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29/11/2015 - 02h00

Eletricista aprende a guiar com os pés 20 anos após perder os braços em acidente

(...) Depoimento a
LEONARDO FARIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Jean Carlos Arnault Braz, 43, foi vítima de um acidente de trabalho aos 20 anos. Eletricista em uma empresa da grande São Paulo, Braz recebeu uma descarga elétrica durante a manutenção de um quadro de força e acabou perdendo os dois braços.

Após 22 anos reaprendendo a fazer coisas simples e se acostumando com a nova rotina, ele resolveu comprar um carro adaptado e voltar a dirigir.

*

Era mais um dia rotineiro, como qualquer outro. Acordei cedo e fui para o trabalho.

No meio do expediente, fazendo algo que já tinha feito várias vezes, sofri o acidente que mudou minha vida.

Tudo aconteceu rápido. Quando me dei conta do que havia ocorrido, tinha perdido os dois braços após sofrer uma forte descarga elétrica enquanto realizava a manutenção em um quadro de força.

Achei que minha vida tinha acabado, tudo ficou mais difícil. Tive que me adaptar, desenvolver novos hábitos dentro de uma nova rotina.

Após um longo e burocrático processo, consegui obter minha aposentadoria. Era o momento de repensar objetivos, planos e metas.

Com o passar do tempo, entendi que ter força de vontade para seguir adiante depende mesmo de cada um. Renovar a motivação para acordar todos os dias em busca de conquistar algo é que nos mantêm ativos e vivos.

Sem isso, a vida perde todo seu significado.

Mais de 20 anos após sofrer o acidente, resolvi buscar novamente a minha liberdade, fazendo algo que sempre gostei: dirigir.

Pesquisei informações sobre os direitos e benefícios para pessoas com deficiência que desejam comprar um carro e também o que era possível fazer para adequá-lo às minhas necessidades.

Adquiri um novo modelo, realizei as adaptações necessárias e fui para a autoescola.

A cada aula ia desenvolvendo ainda mais minhas habilidades, retomando hábitos e voltando a dirigir. Tirei minha nova carteira de habilitação, direcionada para as minhas limitações.

Confesso que o processo não é fácil. Apesar do auxílio do Estado e dos benefícios fiscais, que incluem planos especiais de financiamento, o custo da adaptação do meu carro ficou em cerca de R$ 36 mil. Um investimento alto, mas que vale cada centavo.

Muita gente não sabe que tem direito a vários benefícios e isenções. Há bons prestadores de serviço, mas pouca informação. Vale a pena buscar os direitos e enfrentar todo o processo.

Dirigir com os pés é mais uma das habilidades que desenvolvi após o acidente. Na verdade, tive que reaprender inúmeras outras devido à minha nova realidade.

Ao entrar no carro, uso os pés para tudo. Coloco o cinto de segurança, ajeito os espelhos retrovisores e mudo as estações do rádio por meio de um controle adaptado próximo ao assoalho do carro.

Para os que assistem, parece impossível. Mas, com o tempo, como tudo na vida, vira algo corriqueiro.

Consegui meu objetivo. Hoje tenho agilidade para realizar meus compromissos do cotidiano e liberdade para ir e vir em longas distâncias.

Aumentei minha independência, conquistando um novo direito de locomoção.

Já viajei para vários lugares dirigindo com os pés, até para a região sul do país.

Sou apaixonado por pegar a estrada e estou muito feliz de retomar algo que é tão prazeroso para mim.

 

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