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26/11/2015 - 11h08

Lojas pequenas dos EUA fazem questão de fechar as portas na Black Friday

STACY COWLEY
DO "NEW YORK TIMES"

Na Black Friday, quando hordas de consumidores iniciarem seu ritual anual de compras para a temporada de festas, Nan Morningstar não abrirá as portas da Free Radicals, a loja de roupas e fantasias que ela e o marido operam em Albuquerque, no Estado americano de Novo México.

Para garantir que ninguém possa comprar coisa alguma dela no dia em questão, ela também pretende desativar o carrinho de compras no site da loja.

"Parece que isso está se tornando cada vez mais exagerado nos Estados Unidos, mais descontrolado", ela disse sobre a corrida anual de compras que acontece logo depois do Dia de Ação de Graças. "Não queremos participar".

Tara Pixley - 21.nov.2015/The New York Times
Gisela Claassen, dona da Curds and Wine, que fecha a semana inteira da Black Friday
Gisela Claassen, dona da Curds and Wine, que fecha a semana inteira da Black Friday

Enquanto as grandes cadeias de varejo preparam liquidações e se aprontam para receber multidões de visitantes, abrindo as portas cada vez mais cedo, algumas pequenas empresas estão fazendo questão de ir ao extremo oposto: elas rejeitam oferecer descontos e evitam horários alongados de funcionamento, especialmente se estes interferirem com o feriado de Ação de Graças.

Alguns lojistas, como Morningstar, são explícitos em seu desejo de combater a comercialização da temporada de festas.

A Lesouque, que vende on-line acessórios e produtos domésticos importados do mundo inteiro, vai fechar seu site no dia como parte de uma campanha de "deixe de lado a Black Friday", e não oferecerá descontos especiais durante a temporada de festas.

Gokben Yamandag, cofundadora do site, trabalhou durante anos como engenheira na indústria têxtil da Turquia, onde via adolescentes trabalhando longas jornadas sob condições severas. Ela saiu dessa experiência com um profundo horror aos frenesis de marketing que encorajam as pessoas a comprar produtos em grande quantidade e com descontos profundos.

"Os preços mais baixos trazem custos ocultos", ela disse. "Os consumidores podem não saber disso ao aproveitar uma promoção que oferece 'duas camisas por US$ 10', mas alguém ao longo do caminho está pagando o preço. Na maior parte dos casos, quem paga é a pessoa que está produzindo as roupas".

CORREDORES VAZIOS

Outros varejistas simplesmente consideram que fechar as portas na Black Friday é uma escolha de negócios sensata.

"As pessoas simplesmente não vão às pequenas lojas. Vão às grandes lojas, em busca de superofertas, especiais", disse Gisela Claasen, dona da Curds and Wine, uma loja de San Diego que vende suprimentos para a produção de queijo e vinho. "No primeiro ano de minha loja fiquei aberta e não fiz coisa alguma. Nenhum freguês veio".

Tara Pixley - 21.nov.2015/The New York Times
Rebecca Mershon e Jeff Howard na loja da Curds and Wine, em San Diego, que fecha a semana inteira da Black Friday
Rebecca Mershon e Jeff Howard na loja da Curds and Wine, em San Diego, que fecha a semana inteira da Black Friday

Claasen agora mantém a loja fechada a semana inteira, no feriado do Dia de Ação de Graças. "Meus funcionários adoram a ideia", ela diz. "Com isso, podem passar mais tempo com as famílias".

Há algumas provas que sustentam a impressão de Claasen de que a maioria dos compradores do feriado não se deixa atrair por empresas como a dela.

Apenas 24% das pessoas que planejam fazer compras de festas dizem ter a intenção de comprar produtos do pequeno varejo, de acordo com um relatório da Federação Nacional do Varejo norte-americana.

A organização projeta que as vendas de festas subirão em 3,7% este ano, para US$ 630,5 bilhões.

Algumas lojas independentes que estarão abertas para as horas iniciais da temporada de compras o fazem relutantemente.

Enquanto as grandes empresas de varejo, como a Macy's, Sears e Target, abrem as portas cada vez mais cedo - este ano, as três estarão abertas às 18h do Dia de Ação de Graças -, crescente número de shopping centers seguem a tendência ditada pelas lojas-âncora e iniciam o evento na noite de Ação de Graças, depois de ficarem fechados durante o dia. Alguns desses estabelecimentos requerem que todos os lojistas sigam esse horário.

A Deer Creek Winery, uma vinícola familiar de Shippenville, Pensilvânia, tem lojas em quatro shopping centers do Estado.

Rhonda Brooks, coproprietária da vinícola, preferiria manter todas as lojas fechadas no Dia de Ação de Graças, mas dois dos shopping centers, o Clearview Mall, em Butler, e o Shenango Valley Mall, em Hermitage, decidiram que todos os lojistas terão de abrir às 18h ou poderão ser multados.

A Deer Creek seguiu a regra do Clearview dois anos atrás e abriu na noite de quinta-feira. As vendas foram lentas - "as pessoas só queriam ir às grandes lojas, para aproveitar as grandes liquidações", disse Brooks - e os funcionários se queixaram de ter de deixar o convívio da família e trabalhar em pleno feriado.

No ano passado, ela se recusou, postando um cartaz com uma semana de antecedência avisando que a loja não abriria. O shopping center não a multou, diz Brooks. (Um representante do Clearview não respondeu a um pedido de comentário.)

SEM PROMOÇÕES

Kendrick Brinson - 28.nov.2014/The New York Times
Em plena Black Friday de 2014, homem dorme no Shopping Beverly, em Los Angeles
Em plena Black Friday de 2014, homem dorme no Shopping Beverly, em Los Angeles

A Black Friday se tornou sinônimo de grandes descontos, mas pequenas empresas raramente têm condições de cortar seus preços da forma que as grandes cadeias fazem - e algumas se recusam até a tentar.

Courtney Stamm, proprietária da Cheeky Puppy, loja de produtos para animais de estimação em Washington, planeja abrir na Black Friday, mas não oferecerá liquidações ou promoções.

"Nossos clientes não especialmente motivados por descontos", ela disse. "Há momentos em que coloco produtos numa prateleira de descontos e eles ficam lá, sem atrair compradores".

Por isso, ela está concentrando sua energia no dia posterior à Black Friday, com uma campanha conduzida pela American Express como "sábado da pequena empresa".

Nos últimos anos, a American Express oferece aos portadores de seus cartões créditos de entre US$ 10 e US$ 25 para uso no pequeno comércio participante, em compras realizadas no sábado. Este ano, a empresa afirmou que não oferecerá os créditos, mas que continua a promover o dia.

Para atrair compradores no sábado, Stamm promove eventos especiais.

No ano passado, ela convidou um vendedor de coleiras e guias artesanais do site Etsy para visitar a loja e atender encomendas; isso bateu o recorde de vendas do estabelecimento.

Este ano, um fotógrafo profissional de animais de estimação estará na loja para registrar retratos, em troca de uma doação de US$ 20 a uma organização local de resgate de animais.

Em Albuquerque, Morningstar planeja evitar compras de qualquer tipo na Black Friday. Ela disse que seu plano era um dia tranquilo em companhia da família e de amigos, comendo as sobras do dia anterior.

"Essa é uma das vantagens de ser uma microempresa", ela disse. "Porque sou a chefe, decido quando tirarei minhas folgas".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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