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03/04/2016 - 02h00

Executivo perde a voz e encontra nova forma de gerenciar madeireira

JENNIFER VAN ALLEN
DO "NEW YORK TIMES", NO MAINE

Presidente da madeireira de sua família, Kevin Hancock, 49, achava que as coisas não podiam ficar piores. O mercado da habitação estava rateando, centenas de madeireiras fecharam e sua empresa teve de fazer cortes.

O futuro da Hancock Lumber, criada em 1848, era uma incerteza. "Era uma situação muito estressante", lembra. Mas então ele perdeu a voz. Quando tentava falar, sua garganta se fechava.

Craig Dilger/The New York Times
Kevin Hancock, presidente da madeireira Hancock Lumber, em Casco, Maine
Kevin Hancock, presidente da madeireira Hancock Lumber, em Casco, Maine

Hancock foi diagnosticado com disfonia espasmódica, condição neurológica incurável que causa espasmos nas cordas vocais -e é agravada pelo estresse.

O empresário decidiu mudar então sua forma de trabalho, redefinir seu papel na Hancock Lumber e dividir mais amplamente os seus poderes. "Acelerei uma cultura de responsabilidade individual", diz Hancock.

Tudo isso aconteceu em 2010. E, desde então, a companhia atingiu recordes de eficiência e produtividade, com vendas de quase US$ 140 milhões no ano passado.

"Quando a doença apareceu, imaginei se seria possível continuar fazendo meu trabalho. Agora percebo que ela na verdade me tornou melhor nele".

SEM OPÇÃO

Foi justamente uma doença que levou Hancock a trabalhar na empresa da família.

Ele se formou em história dos Estados Unidos e treinava times de basquete quando seu pai, David, presidente-executivo da Hancock Lumber, descobriu um linfoma, em 1991.

Craig Dilger/The New York Times
Kevin Hancock (esq.) conversa com funcionários de sua empresa, a Hancock Lumber
Kevin Hancock (esq.) conversa com funcionários de sua empresa, a Hancock Lumber

Hancock começou a trabalhar em uma das lojas da empresa até que, seis anos depois, assumiu a presidência quando o pai morreu.

Quase 20 anos depois, Hancock conseguiu alivio temporário da sua própria doença fazendo terapia de fala e com injeções de Botox nos músculos de sua laringe.

Quando os sintomas estavam em seu pior momento, os esforços para falar o deixam sem ar e dolorido. "Isso me isolava muito."

Hancock teve de reinventar a maneira pela qual trabalhava. Nas reuniões que ele costumava comandar, passou a se sentar na segunda fila e a fazer anotações.

Por falar menos e ouvir mais, ele descobriu que muitos de seus executivos e funcionários tinham ideias e desejavam assumir a responsabilidade por implementá-las.

Ele então começou a delegar mais tarefas.

"Você vê a paixão e as ideias vindas dos outros. As pessoas sabem o que precisa acontecer e querem fazer um bom trabalho", afirma.

MUDANÇAS PARA TODOS

Em 2012, a empresa implementou um programa de bonificações por melhoras no atendimento, na produtividade e no lucro. Desde então, a equipe recebe aumentos anuais de cerca de 3%.

A companhia foi uma das primeiras do setor a adotar práticas enxutas de produção e a administrar suas entregas para melhorar os prazos.

Os ganhos de eficiência abriram caminho para uma redução na jornada semanal de trabalho de boa parte dos 458 funcionários de 47 para 41 horas semanais.

As mudanças, diz Hancock, ajudaram o faturamento a crescer em média 8% ao ano nos últimos três anos.

"Tudo em que eles trabalharam por anos está funcionando em alta rotação", diz Ruth Kellick-Grubbs, membro do conselho da madeireira. "E eles não estão tirando o pé do acelerador."

Kellick-Grubbs diz que os esforços de Hancock para se manter otimista diante da doença ajudaram a manter o moral da equipe na crise.

Entre 2005 e 2011, as construções residenciais caíram 66% no Maine e as vendas da Hancock Lumber, 45%.

"Se a empresa não tivesse as pessoas certas, com a atitude certa quanto a manter seu padrão de serviço, isso não teria acontecido", diz.

VIAGEM

Em 2012, a empresa estava de novo em situação financeira firme e Hancock estava pronto para tirar uma licença.

Ele sempre havia tido interesse pela história do oeste dos Estados Unidos no final do século 19. Tinha lido sobre a severa falta de moradias em Pine Ridge, uma reserva dos Oglala Lakota Sioux no Dakota do Sul, e tinha
vontade de conhecer o lugar.

Em Pine Ridge, Hancock se afastou completamente de seus deveres como presidente-executivo e percebeu até que ponto esses deveres o definiam.

"Aprendi que ser presidente-executivo da Hancock Lumber era só um papel que eu interpretava", diz. "Senti que tinha desenvolvido disfonia espasmódica porque estava envolvido demais em minhas funções e responsabilidade de trabalho. Eu precisava de mais equilíbrio em minha vida, o que para mim significava que o trabalho seria importante, mas não dominante."

Ele também se envolveu muito na divulgação das histórias do povo Oglala Sioux e no esforço de conscientizar o país sobre os desafios econômicos e sociais enfrentados pelos moradores de Pine Ridge.

A Hancock Lumber doou os materiais para a construção de uma casa de dois dormitórios em Pine Ridge. Hancock estabeleceu uma organização sem fins lucrativos, a Seventh Power Foundation, para celebrar a identidade dos Oglala Sioux e arrecadar dinheiro para projetos que reforcem a independência econômica dos moradores.

Em 2015, ele escreveu e publicou por sua conta um livro de 500 páginas sobre suas experiências: "Not for Sale: Finding Center in the Land of Crazy Horse".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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