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11/11/2012 - 07h00

Alta nas vendas de carros gera escassez de peças no mercado de reposição

FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO

A redução temporária de IPI para a compra do zero-quilômetro tem beneficiado o consumidor, mas só até ele precisar levar o carro à oficina.

O aquecimento das vendas faz com que parte da produção de peças de reposição seja desviada para a montagem de automóveis novos.

As maiores queixas são quanto a falta de componentes da lataria e de itens mecânicos de baixa rotatividade, como mangueiras do sistema de refrigeração do motor.

SEM CAPÔ
A empresária Fabiana Zanelati, 41, conta que seu Citröen C3 ano 2012 sofreu um acidente e, por isso, ficou 87 dias parado na oficina à espera de um capô.

"Foi um transtorno, pois dependo do carro para trabalhar. Cheguei a gastar R$ 50 de táxi por dia."

Já o aposentado Antônio José de Sá, 60, relata que um motociclista arrancou o retrovisor esquerdo do Kia Picanto da família. "A importadora não tinha outro espelho no estoque e precisamos esperar três meses até que algum viesse da Coreia do Sul. E não dava para transitar sem a peça, que é item obrigatório."

Dono de uma funilaria na capital paulista, Brunno Guimarães conta que a lataria de modelos importados raros e de nacionais recém-lançados ou fora de linha costumam faltar com frequência.

"Peças para esses modelos levam, em média, 40 dias para chegar", calcula.

Para a Anfape (associação dos fabricantes de autopeças), a culpa pela falta de peças é das montadoras.

"Os fabricantes de carros monopolizam a produção de itens de estamparia, mas não conseguem abastecer todo o mercado de reposição e não querem que outras empresas o façam", diz Roberto Monteiro, presidente da instituição.

Já a Anfavea (associação das montadoras) diz que o desabastecimento não é generalizado, mas pontual.

"Para ter escala, algumas peças são confeccionadas em grandes lotes de tempos em tempos. Nesses intervalos, se houver picos de consumo, há risco de desabastecimento. Mas monitoramos os estoques", explica Cledorvino Belini, presidente da Anfavea.

Alessandro Shinoda/Folhapress
Antônio da Silva aguardou seis meses por componentes para a sua picape
Antônio da Silva aguardou seis meses por componentes para a sua picape

RECALL
Outra ocasião em que a falta de peças é comum: quando há um recall que envolve um número grande de veículos.
Dono de uma Nissan Frontier, o empresário Antônio da Silva, 60, relata que precisou aguardar seis meses por componentes da trava do capô e da caixa de direção de sua picape. Ele e mais 35.279 proprietários do mesmo modelo foram chamados de uma só vez para levar seus veículos às oficinas.

"Como o capô poderia abrir com o automóvel em movimento, fiquei com receio de usá-lo e, mesmo com a picape parada na garagem, tive que continuar pagando o IPVA e o seguro."

Segundo o Ministério Público de São Paulo, a Justiça obrigou a Nissan a regularizar o fornecimento de peças de reposição para os carros que comercializa no país.
O consumidor que se sentir lesado pela demora na entrega de peças para seu automóvel, independentemente da marca ou modelo, pode acionar a empresa na Justiça.

Segundo o Procon, caso a oficina não repare o carro em cerca de 30 dias ou no prazo combinado, o consumidor deve acionar a Justiça e pedir indenização pelos prejuízos.

Se a demora for motivada pelo desabastecimento de alguma peça, o consumidor pode processar o fabricante do item -isso se o automóvel ainda estiver em produção.

Para os modelos que já saíram de linha, o Código de Defesa do Consumidor atenta que "a oferta [de peças de reposição] deverá ser mantida por período razoável de tempo", intervalo que a Justiça costuma interpretar como dez anos.

Advogado especialista em direito do consumidor, Paulo Ribeiro orienta que, antes de qualquer ação judicial, o dono do carro à espera de conserto deve tentar um acordo com a oficina, solicitando, por exemplo, um veículo reserva de mesma categoria.

"Caso o pedido não seja atendido, o ideal é que o consumidor guarde os recibos de serviços usados para se locomover durante esse período."

LUCROS CESSANTES
Quando o veículo for ferramenta de trabalho, pode-se entrar com uma ação pedindo indenização por lucros cessantes -prejuízos causados pela interrupção de qualquer atividade remunerada.

Caso de Jean Levy, 43. O taxista conta que ficou quase 45 dias sem poder rodar com seu Chevrolet Prisma por não haver no mercado de reposição uma mangueira específica para o motor do seu sedã.

"Em oficinas, diziam que não havia estoque da peça nem na GM. Sem trabalho, deixei de faturar R$ 5.000."

 

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