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22/11/2015 - 02h00

Startup combina algoritmos e técnicas tradicionais de casamenteiros

Eilene Zimmerman
Do "New York Times"

Lauren Kay e Emma Tessler não são o estereótipo de um fundador de startup. Para começar, são mulheres, e nenhuma tem antecedentes no ramo da tecnologia. Tessler nem mesmo concluiu seu curso universitário, e antes de criar um programa de prevenção da gravidez adolescente no Harlem, Nova York, era professora de educação sexual em Nova Jersey.

Mas como a maioria dos fundadores de novas empresas, Kay e Tessler perceberam um problema em um mercado que conheciam bem - um problema que não era causado por falta de tecnologia, mas por excesso. O problema era como encontrar o par ideal com bom custo/benefício, e o mercado era o do amor.

Hiroko Masuike/The New York Times
Emma Tessler (à esq.) e Lauren Kay, fundadoras da Dating Ring
Emma Tessler (à esq.) e Lauren Kay, fundadoras da Dating Ring

As duas tinham pouco mais de 20 anos e era frequente que marcassem encontros online, em muitos casos por meio do site OKCupid. Tessler foi a cerca de 100 primeiros encontros desse tipo, e Kay a por volta de 50. "Passávamos muito tempo fazendo esse tipo de coisa, e descobrimos que os resultados são bastante imprecisos", diz Tessler, cujo atual namorado foi seu 115º encontro via OKCupid.

Tessler estava interessada em mudar de carreira, e em trocar a educação sexual pela velha e boa profissão de casamenteira.

"Eu estava esgotada, todos aqueles telefonemas de meninas de 13 anos no meio da madrugada", ela conta. "Mas realmente gostava de conversar com as pessoas sobre relacionamentos e sexualidade, e queria um modo de fazê-lo em um ambiente mais feliz".

Já Kay estava cansada de encontros - os resultados não justificavam o tempo investido - e decidiu criar uma empresa para promover encontros entre grupos de aspirantes a parceiros românticos, o que via como mais efetivo. Ela enviou e-mails a 15 mulheres e 15 homens e perguntou se estariam interessados em sair como grupo em um grande encontro. "Fiquei chocada quando todo mundo respondeu sim", diz Kay.

Uma mulher que fez parte de um dos primeiros grupos apresentou Kay a Tessler. As duas e uma terceira amiga e cofundadora (que deixou o projeto em novembro de 2014) lançaram a Dating Ring em 2013, para organizar encontros coletivos em Nova York.

A empresa fez parte da classe de janeiro de 2014 na incubadora Y Combinator, no Vale do Silício, e àquela altura tinha alguns milhares de usuários e estava crescendo em 10% ao mês, cobrando US$ 20 por pessoa por encontro.

As vendas estavam começando a se estagnar, contudo, e organizar os encontros era um pesadelo, diz Kay. "Havíamos nos tornado uma companhia de eventos para grupos, e não de encontros para grupos".

Sua intenção de ter a compatibilidade como foco estava sendo comprometida pela necessidade de encontrar pessoas em número suficiente para cada encontro.

Um dos sócios da Y Combinator sugeriu que elas perguntassem aos usuários se estariam interessados em uma mudança de modelo para o de encontros a dois. Elas conduziram uma pesquisa fechada no Facebook junto a algumas centenas de pessoas e receberam cerca de 50 respostas.

"Todos ou preferiam encontros a dois ou não tinham opinião formada", disse Kay. "Isso nos levou a acreditar que existia todo um grupo de pessoas que não usavam nossos serviços porque desejavam encontros a dois".

No vocabulário das startups de tecnologia, elas haviam chegado a um "ponto de inflexão". Um novo formulário de inscrição no site alardeava a mudança para encontros a dois, mas ainda com a intermediação das casamenteiras.

"Conseguimos US$ 7 mil em faturamento em 24 horas", disse Kay. Com o modelo de encontros em grupo, elas vinham faturando cerca de US$ 3 mil ao mês.

