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18/02/2016 - 12h00

Britânica cria Tinder para pessoas que trabalham com a morte

CHRISTINE COLBY
DA VICE

Não é surpresa que Carla Valentine seja tão fã do dia 14 de fevereiro (o Valentine's Day da Inglaterra) -é meio difícil escapar disso considerando o nome dela. Mesmo quando está solteira, ela adora a data.

"É legal tirar um dia para pensar no amor", diz, "mas também acho que é uma data bastante sombria. Considero uma coisa parecida com o Halloween por causa da história macabra associada ao dia. Isso é baseado no massacre de um homem afinal de contas!".

Carla Valentine
Carla Valentine, criadora do site Dead-Meet.com para juntar gente que já conhece a indústria da morte
Carla Valentine, criadora do site Dead-Meet.com para juntar gente que já conhece a indústria da morte

Mas Valentine não é o tipo de garota atraída simplesmente por flores e chocolates. Ela é a curadora técnica do Barts Pathology Museum de Londres, onde é responsável por restaurar, catalogar e expor cinco mil exemplares de espécimes vitorianos de restos humanos.

Para o Dia dos Namorados gringo deste ano, Valentine fez a contagem regressiva em seu perfil do Instagram, postando fotos da anatomia do coração e outras coisas "românticas" das coleções de vários museus.

Antes, porém, a jovem trabalhou oito anos num necrotério, estudou patologia forense e passou um tempo escavando túmulos de vítimas da praga e cemitérios medievais. Atualmente ela também trabalha numa dissertação sobre o olhar sexualizado, museus de anatomia e os vários graus de intimidade que os humanos compartilham com a morte - e não ignorou nenhum assunto.

Branislava ivic/Stocksy

"Estou tentando encorajar as pessoas a enxergarem a necrofilia de maneira mais subjetiva", diz ela sobre a pesquisa. "Quando discutimos a morte, parece que a reação das pessoas geralmente desafia a lógica. Pessoas já me disseram que conseguiam se ver torturando alguém ou mantendo um escravo sexual, mas não se imaginavam transando com um cadáver. Por que isso?"

O tipo de coisa que Valentine faz e sobre o que ela gosta de falar não é exatamente a conversa padrão de um primeiro encontro - a menos que a outra pessoa seja de um campo de atuação similar. Por isso o site dela, Dead-Meet.com (algo como 'mortos se encontram'), surgiu.

"Quando eu trabalhava em necrotérios, notei que muitas pessoas que trabalhavam na indústria pareciam ficar juntas meio que naturalmente", conta. "Diretores de funeral estavam namorando técnicos de patologia; embalsamadores namoravam agentes funerários".

Juntar gente que já conhece o meio e entende os desafios da indústria da morte, gente que não se sente repelida por isso, quase sempre garante um nível de camaradagem e intimidade. Mas esse também tende a ser um grupo pequeno - todo mundo já conhece todo mundo.

Reprodução
Contagem regressiva para o Dia dos Namorados estrangeiro feita por Carla Valentine
Contagem regressiva para o Dia dos Namorados estrangeiro feita por Carla Valentine

"Eu me perguntava como as pessoas encontravam outras da indústria, mas indo além, mesmo que fosse só para um bate papo e não necessariamente para um romance", diz Valentine. "Foi aí que pensei no Dead Meet. Eu até achava que alguém já tinha criado algo assim antes, mas não!"

Considerando a pesquisa de Valentine da relação entre sexo e morte, é de se admirar que ela não tenha pensado no site antes. Ativo a mais de um ano, o Dead-Meet.com é um site e rede social grátis para profissionais da morte, com mais de mil membros ativos - de diretores de funeral a operadores de crematório, legistas a ilustradores anatômicos, tudo com busca por ocupação.

"Pessoas já me disseram que conseguiam se ver torturando alguém ou mantendo um escravo sexual, mas não se imaginavam transando com um cadáver. Por que isso?"

Valentine não tem certeza se o site já resultou em algum romance sério. Mas ela sabe de várias pessoas que encontraram parceiros de pesquisa e amigos, e se conectaram a outros por networking mesmo, por causa de seu trabalho.

Romany Reagan, candidata a PhD da Royal Halloway, Universidade de Londres, estuda herança de luto no Cemitério Abney Park e é membro do Dead Meet. Ela diz que o que mais gosta no site e o que o diferencia de outros sites de relacionamento é que não há pressão para se envolver. Na verdade, ela já tinha namorado quando entrou para o site, mas ainda queria "encontrar pessoas de mente parecida e se juntar ao diálogo".

Mas ela também recomenda isso para quem está atrás de alguém especial. "Me decepcionei com sites tradicionais porque o que eu estava procurando era tão específico, que as chances estatísticas de encontrar alguém por esses meios, alguém em quem eu realmente estivesse interessada, eram praticamente nulas", diz. Reagan também é fã do Dead Meet porque Valentine oferece encontros reais para membros do site, geralmente no Barts Pathology Museum, que normalmente não fica aberto ao público.

"Acho que eventos nos quais você sabe que todo mundo é da mesma área são muito melhores para encontrar possíveis interesses amorosos", diz Reagan. "Você está lá pela palestra e o open bar, não para olhar para cara dos outros em silêncio, tentando ficar com alguém".

A própria Reagan já apresentou palestras nos eventos do Dead Meet; "Morte e Erotismo", por exemplo, focava no desejo sexual em resposta a imagens de morte e experiências de quase morte. "Já conheci pessoas que me mandaram mensagem pelo site e depois vieram para os eventos do Dead Meet, e é sempre divertido colocar um rosto no nome e levar a conversa digital para o mundo real. Ainda mais com drinques".

E da sua parte, Valentine adora realizar os eventos. "Nós desafiamos os limites dos tópicos porque vemos isso de um nível profissional", ela diz, "e se as pessoas encontram alguém com quem acabam romanticamente envolvidas, melhor ainda".

Outra contagem regressiva que Valentine está fazendo para 2016 é para sua "aula de envasamento de coração" - uma oficina na qual ela vai ensinar a fazer seu próprio espécime médico a partir de um coração de ovelha. Como o envasamento de coração rolou no final de semana anterior ao Valentines' Day, ela promoveu o evento como uma noite especial de Dia dos Namorados, com ingressos com desconto para casais buscando algo diferente para fazer nesse dia geralmente tão cheio de pressão.

"É um jeito muito divertido de tentar algo novo e, ao mesmo tempo, aprender sobre a preservação de tecidos humano ao longo de eras e discutir coisas importantes como a ética da exibição de tecidos", diz Valentine.

"Vou usar técnicas e fluídos de preservação que os museus usam e que outros estabelecimentos não têm acesso, mas a aula ainda vai ser algo leve. Ouvimos músicas com tema de coração: pense em 'Two Hearts' de Kylie e 'Heart of Glass' do Blondie".

Talvez o velho ditado seja mesmo verdade - existe uma tampa para todo caixão.

Traduzido por Marina Schnoor

Leia mais no site da Vice: Inventaram um Tinder para pessoas que trabalham com a morte

 

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