Minivan e perua desafiam utilitários esportivos no teste Folha-Mauá
EDUARDO SODRÉ
COLUNISTA DA FOLHA
Jipinhos e jipões são os reis do pedaço. Enquanto 19 mil peruas de todos os tamanhos foram vendidas em 2015, os SUVs chegaram a 306 mil garagens no Brasil, assumindo o posto de carro preferido das famílias. Mas serão os SUVs as opções que melhor transportam pais, filhos e malas?
O teste Folha-Mauá reuniu três tipos de carroceria: perua (representada pela Volkswagen Golf Variant), utilitário (Audi Q3 e Honda CR-V) e minivan (Citroën C4 Picasso). Todos os veículos avaliados trazem câmbio automático, e seus preços vão de R$ 90 mil a R$ 140 mil.
NOSTÁLGICO
O modelo da Volks foi o primeiro avaliado. Por baixo de comandos eletrônicos dignos de um Boeing, há um pouco de nostalgia: o carro remete aos tempos em que as famílias viajavam por aí em veículos mais horizontais, com porta-malas amplos.
Hoje, a Golf Variant 1.4 TSI (140 cv) é rara representante de um segmento que, há 20 anos, tinha 23 opções.
Ao volante, o motorista tem plena noção das reações do carro. A posição elevada dos concorrentes testados anestesia as sensações, motivando uma tocada mansa.
"As peruas oferecem a esportividade de um hatch aliada ao espaço interno para os ocupantes traseiros e a um porta-malas com excelente capacidade de carga", diz Henrique Sampaio, gerente de marketing da VW.
De fato, as sensações transmitidas pela Variant remetem ao Golf convencional, que é a atual referência de seu segmento. Porém a segunda fila de assentos tem seus limites. Cabem dois adultos ali, mas três é demais.
O mesmo ocorre com crianças: a perua Volks recebe bem duas cadeirinhas infantis, mas não sobra espaço para uma avó. Quem precisa dos cinco lugares é mais bem atendido pela Picasso.
A segunda geração da minivan importada da Espanha ganhou motor turbo (165 cv) e câmbio automático de seis marchas. Com nova plataforma, o automóvel está mais leve e ágil que antes, mantendo o espaço interno.
TETO ALTO, CHÃO BAIXO
Daniel Nosaki, gerente de design da Citroën, explica que veículos como a Picasso têm assoalho mais baixo que o dos SUVs, mas o teto é tão elevado quanto o dos jipes urbanos. Essas medidas ampliam o espaço interno.
"A sensação de amplitude é evidenciada pelo tamanho e inclinação do para-brisa. E uma minivan precisa ter os eixos mais próximos o possível das extremidades do carro", diz o designer.
Há porta-objetos embutidos no assoalho plano da C4 e mais uma dezena de reentrâncias para guardar todos os tipos de traquitanas. Até a alavanca do câmbio, colocada junto ao volante, é pensada para aumentar o espaço disponível na cabine.
Os mostradores digitais coloridos são tão chamativos que cansam, mas o motorista pode desligar parte das luzes. O que não dá para mudar é a rigidez dos assentos dianteiros. Na geração anterior da Picasso, a espuma era macia demais. Agora, ficou mais dura que o ideal.
O utilitário de luxo Honda CR-V vem obtendo bons números de venda desde a geração anterior, que chegou ao Brasil em 2006. Importado do México, o modelo atual se destaca pelo bom espaço no porta-malas e no banco traseiro, credenciais mais relevantes nos carros de família.
A única versão disponível (EXL) vem com bancos de couro, teto solar e tração integral. O multimídia é o mais simples de operar entre os carros avaliados, com tela sensível ao toque. Porém. quem gosta de modernidades vai curtir os equipamentos de VW e Citroën, que permitem múltiplas configurações.
O motor 2.0 flex e o câmbio automático de cinco marchas deixaram o CR-V na última posição em provas de desempenho. É automóvel para quem não tem pressa.
