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22/10/2015 - 17h09

Caso de diretor e professora de Stanford revela acusação sobre discriminação

DAVID STREITFELD
DO "NEW YORK TIMES", EM PALO ALTO, CALIFÓRNIA

Ele era diretor da melhor escola de administração de empresas dos Estados Unidos e estava viúvo há pouco tempo. Ela era uma das professoras mais renomadas da escola e estava separada do marido. Os dois saíram para uma caminhada. Ela o convidou para uma aula de ioga. Um romance floresceu entre os dois.

Poderia ter ficado nisso, mas o relacionamento resultou em um processo judicial do ex-marido.

James Phills Jr. acusou Garth Saloner, diretor da Escola de Administração de Empresas de Stanford, de tê-lo punido para beneficiar sua nova namorada, Deborah Gruenfeld.

Saloner define a queixa como "infundada", mas mesmo assim renunciou no mês passado ao cargo porque, segundo ele, não deseja que um processo macule a reputação estelar da instituição.

Elizabeth D. Herman - 14.set.2015/The New York Times
Universidade Stanford, em Palo Alto, na Califórnia, uma das mais prestigiadas do país
Universidade Stanford, em Palo Alto, na Califórnia, uma das mais prestigiadas, foi envolvida em escândalo por triângulo amoroso

O processo fez mais do que despertar questões sobre o bom senso de Saloner ao decidir namorar com uma mulher cujo marido era um de seus subordinados, mesmo que apenas nominalmente.

Também expôs outras questões administrativas, algumas das quais envolvem mulheres que trabalham na escola e em outra porção proeminente da Universidade Stanford, a Hoover Institution.

Na escola de administração de empresas, o processo judicial do marido insatisfeito revelou a existência de uma petição assinada em 2014 por 46 atuais e antigos funcionários - cerca de 10% do quadro total da escola - para reclamar de um "ambiente de trabalho hostil" onde havia diferenciação "com base em sexo e idade".

O tumulto levou diversas fontes, entre as quais um pesquisador da Hoover Institution, a procurar o jornal americano "New York Times" para falar sobre queixas existentes na instituição. No começo de 2013, algumas das mulheres que trabalham no instituto de pesquisa, uma instituição de tendências conservadoras, começaram a expressar insatisfação mais ampla quanto ao ambiente de trabalho, afirmando se tratar de um lugar no qual homens contratam seus amigos, também homens, e as mulheres são marginalizadas.

A universidade iniciou uma investigação que durou diversos meses.

Mulheres de um dos departamentos da Hoover "sentiam que o ambiente do trabalho era ameaçador, em determinados momentos", e a maioria das mulheres entrevistadas durante a investigação sentia que a instituição nem sempre era um "lugar de trabalho respeitoso", afirmou Stanford em seu sumário de conclusões da investigação, cópias do qual foram examinadas pelo "New York Times".

John Etchemendy, o vice-reitor encarregado de questões acadêmicas e orçamentárias da universidade, não quis discutir em detalhes as imputações quanto à escola de administração de empresas e à Hoover. Ele disse que Stanford havia contratado investigadores externos separados para averiguar o caso e que nenhum deles havia encontrado sinais de discriminação sistêmica. Mas ele reconheceu "fraquezas na administração" e disse que estavam sendo resolvidas.

"Temos padrões muito elevados de comportamento, e em geral os satisfazemos de maneira melhor que qualquer outra instituição que conheço", disse Etchemendy em entrevista. "Mas ocasionalmente deixamos a desejar".

Lenny Mendonca, sócio aposentado da consultoria McKinsey & Co. e antigo vice-presidente do conselho consultivo da escola de administração de empresas, disse que via no caso uma oportunidade de Stanford tratar de questões subjacentes de desigualdade entre os sexos.

"Existe uma parcialidade inconsciente substancial contra as mulheres, no Vale do Silício", ele disse. "Isso não vai mudar se simplesmente mantivermos a suposição de que as coisas melhorarão sozinhas. Stanford deveria assumir a liderança quanto a isso".

Os problemas na escola de administração de empresas começaram com o mais corriqueiro e mais triste dos acontecimentos, um divórcio. Como muitas separações, a de James Phills Jr. e Deborah Gruenfeld não demorou a se tornar contenciosa.

