Pesquisas confirmam percepção do ciclista de que pedalar em SP melhorou
RODRIGO MORA
DE SÃO PAULO
Cinco anos após eleger a bicicleta como transporte urbano, Antonio Carlos Bicarato, 36, sente que a relação entre ciclistas e motoristas é boa -e vai melhorar.
"Ainda há uma parcela razoável acreditando que a rua é um espaço exclusivo para os carros. Do lado dos ciclistas, uma minoria acredita que as regras de trânsito não se aplicam a eles. Mas, ao se excluir essas exceções de lado a lado, a relação é boa e vem se tornando mais positiva com o tempo", avalia.
O publicitário tem razão em se sentir mais à vontade no trânsito. Parte desse bom convívio pode ser atribuído ao fato de que muitos ciclistas são também motoristas.
Fabio Braga/Folhapress | ||
O publicitário Antonio Carlos Bicarato usa bicicleta todos os dias |
FORÇA NO PEDAL
Um estudo que acaba de ser apresentado pela Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) mostra que 40% dos entrevistados começaram a pedalar há menos de um ano.
Parte dessa população usava o automóvel no dia a dia, como Bicarato. Ele acredita que cada um pode -e deve- ter seu espaço, o que não depende de haver ou não ciclovias disponíveis.
"Ao trazer a bicicleta para a minha rotina, percebi que dirigia bem apenas sob o ponto de vista dos demais motoristas. Precisava ser mais atento com ciclistas e pedestres, e isso fez com que eu passasse a entender que a rua não é um campo de guerra", afirma o publicitário.
A melhora no convívio reflete nos indicadores. Balanço da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) divulgado na última terça-feira (29) revela que houve queda de 46% no número de mortes de ciclistas em acidentes de trânsito na capital. Foram 15 casos nos primeiros seis meses do ano ante 28 do mesmo período de 2014.
O advogado Rodrigo Roux, 35, retomou o uso diário da bicicleta há três anos e também sente avanços: "apesar dos atritos, percebi uma sensível melhora na relação dos motoristas com os ciclistas no trânsito de 2012 para hoje".
Ser também motorista contribui para se relacionar melhor no trânsito. "Procuro manter distância, estou muito mais consciente e preocupado quando faço uma conversão ou mesmo quando vou trocar de faixa", explica.
Jorge Araújo/Folhapress | ||
O advogado Rodrigo Roux, 35, pedala de sua casa, em Perdizes, até o trabalho, na Vila Olímpia |
LONGAS DISTÂNCIAS
Um dos recortes da pesquisa promovida pela Ciclocidade desconstrói o mito de que bicicletas são viáveis apenas em curtas distâncias, já que 62% dos entrevistados disseram que o percurso médio no seu principal deslocamento supera os 5 km, o que sugere um uso das bikes como solução de mobilidade urbana, e não apenas para lazer.
Bicarato e Roux percorrem, cada um, em média 30 km por dia para trabalhar.
Aderir à bicicleta como meio de transporte urbano diário, contudo, não fez com que eles ingressassem no time dos "anticarros". Seus automóveis continuam sendo usados, predominantemente nos fins de semana.
Roux, por exemplo, é fã de antigos e está restaurando um Volkswagen Fusca 1973.
SUBINDO A LADEIRA - Enquete com 1.804 ciclistas indica o que pode melhorar no trânsito
SEGURANÇA É A MAIOR URGÊNCIA PARA QUEM PEDALA EM SP
Com muita experiência no pedal, a jornalista e cicloativista Renata Falzoni, 62, está satisfeita com as possibilidades das bicicletas em São Paulo.
"Já pedalei em 28 países, e acho que a cidade está cada vez melhor. Quando comecei a usar bikes, em 1976, havia menos carros nas ruas e eles alcançavam velocidades mais baixas. Mas era uma época em que o automóvel era o protagonista do crescimento econômico", conta.
Daniel Guth, 31,diretor da Ciclocidade, se baseia em números oficiais para mostrar que a quantidade de motoristas agressivos no trânsito é menor do que parece.
