior lição?
Curtir o processo. As pessoas nunca pensam o que pode dar errado. Às vezes, ideias milionárias podem virar um fracasso por desatenção em alguma parte do caminho. Além disso, o objetivo de uma start-up não pode ser a venda da empresa e da ideia em si, e sim agregar valor à cadeia produtiva onde está inserida.
E é importante ter alternativas. A gente se jogou de cabeça no plano A, que era a Arco, e não pensou em nenhum momento num plano B.
Hoje, você trabalha na economia colaborativa. Quais as diferenças entre esse mundo e o das start-ups?
Na economia colaborativa, as pessoas primeiro fazem e depois pensam. No universo das start-ups, se desenvolve o plano de negócios e, às vezes, a ideia nem sai do papel.
Na economia criativa, valoriza-se o processo de construção e as pessoas se ajudam mais. Eu não sentia isso nas start-ups. Muitas pessoas se vêem como concorrentes, por mais que estejam em ramos diferentes. Talvez, pelo fato de o mundo das start-ups girar ao redor de ideias, não querem dividi-la. É normal. Mas, ao mesmo tempo, é bobo, pois se você não tirar o conceito do papel, não adianta. Não há o que fazer apenas com uma ideia.
RAIO-X
Diana Assennato
Formação
Jornalismo pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e mestrado em mídias digitais pela Universidade Goldsmiths, de Londres
Empresas
De 2013 a 2015, foi presidente da Arco. Com a falência, criou a Cobalto, que dá consultoria e workshops a empresas que querem ser mais ativas em redes sociais. Também é editora do site Ada.vc, de tecnologia sob a ótica feminina
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