Há 60 anos, surgia o primeiro carro de fabricação nacional; conheça a história
RODRIGO MORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Será um pequeno carro verdadeiramente popular, o primeiro automóvel brasileiro de passageiros", dizia a manchete no jornal "Folha da Manhã" em 20 de julho de 1956. A produção do Romi-Isetta já começara um mês antes, mas o veículo ainda se preparava para a estreia, em 5 de setembro daquele ano.
Era o primeiro veículo feito no país logo após a criação do Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), órgão responsável pelos estímulos à produção local.
Porém, houve um problema: o Romi-Isetta não se enquadrava nas regras. Só era reconhecido como um automóvel aqueles que tinham pelo menos duas portas e podiam levar quatro ocupantes e suas bagagens.
O carrinho tinha 2,28 m de comprimento e espaço para duas pessoas, que entravam por uma porta única, frontal. Sua fabricante, a empresa brasileira Indústrias Romi S.A., não obteve vantagens fiscais, embora 72% de seu peso fosse composto por peças feitas no Brasil -a legislação exigia 50% de componentes nacionais. O carro era produzido em Santa Bárbara d'Oeste, interior paulista.
O Romi-Isetta era um projeto italiano, concebido no início dos anos 1950 pelo projetista de aviões Ermenegildo Pretti e executado pela Iso, fabricante de motocicletas e furgões. Tinha motor monocilíndrico de 198 cm³ (9,5 cv).
A BMW lançou sua versão do modelo em 1955, com mecânica própria, batizado de BMW-Isetta. A marca alemã quase se associou à Romi. "Nossa empresa procurou a BMW em 1957 para produzir cinco novos modelos em parceria, entre eles uma picape e um veículo para quatro passageiros. Porém, com as crises do pós-guerra, a situação dos europeus era instável", conta Eugênio Chiti, filho de Carlos Chiti, o responsável pela construção do Isetta no Brasil Chiti.
Sem benefícios fiscais, o Romi-Isetta teve vida curta. A produção foi encerrada em 1961, após cerca de 3.000 unidades produzidas. "Naquele momento, as cidades não apresentavam problemas de mobilidade e a gasolina era barata. As vantagens oferecidas pelo nosso carro ainda não sensibilizavam o público", diz Chiti.
O carro das fotos pertence ao comerciante Antônio Carlos Migotto, 65, que o comprou quando tinha 18 anos.
PREÇO POPULAR
Em agosto de 1960, o Romi-Isetta custava 330 mil cruzeiros de acordo com tabela publicada na revista "Quatro Rodas" da época. Pela inflação calculada com base no IPC-SP, o valor atualizado seria equivalente a R$ 18 mil.
Era metade do pedido por um modelo da DKW-Vemag, empresa que recebia benefícios fiscais e foi considerada pelo governo como pioneira na indústria nacional.
História da indústria automotiva no Brasil
O primeiro DKW brasileiro foi a perua F-91 Universal, conhecida como Vemaguet. Seu motor de três cilindros tinha 900 cm³ (38 cv).
Produtora alemã de motocicletas desde 1920, a DKW passou a fazer carros quando comprou a Audi. Em junho de 1932, houve a fusão com as empresas Horch e Wanderer: surgia a Auto Union.
A marca chegou ao Brasil por meio da Vemag (Veículos e Máquinas Agrícolas S.A.), que desde 1945 montava e distribuía carros da americana Studebaker e os caminhões suecos da Scania, além de máquinas agrícolas.
O fim da Vemag foi melancólico. Com dívidas, a empresa foi comprada em 1967 pela Volks, que em seguida encerrou a produção tanto da perua quanto do sedã Belcar. A VW já controlava a Auto Union na Europa, então resumida à marca Audi.
E se no passado os carros da DKW eram os mais caros, hoje é o Romi-Isetta que tem maior valor. De acordo com o empresário Maurício Marx, especialista em carros antigos, um modelo feito em 1956 custa por volta de R$ 150 mil, três vezes mais do que um DKW do mesmo ano.
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