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20/03/2016 - 02h00

Cenário de incertezas favorece previsões furadas, diz estudioso

DIEGO IWATA LIMA
DE SÃO PAULO

O escritor Dan Gardner, autor de "Superprevisões: A Arte e a Ciência de Antecipar o Futuro" (ed. Objetiva, 352 págs., R$ 38,90), não conhecia a vidente Mãe Dinah.

Morta em 2014, ela se tornou célebre nos anos 1990 ao prever que o grupo Mamonas Assassinas morreria em um acidente de avião.

"Mas deixe-me adivinhar: ela nunca mais teve outro acerto desse tamanho, teve?", perguntou à Folha, em uma espécie de "previsão retroativa". E ele está certo.

A tese de Gardner é que, quanto mais famoso o autor da previsão, seja ela sobrenatural, política ou econômica, menores são suas chances de estar certo sobre elas.

"O maior problema é que esse tipo de fenômeno se repete em análises mais impactantes socialmente, como em análises geopolíticas, militares e econômicas", afirma.

Gardner e seu parceiro na obra, o psicólogo e professor de ciência política Philip E. Tetlock, não são contrários à existência das previsões e daqueles que as fazem, mas criticam o fato de a maioria dos previsores não ser avaliada pelo número de erros e acertos.

"Muitos acertam uma previsão e passam a ser autoridades em determinados assuntos. Isso faz tanto sentido quanto acreditar que alguém que tenha ganhado na loteria pode se tornar consultor para outros sorteios", diz.
Com cenário político incerto e a economia conturbada, o Brasil, na visão do escritor, é um campo perfeito para previsores do futuro.

"Não me surpreendo. À medida que incertezas crescem, as pessoas, em especial no mundo dos negócios, apelam para superstições, religiões dogmáticas e crenças", afirma Gardner, também autor de "Future Babble" (algo como "baboseiras futuras", em tradução livre), em 2011.

ANALISTAS

A dupla de autores de "Superprevisões" defende que é possível fazer previsões com um mínimo de base científica.

A conclusão veio depois de um pesquisa conduzida por Philip E. Tetlock, que estudou ao longo de 20 anos um grupo de "superanalistas" formado a partir de uma amostra de milhares de voluntários. O trabalho foi realizado na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Engana-se quem pensa que tal grupo era composto por gênios. "São pessoas inteligentes, é claro, mas, acima de tudo, têm apreço por análises numéricas e por fazer revisões de seus acertos passados, coisa que a maioria dos previsores-celebridade não fazem", diz.

Segundo Gardner, outra característica distintiva dos "superprevisores" é a capacidade de pensar em termos de probabilidade estatística.

"Pessoas normais pensam na base de sim, não ou talvez. Os superprevisores desenvolvem, a partir de análise e cruzamento de dados, a capacidade de responder a perguntas com números percentuais precisos", afirma.
Normalmente, os previsores conseguem avaliar cada fator de uma determinada resposta isoladamente, levando em conta suas probabilidades individuais, para chegar a uma média global.

"Uma resposta dificilmente é direta e unidimensional. Muitas questões precisam ser avaliadas, por exemplo, para se saber qual o melhor momento para atacar um inimigo em uma guerra ou adquirir uma empresa concorrente", exemplifica.

REVIRAVOLTA

A parceria com Tetlockem rendeu frutos a Gardner. Desde fevereiro, ele é conselheiro do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Em sua atuação no gabinete, Gardner vai colocar em prática um pouco daquilo que descreve em seus livros.

"Eu não previ esse desdobramento na minha carreira", disse, rindo, à Folha.

 

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