Um desses dados mostra que 4,9% dos 7,8 milhões de veículos registrados na capital paulista receberam 50,6% de todas as multas de trânsito em 2014, segundo levantamento da prefeitura.
"Há um exagero de interpretação do cenário, a relação é boa. O que tem acontecido é um debate ideológico no sentido de que os motoristas estariam perdendo espaço de circulação. Confunde-se o direito de ir e vir com o de dirigir", diz Guth.
Prova de que o convívio melhorou é que 38,5% dos 1.804 entrevistados na enquete da Ciclocidade (entre 18 e 24 de agosto, sempre em dias úteis) alegaram usar a bicicleta como meio de transporte cinco dias da semana.
Aqueles que utilizam diariamente somam 20,7%, seguidos por 14% que pedalam seis dias por semana.
As regiões com mais ciclovias em São Paulo - Em km
PONTOS CEGOS
Embora a relação tenha melhorado, ainda há perigos para os ciclistas. "Caminhões e ônibus, por terem pontos cegos enormes, exigem cuidado. As hostilidades, porém, vêm mais de motoristas de táxi, em especial os mais velhos", diz o publicitário Antonio Carlos Bicarato, 36.
Segundo o advogado Rodrigo Roux, 35, os motoristas de carro são os que mais assustam, seguidos pelos de ônibus de turismo. "Não tenho mais me sentido ameaçado por ônibus de linhas regulares, e os motoboys são os que mais respeitam".
Para Renata Falzoni, os motociclistas agem com gentileza, bem como os profissionais do transporte público. "Se você acena gentilmente, eles viram seus batedores e te protegem pelo trajeto", afirma a cicloativista.
A percepção dos ciclistas é amparada por outro enfoque da pesquisa. Entre os entrevistados, 82% afirmam não ter se envolvido em acidentes nos últimos três anos enquanto pedalavam.
RESPEITO ÀS REGRAS
Os ciclistas ouvidos pela Folha reconhecem que o bom convívio também depende da atitude deles.
"O desrespeito às faixas de pedestre e aos semáforos são as infrações mais comuns entre quem usa bike", diz Roux.
Andar de bicicleta pela calçada também é uma infração comum. De acordo com o estudo da associação Ciclocidade, apenas 15% dizem nunca fazer isso.
SUPORTE É ALTERNATIVA PARA QUEM USA CARRO E BIKE NO TRANSPORTE
Em meio à população de ciclistas, 27,7% combinam as bicicletas com outro tipo de transporte, como ônibus ou carro, segundo a Ciclocidade.
No caso do uso em conjunto com automóveis, os suportes ajudam a carregar a "magrela", já que muitos modelos não comportam a bike sem que seja necessário deslocar uma das rodas do quadro.
Há opções que podem ser instaladas em barras transversais no teto, sobre a tampa do porta-malas ou como carretos. Os preços partem de
R$ 150 e chegam a R$ 3.500 no caso de equipamentos mais evoluídos, que incluem luzes de sinalização, travas antifurto e capacidade para transportar mais modelos.
Quem usa bicicletas elétricas, contudo, deve ficar atento. Recente teste promovido pela Allianz Seguros detectou que quando esses modelos são transportados em suportes de bicicletas comuns, há maior risco de quebra dos suportes de sustentação em situações como freadas bruscas e colisões.
Isso ocorre devido ao maior peso das bikes com motor elétrico. Tais opções precisam de racks específicos.
Heron Brandão, 22, assistente comercial da fabricante Thule, explica que existem suportes para bicicletas comuns projetados para aguentar até 45 kg, superior ao peso médio de um modelo elétrico (30 kg).
Contudo, ele diz que a capacidade de carga não é o único critério a ser avaliado, pois a estrutura do suporte de bicicletas elétricas precisa ser mais robusto devido à diferença na distribuição do peso.
Brandão também destaca que os suportes para as bicicletas elétricas são desenvolvidos exclusivamente para a parte traseira do carro.
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