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17/08/2014 - 02h15

Mulheres são contaminadas pelo 'vírus da ferrugem' e aderem ao antigos

RODRIGO MORA
DE SÃO PAULO

Um dos clientes mais fiéis de uma loja de carros antigos em Moema (zona sul de SP) enfrenta um ritual a cada clássico que incrementa sua coleção: sai direto dali para uma joalheria nos arredores.

Ao chegar em casa, presenteia a mulher com um colar ou um brinco de pérolas, como forma de "compensar" a compra de outro carro.

"Já perdi muita venda porque a mulher acha carro antigo um supérfluo que vai desviar dinheiro de uma reforma na casa ou de uma viagem", afirma Maurício Marx, proprietário da loja.

O caso descrito por Marx, no entanto, virou exceção.

Hoje, são raros os encontros de automóveis clássicos sem mulheres -casadas ou solteiras. Todas sorrindo, e não emburradas no banco do passageiro.

Grande parte do público feminino herdou do pai ou do marido o hobby do chamado antigomobilismo. Rose Salmon, 53, participa de ralis com o marido, que, segundo ela, incutiu-lhe o "vírus da ferrugem". Detalhe: ela dirige e ele é o copiloto.

Para a decoradora, a atração por antigos tem diversas facetas. "Desde que se respeitem a idade e as limitações do carro, é delicioso dirigir um antigo", diz. E isso vale tanto para o MG TD 1953 quanto para o Austin Healey 1960 e o Citroën DS 1973 da sua pequena coleção.

Nos ralis, Rose não sente preconceito por parte dos homens. "Recebo elogios deles pela coragem em pilotar, já que a maioria das mulheres só navega", diz.

A parte chata de ter um antigo? "Ficar à beira da estrada por causa de uma pane, o que pode acontecer. Mas não fico de mau humor. Faz parte", afirma.

Gustavo Epifanio/Folhapress
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Rose Salmon e seu MG TD 1953

DEZ FUSCAS

Há quem cultive o antigomobilismo desde a infância, como a editora de fotografia Tissy Brauen, 39, que herdou a paixão do pai -com um empurrãozinho da avó, que lhe deu o primeiro de dez Fuscas que já passaram por sua garagem.

O atual, um exemplar de 1970, não é o carro dos finais de semana, mas sim o que ela usa no dia a dia. "Apesar de ser meio difícil falar ao celular, não ter bluetooth ou carregador de iPhone, gosto de ouvir o barulho do motor, da direção com folga e de trocar as marchas. Ele me completa. Mais do que um acessório, é uma roupa, um estilo", afirma Tissy.

Frequentadora de encontros de autos antigos, Tissy usa os eventos para, além de se divertir, buscar peças.

"Se quebrar alguma coisa simples, como um cabo do acelerador, eu sei trocar. Só mando para um mecânico se for algum procedimento mais complexo", diz.

Dona também de um Fusca conversível, é daquelas com "graxa no sangue".

"Dirigir um antigo é gostoso quando as ruas estão livres. No dia a dia, não há muita vantagem, além da facilidade em consertar algo que quebre. Tenho [o carro] pela paixão e pelo estilo.", afirma a editora de fotografia.

Usar o Fusca -devidamente identificado com placas pretas- diariamente acabou sendo mais uma arma para conquistar o novo namorado.

"Ele disse que nunca conheceu alguém dirigindo um Fusca e que isso lhe chamou a atenção."

Gustavo Epifanio/Folhapress
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Tissy Brauen conquistou o namorado ao volante do Fusca 1970

MINI, MAS NEM TANTO

No caso de Ana Claudia Alves, 52, não foi o culto aos carros antigos que a levou ao mundo sem ar-condicionado digital, telas multimídia, faróis de xenon e sistema de som premium. A arquiteta queria praticidade no dia a dia e estilo.

"Precisava de um carro pequeno para rodar na cidade, mas o visual dos atuais populares não me encanta. Eles estão ficando feios, sem personalidade. Aí pensei num Mini, mas os novos já não são tão pequenos", conclui.

Há dois meses, ela dribla o trânsito e a falta de vagas com um Mini Cooper 1977. "No primeiro dia, acostumada com carrão, parecia que estava sentada no chão, baixinha. Qualquer carro me parecia alto de mais. No entanto, senti-me mais respeitada no trânsito."

Ela diz que não abre mais mão do carrinho, embora veja algumas "chatices" nele, como a ausência de direção hidráulica e as rodas muito pequenas. "Não sei como vai ser no verão, mas talvez instale um ar-condicionado, se for possível", prevê.

Gustavo Epifanio/Folhapress
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Ana Claudia precisava de um compacto estiloso para o dia a dia

SOCIEDADE ALTERNATIVA

Edenise Carratu, 70, sabe o que é o antigomobilismo desde que se casou com um colecionador, há 48 anos. A intimidade com carros clássicos fez com que lançasse, em 1996, o Encontro Paulista de Autos Antigos, um dos principais eventos do gênero no país.

Mas talvez a principal contribuição tenha surgido há 20 anos, quando se incomodou com o fato de que muitas mulheres ficavam em casa enquanto seus maridos ostentavam suas relíquias em reuniões de colecionadores.

Decidiu, então, fundar a Sociedade Feminina de Autos Antigos (SFAA). A ideia era simples: trazer as mulheres para o antigomobilismo.

O resultado deu certo.

"Antigamente, não havia abertura para as mulheres sequer dirigirem os carros dos maridos. Hoje, elas restauram, pilotam, colecionam e ganham troféus em competições."

 

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