Criação coletiva leva inovação às empresas
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO
A loja virtual Camiseteria tornou-se conhecida pela forma como desenvolve produtos: por concurso on-line. O desenho mais votado vira estampa em uma camiseta -qualquer pessoa pode enviar ilustrações para participar.
Quem entra no site dá às criações notas que variam de "0 --detestei" a "5 --uau! Faz meu estilo! Eu compraria".
"Conseguimos saber de quais estampas nosso público mais gosta", diz Fábio Seixas, 36, dono da empresa.
A estratégia da Camiseteria chama-se "crowdsourcing", neologismo em inglês que significa terceirizar tarefas para um grupo de pessoas. Em tempos de internet, o processo torna-se simples.
Esse tipo de colaboração acontece em diversas áreas. Há iniciativas voltadas ao desenvolvimento de logotipos e, mais recentemente, ao teste de softwares e aplicativos.
Existe ainda o financiamento coletivo, também conhecido como "crowdfunding", cujo objetivo é auxiliar empresas com projetos inovadores a captar recursos.
Rafael Andrade/Folhapress |
Fábio Seixas, dono da Camiseteria, faz concursos de desenhos entre designers e elege as melhores estampas |
No país, esses movimentos começam a ganhar força. Uma das evidências é a 1ª Conferência Internacional de Crowdsourcing, Cocriação e Comunidades no Brasil , que começa amanhã em São Paulo.
Marina Miranda, 39, sócia da Mutopo, consultoria especializada em "crowdsourcing", define o modelo como "uma produção que usa conhecimentos coletivos e voluntários para resolver problemas e criar conteúdos, soluções ou novas tecnologias".
Analistas, no entanto, veem problemas na novidade. O economista Rogério Costanzi, por exemplo, diz que esse é um caso no qual "a remuneração não reflete referenciais de produtividade".
Alex Primo, professor de comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que "há exploração [da mão de obra], mas viabilizam-se projetos".
SITE OFERECE LOGOMARCAS
O gerente de impressão Jonas Mateus, 36, de Santa Maria (RS), gasta de três a quatro horas por dia desenvolvendo logotipos e logomarcas para concorrer a prêmios em um site. Entre os 15,3 mil designers cadastrados na plataforma, ele foi o que mais venceu: 95 vezes, o que lhe rendeu cerca de R$ 20 mil.
O "crowdsourcing" no mercado de logotipos e logomarcas ganhou popularidade com o site We Do Logos. As empresas inscrevem-se, pagam taxa (a partir de R$ 195), escrevem uma pequena descrição da companhia e estabelecem prazo para o envio de propostas.
À medida que chegam as peças, os contratantes sugerem mudanças e alterações. Se nada agradar, o empresário terá a possibilidade de receber o dinheiro de volta.
"E quem vai fazer uma logomarca por R$ 195? Quem quiser. Os que acham pouco fazem proposta para concursos que pagam mais", afirma Gustavo Mota, dono do site. Mota já desenvolvia identidade visual para empresas, mas o "crowdsourcing" fez o negócio deslanchar.
Agora seu público é formado quase exclusivamente por pequenos empresários "que querem uma solução de design a custo acessível".
O site foi lançado em setembro de 2010. Até o fim da semana passada, havia cerca de 900 projetos em disputa na plataforma, que, juntos, oferecem recompensa de mais de R$ 200 mil.
Com R$ 300, os donos da Invejada Eletro, de Mutum (MG), abriram concurso para obter um novo logotipo. Em 12 dias, os empresários computavam 74 propostas.
QUALIDADE
Kiko Farkas, designer gráfico que atende a grandes empresas, questiona "até que ponto os clientes têm condições de fazer uma análise técnica" das peças enviadas.
Ele observa, ainda, que visualizar as sugestões pela internet não é o ideal. É preciso, diz, fazer simulações para projetar o resultado em versões em movimento e anúncios impressos, por exemplo.
Um dos donos da Invejada Eletro, Fabrício Camargo, 28, porém, aprova o resultado. "O trabalho [das agências] é lento e só anda em um sentido. Se você diz que [o projeto] não está legal, o designer só faz pequenas alterações, porque a mente dele já foi para aquele lado", critica.
No site, completa, não há esse tipo de resistência.
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