Gastos com carro nos 3 primeiros anos podem equivaler ao preço de outro novo
RODRIGO LARA
DE SÃO PAULO
Ao comprar um carro, o brasileiro está mais preocupado com a atuação do vendedor, o prazo de entrega e a facilidade de pagamento. Os dados vêm de um estudo feito pelo instituto J.D. Power do Brasil, que mede a satisfação dos consumidores.
Entretanto, o custo de manutenção não foi citado como fator de compra, embora seja relevante. De acordo com um estudo realizado em parceria pela Folha com a ProTeste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) manter um veículo considerado popular pode custar mais de R$ 800 ao mês.
A pesquisa considerou os gastos nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foram avaliados fatores como depreciação, seguro e impostosao longo de três anos. No fim desse período, o gasto equivale ao preço de um carro novo de categoria similar.
Os dez carros mais vendidos no primeiro semestre foram incluídos na lista. A conta considerou que os modelos rodam, em média, 15 mil quilômetros por ano.
Se o carro for financiado, o consumidor deverá acrescentar os gastos com o parcelamento. Assim será possível ter uma noção do impacto dessas despesas no orçamento.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
FATORES RACIONAIS
De acordo com o levantamento, o valor gasto em três anos para se manter um Hyundai HB20 1.0 é de R$ 32 mil. Hoje, um modelo zero-quilômetro do mesmo carro é vendido por R$ 34,8 mil. Os valores não assustaram o designer Lucas Astolfi Luz, 26.
"O custo foi extremamente importante na minha decisão. Considero-me um comprador passional, porém, na minha atual situação, os fatores racionais têm mais peso. O valor gasto mensalmente com o HB20 é alto, mas acredito que ele também varie de acordo com a quilometragem e o tipo de uso do carro", diz o designer.
Antes de comprar o carro, Lucas pesquisou diversos fatores. "Comparei vários modelos e, após diversas pesquisas sobre consumo e valor do seguro, por exemplo, considerei que o Hyundai me atenderia melhor em itens como conforto e estética", conclui.
RACIONAL
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
O designer Lucas Astolfi Luz, que se considera um comprador emocional, escolheu o HB20 1.0 |
Para Jon Sederstrom, diretor da J.D. Power brasileira, o perfil passional do consumidor local está mudando.
"Quando vai para a concessionária, o brasileiro é prático. E muito se diz sobre a compra do carro ser emocional, mas o que vimos em nossa pesquisa é que o cliente está cada vez mais racional", diz o executivo.
Ele também afirma que, mesmo quando o consumidor não pondera o custo para se manter o carro, essa variável é fundamental após a compra. "Nosso estudo mostrou que 42% da satisfação do cliente está justamente ligada ao valor gasto durante seu período com o veículo".
Ex-dono de um Chevrolet Onix (o carro foi roubado recentemente), o analista de projetos Rodrigo Duarte, 30, diz que faz parte do grupo dos consumidores passionais: "Acho que é muito mais importante eu sentar no carro, gostar de dirigi-lo e me sentir feliz do que simplesmente pensar nos gastos".
Porém, Duarte afirma considerar alguns custos fixos. "Os valores de seguro podem atingir níveis estratosféricos, como os mais de R$ 4 mil pedidos para um Peugeot 307 que eu tinha. O valor das revisões também conta".
MUDANÇA
A consultora de projetos Daniela Cruz, 34, tem perfil racional. Ela usava seu Ford Fiesta 2011 para ir ao trabalho diariamente. Entretanto, a rotina com o carro foi alterada desde que se mudou da zona leste para a zona sul de São Paulo.
"Eu rodava cerca de 700 quilômetros por mês e, com isso, gastava quase R$ 500 mensais, descontando estacionamento", diz a consultora, que hoje pode dispensar o carro.
"Ando cerca de 20 minutos até o meu trabalho. Quando está chovendo ou muito frio, meu marido e eu pegamos um táxi e gastamos por volta de R$ 8,50", afirma Daniela.
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