A bordo de um Fusca 1961, casal roda 6.600 km para encontro de escoteiros
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ANDRÉ FELIPE
IVAN RIBEIRO
ENVIADOS ESPECIAIS A NATAL (RN)
Coragem, ânimo e autoconfiança. Em preceitos do escotismo, o casal de namorados Egon Kozyreff, 27, e Keila Lopes, 22, arranjou forças para encarar uma combinação explosiva: 6.600 km a bordo de um VW Fusca 1961.
Partiram de Sorocaba (SP) rumo a Parnamirim (região Metropolitana de Natal) dispostos a dar uma prova de sanidade. "Muitos disseram que éramos malucos", diz Egon que, assim como Keila, é contabilista.
Ainda em vias paulistas, o jovem escoteiro aproveitou uma parada para fazer o ajuste: encaixou o banco dianteiro do passageiro, que insistia em soltar-se do assoalho. E fez isso outras vezes.
"Andei com o banco solto. O Fusca não é feito de plástico, qualquer acidente seria fatal, então a gente prefere viver o agora", disse Keila.
O otimismo resistia aos trancos na hora de ligar o restaurado Volkswagen. "Se precisar, vou empurrando até Natal", afirmou Keila que, de fato, fez isso sempre que a bateria não bastou.
"É um sistema muito antigo, 6V. Terei de refazer a elétrica quando voltar", repetiu Egon durante os cinco dias e quatro noites de viagem.
O breu revelou um Fusca de faróis fracos. A sorte do casal foi ter o carro de apoio da reportagem -uma VW Saveiro- iluminando o caminho.
Editoria de Arte/Folhapress |
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Outro desafio foi o estado de conservação da rodovia Rio-Bahia entre Belo Horizonte e Salvador. O trecho é de mão dupla e as sinalizações somem em regiões como a de Teófilo Otoni (MG).
Os aclives eram um teste de paciência calculado. Os 40 km/h nesses trechos eram tática para preservar o motor. Na lentidão, caminhoneiros apressados forçavam o Volks a trafegar pelo acostamento. Ladeira abaixo, porém, o Fusca verde chegava a 100 km/h e até fazia ultrapassagens.
Atento a radares, Egon viu o cabo do velocímetro quebrar. Ficou sem referência, mas confirmou a fama de haver peças do besouro em qualquer lugar. Encontrou o "último cabo" em uma autopeças de Poções (a 444 km de Salvador). Teve que se virar, no entanto, para fazer a troca. Conseguiu.
O orgulho surgia na admiração alheia. Os frentistas eram os primeiros a elogiar o modelo cinquentão.
"É difícil ver um carro deste naipe assim. Ele está inteirão", disse Douglas, que abastecia o carro em Governador Valadares (MG).
Mas foi justamente em Minas que o entusiasmo do casal esteve ausente. Um imprevisto apagou o VW e a demora na detecção do problema ajudou a pesar o clima.
O problema, solucionado, estava no cabo solto da bobina. O otimismo, então, perdurou entre trancos e barrancos até o destino final: um encontro nacional de escoteiros. Viraram exemplo de conduta nas adversidades.
TROCO POR PINGA
A paixão de Egon pelo Fusca surgiu aos 17, ao decidir aprender a dirigir no carro.
Enquanto procurava, ao sair de um feirão de usados, deparou-se na rua com um modelo "em péssimo estado". Mal sabia que a lata velha sem assoalhos, com pintura gasta e um aviso de venda que dizia "troco por pinga" viria a levá-lo até Natal onze anos depois.
Parcialmente restaurado, o Fusca 1961 é um investimento de longo prazo. Ainda precisa de peças para alcançar a total originalidade. Mas Egon diz que prefere conciliar o tempo de pesquisa com as horas de lazer.
"Não quero que meu Fusca seja um carro de garagem", diz o escoteiro.
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