Modelos ganham até R$ 7.000 no Salão; veja imagens
IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO
Há dez anos, uma estudante de psicologia me disse que trabalhava no Salão do Automóvel. Interessado (por ela), perguntei se fazia a produção do evento ou se ajudava na assessoria de imprensa.
"Nada disso. Eu aliso carro mesmo." E fez um movimento com a mão direita, como se acariciasse o capô de um automóvel.
Era isso: ela era uma dessas garotas do Salão do Automóvel, lindas com seus vestidos de madrinha, hipermaquiadas, que sorriem nos estandes e posam para fotos ao lado dos últimos tipos.
Simon Plestenjak/Folhapress |
Amanda e o anjo tatuado no Salão do Automóvel |
São centenas delas: uma única agência disponibilizou 200 modelos para o evento deste ano.
O bico vale a pena: elas ganham entre R$ 400 e R$ 500 por dia. Multiplique pelos 14 dias do evento e chega-se à bela soma de R$ 7.000 por meio mês de labuta.
Mas, se parece fácil, não é. As moças chegam por volta de 9h ao Anhembi, pegam fila para fazer cabelo e maquiagem, sobem nos saltos às 13h, quando os portões se abrem, e só se vão às 23h. Têm, em geral, uma hora de folga.
"Durmo com as pernas para cima durante as duas semanas", conta a estonteante Franciele A., (sobrenomes abreviados para inibir o assédio no Facebook), 22, que alisa a Ferrari e a Maserati expostas no salão.
Pior que dormir esquisito: seus joelhos incharam e ela está sorrindo à base de anti-inflamatórios. Isso acontece porque ela não está acostumada a fazer feiras, e, sim, a trabalhar com publicidade.
Simon Plestenjak/Folhapress |
Modelo publicitária, Franciele faz um bico no Anhemb |
"Minha agência até questionou. Mas é uma grana boa e rápida", diz a moça de 1,77 m, modelo desde os 12 anos. "E faço só o Salão do Automóvel, que é o melhor."
Mesmo assim, não significa que tudo será lindo. "No ano passado, saí chorando porque um homem ficou insistindo em saber quanto eu cobrava para fazer programa. Neste ano, ainda não houve nada disso. O nível parece estar melhor."
Não é o que acha sua colega Lucila A., 26. Diferente da moça da Ferrari, que fica num palco fechado ao público, Lucila, 1,70 m, alisa carros no meio do povo. "Já ouvi uns 'gostosa' por aqui", revela.
Mas nada superará a cantada que levou se referindo à cor do vestido: "Se verde está assim, imagina madura". "Tive que dar risada, né?"
Lucila conta que o que mais incomoda, entretanto, são pais empurrando os filhos para tirar fotos com as moças. "Dizem 'abraça ela, pode pegar na cintura, ela está aí para isso mesmo'..."
Com 350 ml de cada lado, o pé a faz sofrer: "É salto tre-ze", diz, rangendo os dentes.
Melhor é a sorte de Alessandra B., 24, que trabalha sentada, na recepção de um estande. Modelo, se diz uma "reyzete": trabalhava dançando no programa do cirurgião plástico doutor Rey.
Mas não foi o Rey que lhe aplicou meio litro de silicone em cada seio, mas, sim, outro, que lhe cobrou R$ 7.000. "Abriram-se muitas portas depois disso", afirma.
Seja como for, ela chama a atenção. Um dos frequentadores do salão, inclusive, voltou para casa com o telefone de Alessandra no bolso. "Mas foi o número errado. Tive que inventar um porque o rapaz não saía daqui."
Sem silicone, Amanda P. brilha ainda mais. Pelo porte, pela elegância, por nunca sorrir e por uma enorme tatuagem de anjo nas costas. Foi escolhida para acompanhar um carro híbrido, de pegada moderna. "Por isso, a tatuagem não foi problema."
Por causa dela, Amanda é assediada para tirar fotos de costas. "Parece que nunca viram", brinca a bailarina, que tem outros empregos.
Para ela, o trabalha no Salão do Automóvel é apenas um bico rentável, como era para a estudante de psicologia que conheci 10 anos atrás.
A propósito, sabe o que aconteceu com aquela universitária que alisava carro? Eu casei com ela.
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