Depreciação e falta de crédito congelam mercado de usados
RODRIGO LARA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A situação é comum: seduzido pela queda nos preços dos carros zero-quilômetro, o consumidor corre às lojas para trocar o modelo usado por um novo. A empolgação dura até o momento em que o cliente descobre o quanto pagam hoje pelo seu veículo.
Lojistas têm dificuldade para aprovar parcelamento para carro usado
Alessandro Shinoda/Folhapress |
João Batista Albiero Júnior comprou um VW Fox novo sem vender seu Gol 1995 (à esq.) |
"Levei meu carro para ser avaliado em duas concessionárias de São Paulo. Em uma, ofereceram um valor R$ 7.000 abaixo da tabela. Na outra, foi pior: R$ 8.000 a menos. Dei risada da oferta e fui embora", conta o analista de sistemas Raphael Mesquita Siqueira, 29, dono de um Fiat Palio ELX 1.0 2010, cujo valor de mercado é estimado em R$ 25,5 mil.
Raphael afirma que desistiu do negócio ao menos por enquanto. "Eu pensei em trocar porque os custos de manutenção ficariam maiores com o tempo, mas terei que continuar com o meu carro", lamenta. Segundo ele, os lojistas dizem que estão pagando pouco por estar difícil vender um carro usado.
A desvalorização acentuada se deve ao momento do mercado. Além da redução nos preços que reflete o desconto de IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) para carros novos, a escassez de crédito ao consumidor levou à estagnação do segmento de usados.
"As financeiras preferem dar crédito para a compra de modelos zero-quilômetro porque o risco para elas é menor em caso de inadimplência. Soma-se a isso o fato de que é mais fácil um consumidor achar um carro novo dentro das suas preferências", diz Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
As taxas de juros para o financiamento de usados dependem da idade do veículo, mas, em geral, são mais altas do que as praticadas na compra de carros novos.
"O mercado de usados é extremamente sensível ao que ocorre com o de automóveis zero-quilômetro. Isso faz com que o interesse pelos modelos rodados caia, o que afeta a liquidez desse tipo de bem", diz Garbossa.
De acordo com os relatórios da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o desempenho do mercado de usados foi 2,3% melhor entre janeiro e julho de 2012 do que no mesmo período do ano passado. O problema é que a balança está pendendo para os carros novos.
"Historicamente, a relação é de três automóveis usados vendidos para cada zero-quilômetro emplacado. Hoje, essa marca está em 2,3 usados para cada novo. O que vemos é um mercado parado", explica Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave.
Meneghetti também afirma que a baixa oferta de crédito para a compra de usados dificulta a aquisição, mas acredita que a tendência é de retorno à normalidade. "Estamos em um período de transição. Passada a baixa do IPI, o mercado de usados deverá retomar seu fôlego."
INDEPENDENTES
Os lojistas independentes estão tendo problemas com a demora para vender os carros em estoque, que perdem valor. "O movimento de queda começou no início do ano e está pior do que em 2008, quando também houve corte no IPI. Os preços caíram mais e o mercado está lento", diz Wendel Gonçalves Tomé dos Santos, dono da W Motors.
Para os consumidores, o mau momento do mercado de carros usados exige mudanças nos planos. Quem pretende vender um carro precisa ter paciência e buscar alternativas para perder menos dinheiro (veja quadro acima).
A fonoaudióloga Danielle Moraes, 29, reviu a decisão de entregar seu Renault Sandero Expression 2009 em uma loja. "Ofereceram muito pouco pelo meu carro. Eu queria aproveitar o IPI reduzido, mas fiquei insatisfeita com as ofertas. Estou considerando a hipótese de oferecê-lo para particulares", conta.
O advogado João Batista Albiero Júnior, 62, foi mais radical. Morador de Porto Feliz (118 quilômetros de São Paulo), ele preferiu comprar o carro zero-quilômetro sem se desfazer do seu veículo antigo, um Volkswagen Gol 1995.
"Não valia a pena usá-lo como entrada na troca, pois me ofereceram apenas entre R$ 5 mil e R$ 6 mil. Acabei comprando um VW Fox novo e vou utilizar o Gol para percursos curtos ou mais exigentes, como estradas de terra", explica o advogado.
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