O que faz a carroceria balançar é a mesma coisa que ajuda a transpor terrenos acidentados: a suspensão alta.
DESEMPENHO
Em uma fria análise dinâmica, o Honda não tem chances diante de Golf Variant e C4 Picasso. São carros que andam mais, vão bem em trechos sinuosos e oferecem bom espaço dentro sem ocupar muito espaço fora.
Contudo, o CR-V tem a capacidade de superar buracos sem sacrificar os ocupantes, seja na terra ou no asfalto. No Brasil, isso faz diferença.
É aí que o Audi Q3 aparece. O modelo combina estilo fora de estrada com motorização turbo, unindo o melhor dos carros aqui testados. Mas falta espaço para ser um verdadeiro carro de família.
O SUV de origem alemã tem o menor porta-malas entre os modelos avaliados, e o banco traseiro é indicado para duas pessoas. Pelo perfil jovial, atende bem a solteiros abonados ou casais, mas quem viaja com dois filhos pode se frustrar.
Se a prioridade é espaço, o C4 Picasso é a opção mais indicada. O motorista pode arrumar os bancos de múltiplas formas e até retirá-los.
Se além do espaço o cliente quiser robustez, vale conhecer o Honda CR-V. O desempenho não é seu forte, mas o conforto compensa.
Mas se a família puder abrir mão de um quinto ocupante nas viagens, vale apostar na dirigibilidade acima da média do Golf Variant. É o carro mais agradável no dia a dia, e também o que menos gastou gasolina no teste.
VW GOLF VARIANT DSG TIPTRONIC
POTÊNCIA 140 cv a 4.500 rpm
TORQUE 25,5 kgfm a 1.500 rpm (rotações por minuto)
CÂMBIO automatizado
de dupla embreagem,
sete velocidades
PORTA-MALAS 605 litros
PESO 1.357 quilos
ACELERAÇÃO (0 a 100 km/h) 9,5s
RETOMADA (80 a 120 km/h) 6,7s
CONSUMO URBANO 12,2 km/l
CONSUMO RODOVIÁRIO 17,3 km/l
PREÇO a partir de R$ 96.750
CITROËN C4 PICASSO
POTÊNCIA 165 cv a 6.000 rpm
TORQUE 24,5 kgfm a 1.400 rpm (rotações por minuto)
CÂMBIO automático, de
seis velocidades
PORTA-MALAS 537 litros
PESO 1.405 quilos
ACELERAÇÃO (0 a 100 km/h) 9,8s
RETOMADA (80 a 120 km/h) 6,5s
CONSUMO URBANO 9,1 km/l
CONSUMO RODOVIÁRIO 14,8 km/l
PREÇO a partir de R$ 111 mil
HONDA CR-V EXL
POTÊNCIA 155 cv (e),
150 cv (g) a 6.300 rpm
TORQUE 19,5 kgfm (e) e 19,3 kgfm (g) a 4.800 rpm
CÂMBIO automático, de
cinco velocidades
PORTA-MALAS 589 litros
PESO 1.579 quilos
ACELERAÇÃO (0 a 100 km/h) 12,8s (e) e 13,5s (g)
RETOMADA 9,3s (e) e 9,6s (g)
CONSUMO URBANO
6,8 km/l (e) e 9,5 km/l (g)
CONSUMO RODOVIÁRIO
11,2 km/l (e) e 14,6 km/l (g)
PREÇO R$ 145,8 mil
AUDI Q3 1.4 TFSI
POTÊNCIA 150 cv a 5.000 rpm
TORQUE 25,5 kgfm a 1.500 rpm (rotações por minuto)
CÂMBIO automatizado,
de dupla embreagem e
seis velocidades
PORTA-MALAS 460 litros
PESO 1.405 quilos
ACELERAÇÃO (0 a 100 km/h) 9,2s
RETOMADA (80 a 120 km/h) 6,8s
CONSUMO URBANO 10,6 km/l
CONSUMO RODOVIÁRIO 14,4 km/l
PREÇO a partir de R$ 131,9 mil
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