Programa que avalia carros por meio de "crash tests" ficará mais rigoroso
FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO
Desde seus primeiros testes de colisão, feitos em 2010, o Latin NCAP (programa de avaliação de veículos novos para a América Latina) chamou a atenção pelos resultados ruins obtidos por campeões de venda no Brasil.
- Indústria diz que cumpre normas de segurança
- Um em cada dez nacionais não traz airbag e ABS
- Testes de impacto ajudarão consumidor a escolher carro
Divulgação |
Em avaliação do Latin NCAP, Ford EcoSport recebeu quatro estrelas de cinco possíveis |
Três anos e 28 "crash tests" depois, o programa passará por mudanças e ficará mais rigoroso. Além do impacto frontal, os carros serão submetidos a choques laterais, por exemplo.
A próxima etapa será divulgada em julho, com a apresentação de mais cinco avaliações. Os modelos testados são mantidos em segredo.
Em entrevista à Folha, o diretor técnico do Global NCAP, Alejandro Furas, adiantou que o acréscimo de novos parâmetros de avaliação ajudará o consumidor a identificar com mais clareza quais são os carros inseguros.
Na duas últimas edições do teste, modelos de projetos atuais foram melhor avaliados. O Ford EcoSport e o Toyota Etios, por exemplo, receberam quatro estrelas para proteção de adultos, sendo cinco a nota máxima.
*
Folha - Qual é a importância do Latin NCAP para o consumidor?
Alejandro Furas - Os motoristas na América Latina ainda têm uma baixa expectativa em relação ao nível de segurança dos automóveis. Acreditam que basta sair vivo de um acidente para caracterizá-lo como "bom". Mas não seria melhor se o carro tivesse tecnologias que evitassem lesões mais graves?
Esse é um dos propósitos do Latin NCAP, que o consumidor saiba antes de comprar um veículo qual é o índice de resistência a impactos oferecido aos ocupantes. A integridade física da família é uma questão que sensibiliza o consumidor.
E qual é a importância dos testes de impacto para a indústria automobilística?
Para as montadoras, o Latin NCAP funciona como um novo diferencial competitivo. Uma marca pode mostrar que seu produto oferece nível de segurança superior ao de rivais e até justificar um possível sobrepreço por causa disso. Algumas empresas até estampam os resultados dos testes em publicidade.
Quando o NCAP foi lançado há mais de 15 anos na Europa, os fabricantes tentaram boicotar a iniciativa. Mas bastou a Renault conquistar cinco estrelas em um teste de segurança do sedã Laguna (e ter divulgado amplamente o fato) para que outras marcas logo apressassem o desenvolvimento de veículos nota máxima também.
Divulgação |
Alejandro Furas, diretor técnico do Global NCAP |
Desde que o Latin NCAP foi criado, em 2010, os carros populares nacionais sem airbag receberam menos de três estrelas nos testes, nota mínima para serem classificados como seguros. A adoção desse item e do freio ABS como obrigatórios a partir de 2014 no Brasil pode contribuir para uma melhora?
Os governos deveriam exigir bem mais do que a adoção de acessórios de proteção.
Nossos testes demonstraram que o airbag não é a solução para carros [estruturalmente] inseguros. É possível um automóvel equipado com duas bolsas infláveis receber apenas uma estrela, caso do JAC J3 [2012]. Para um carro ter autorização de venda, o poder público deveria aplicar normas técnicas que avaliassem a segurança de um carro em uma batida.
É verdade que um modelo de mesma marca e desenho pode ter diferentes níveis de resistência dependendo do mercado ao qual é destinado?
Testes mostraram que carros idênticos podem ter desempenhos díspares nos testes de impacto. Não só pela maior quantidade de itens do modelo, mas também pelos materiais que compõem a estrutura do veículo.
Como seria a fiscalização?
Entre as normas sugeridas pelas Nações Unidas, existe uma que trata da "conformidade de produção", que obrigaria as montadoras a fornecerem, de forma aleatória, carros de sua linha de produção para que fossem submetidos a novos testes de impacto. Dessa forma, é possível confrontar os resultados entre os modelo construídos para os testes de homologação e os que efetivamente são destinados ao consumidor.
Quais serão as novidades para a edição 2013 do Latin NCAP, que será divulgada em julho?
A ideia é apresentar ao menos mais cinco veículos [comercializados na América Latina] nessa primeira etapa. Após outubro [quando novos modelos serão lançados], podemos divulgar outros resultados. Por enquanto, posso adiantar que o Latin NCAP passará por mudanças. Não na metodologia dos testes, mas no sistema de avaliação, que ficará mais criterioso, inicialmente para os ocupantes adultos.
Agora, para obter cinco estrelas, o carro terá de atingir pontuação mais alta, possuir ABS de quatro canais, cintos de segurança dianteiros com pré-tensionadores e passar por teste de impacto lateral. Essas etapas [que até agora não faziam parte dos testes na América Latina] serão obrigatórias para todos os veículos. A mudança na pontuação irá penalizar com mais rigor os modelos com nível muito baixo de segurança.
Qual é o critério de escolha dos carros avaliados?
Escolhemos pela relevância comercial ou por alguma particularidade. Os ensaios são realizados em laboratório independente na Alemanha e se baseiam em normas sugeridas pelas Nações Unidas, mas com uma velocidade mais alta -64 km/h, e não 56 km/h. O Latin NCAP também recebe solicitações de montadoras e também está aberto a pedidos de governos e outras organizações. Em todos os casos, o Latin NCAP compra o veículo em uma concessionária, como um consumidor comum.
Com base nos testes do Latin NCAP, a agência americana Associated Press publicou recentemente uma reportagem na qual os carros brasileiros foram descritos como "mortais". O termo é correto?
Se analisarmos os resultados dos testes, pode-se concluir que os níveis médios de proteção para crianças são muito baixos. Em relação aos adultos, parte dos modelos recebeu três ou quatro estrelas, mas esses carros não representam a maior parcela da frota circulante na região.
Se olharmos os modelos que obtiveram zero ou apenas uma estrela, veremos que alguns deles figuram entre os modelos mais vendidos -ao menos 450 mil unidades por ano. Isso preocupa o Latin NCAP e deveria preocupar a todos.
Acreditamos que a tese traz elementos contundentes que questionam a segurança de carros feitos na América Latina. É claro que enquanto os governos não exigirem, as montadoras não irão produzir carros sofisticados do ponto de vista da segurança.
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