O processo de divórcio ainda não foi decidido, depois de quase três anos. Gruenfeld já gastou US$ 165 mil em honorários e custas judiciais, até o dia 1º de maio, enquanto o custo dos advogados de Phills já subiu a US$ 290 mil, e mais US$ 69 mil em sessões de terapia e aconselhamento ao casal em separação sobre como lidar com a criação dos filhos, de acordo com documentos judiciais.

A esta altura, o casal não está em acordo nem mesmo quanto à data do casamento - ele menciona 2000 em um conjunto de documentos, ela 1999 em outro.

Quando quer que tenha acontecido o casamento, logo depois os dois foram contratados ao mesmo tempo pela escola de administração de empresas de Stanford. A universidade ficou tão satisfeita que lhes emprestou US$ 1 milhão para a compra de uma casa, com termos muito mais favoráveis do que os que teriam obtido junto a qualquer banco.

O campo de trabalho do casal era como as organizações funcionam. Gruenfeld, 53, se concentrava em como o poder leva as pessoas a fazer coisas estúpidas. Phills, 55, se concentrava em maneiras pelas quais organizações sem fins lucrativos podem usar a liderança para melhorar.

A estrela acadêmica de Gruenfeld era mais brilhante, e a de seu então marido não parecia destiná-lo a um posto como professor titular em Stanford. Em maio de 2012, Phills pediu licença de Stanford e começou a lecionar na Universidade Apple, na divisão de treinamento da empresa.

Depois de dois filhos e uma dúzia de anos, o casamento começou a desmoronar. Em junho de 2012, Gruenfeld saiu de casa. Em março, conseguiu uma liminar contra Phills por violência doméstica, que o proibia de se aproximar dela.

A petição para a liminar alegava que Phills, astro da luta greco-romana quando aluno da Universidade Harvard, a estava "ameaçando, seguindo e molestando". Em documentos judiciais, Phills define essas imputações como "desprovidas de mérito".

Chega Saloner, um sul-africano radicado no Vale do Silício. Ele realizou trabalhos pioneiros de pesquisa sobre os efeitos de rede, que permitem que empresas de tecnologia dominem seus mercados, e em 2001 se licenciou de Stanford por dois anos para trabalhar com start-ups.

Durante o mandato de Saloner como diretor geral, Stanford superou Harvard e a Escola Wharton, da Universidade da Pensilvânia, como melhor escola de administração de empresas dos Estados Unidos, de acordo com o ranking do "U. S. News".

A escola inaugurou um novo e reluzente campus, e criou um alojamento muito moderno. Saloner obteve US$ 500 milhões em doações e, dada a riqueza do Vale do Silício nos últimos anos, o total parecia destinado a subir.

A mulher de Saloner, Marlene, morreu em junho de 2012 depois de uma longa batalha contra o câncer. Algum tempo depois, ele começou a sair com Gruenfeld.

Phills estava, enquanto isso, negociando seu retorno a Stanford. Mas a escola queria que ele pagasse o empréstimo para a compra da casa, afirmando que, já que Gruenfeld não vivia mais lá, Phills, sozinho, não se qualificava para ele.

Phills processou Stanford e Saloner em abril de 2014. Phills, que é negro, afirma que foi sujeitado a "ações discriminatórias com respeito à remuneração, tarefas profissionais e benefícios", com base em seu "status marital, de raça e sexo". Ele solicita indenização em montante não revelado, e cobertura de suas custas judiciais.

Stanford nega suas afirmações e abriu processo contra ele em agosto de 2015, afirmando que ele havia invadido a privacidade de Saloner e cometido fraude de computação, e que mensagens de e-mail haviam sido obtidas ilegalmente.

A universidade afirma que o diretor da escola de administração de empresas não violou normas da instituição em seu relacionamento com Gruenfeld. Mas agora também afirma que estava errada quanto à necessidade de liquidar o empréstimo habitacional. Phills continua morando na casa.

Saloner, Phills e Gruenfeld se recusaram a falar sobre o assunto.

Gruenfeld e Saloner continuam juntos. Ela recebeu um adiantamento de US$ 1 milhão por um livro baseado em seu curso, "Acting With Power". Saloner pretende se manter no comando da escola de administração de empresas até o final do ano acadêmico em curso. Phills continua na Apple.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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