Hiroko Masuike/The New York Times
Lauren Kay (à esq.) e Emma Tessler, fundadoras da Dating Ring
Lauren Kay (à esq.) e Emma Tessler, fundadoras da Dating Ring

A Dating Ring usa um algoritmo para gerar potenciais parceiros, e depois uma casamenteira avalia os casais propostos e seleciona os encontros pessoalmente. O modelo híbrido da empresa representa os primeiros sinais de uma reação aos apps de encontros para celulares como o Tinder, com os quais a escolha de parceiros depende quase exclusivamente da aparência.

Mark Brooks, analista e consultor de serviços online de encontro, disse que embora continue a existir muito interesse por encontros online, "as pessoas também desejam relacionamentos que comecem com base mais firme que uma reação instintiva a uma foto", ele disse. "O modelo da empresa é muito novo, uma combinação de casamenteiros tradicionais e encontros online".

Diversas empresas iniciantes, como a SparkStarter, Hinge e Coffee Meets Bagel, não recorrem a casamenteiros em si, mas usam conexões - amigos e amigos de amigos no Facebook - para humanizar o processo e ir além dos encontros definidos por sistemas e algoritmos.

Dave Evans, fundador da Digicraft, uma consultoria para encontros online, disse que "o setor todo, em sua forma atual, se baseia em truques, ilusões e muito marketing. Chegamos ao ponto em que não interessa a idade de uma pessoa, as coisas que a agradam, o lugar em que mora. Os usuários se limitam a aceitar ou rejeitar alguém no celular com base em sua aparência".

Melissa Brady, 37, de White Plains, Nova York, é cliente da Dating Ring e adora a ideia de haver uma casamenteira envolvida. "Isso me entusiasma mais quando chega a hora de um encontro, porque tenho mais esperanças", ela diz. Brady já usou outros sites de encontros, entre os quais o OKCupid e o Coffee Meets Bagel, mas os encontros que eles ajudaram a intermediar não foram adequados para ela.

A Dating Ring cobra US$ 240 por três meses, com uma apresentação por semana. A pessoa pode se incluir no banco de dados gratuitamente, e será elegível para encontros com clientes pagantes. O serviço VIP da empresa inclui uma consulta pessoal de uma hora de duração e múltiplas sessões de avaliação via Skype, em um pacote adaptado ao cliente. O preço médio do pacote VIP é de US$ 3,5 mil, e ele oferece aos clientes cinco encontros em cinco meses.

Kay e Tessler também começaram a organizar eventos de namoro mais veloz para os membros do serviço, em Nova York e San Francisco. "As vagas disponíveis foram vendidas em dois dias", disse Kay.

O faturamento agora se aproxima dos US$ 35 mil mensais, mas o crescimento flutua, disse Kay. "Alguns meses conseguimos 50% e em outros 5%", ela diz. "No momento, estamos no azul". A companhia recebeu investimento inicial de US$ 100 mil da Y Combinator e mais US$ 255 mil de investidores iniciais.

Embora estejam crescendo, Tessler e Kay nem sempre conseguem pagar seus próprios salários, e ainda precisam superar os desafios inerentes à expansão, que inclui encontrar casamenteiros capacitados em novas cidades. Também estão pensando em mudar o nome da empresa, que reflete seu passado como organizadora de encontros em grupo.

Boa parte disso acontecerá sob observação intensiva, porque a empresa é o foco da segunda temporada do podcast StartUp, da Gimlet Media, que tem cerca de 400 ouvintes por episódio.

Kay diz que a transparência requerida pelo programa forçou as duas sócias a encarar abertamente seus desafios, quer se trate de contatos com investidores condescendentes, de pedir empréstimo aos pais, ou de descobrir como continuar a melhorar uma empresa que depende, em grande parte, das incertezas da emoção humana.

Como diz Brady, a cliente, "encontros em geral podem ser desanimadores, mas as moças do Dating Ring são muito encorajadoras. Acreditam que seja possível encontrar a pessoa certa. Elas acreditam em amor".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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