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04/11/2012 - 06h00

Lei que obriga TV a exibir conteúdo nacional estimula contratações

FELIPE MAIA
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

A Lei da TV por Assinatura, que estabelece cotas de produção nacional nos canais, incluindo a obrigatoriedade de produção independente, movimenta o mercado de trabalho nas produtoras.

A nova legislação, que começou a valer em setembro, prevê que os canais de filmes, séries, animações e documentários exibam três horas e 30 minutos por semana, no horário nobre, de conteúdo audiovisual brasileiro.

Lucas Lima/Folhapress
Camila Ferreira, que estudava e trabalhava em Nova York, voltou ao Brasil para aproveitar oportunidades que surgiram após mudança na legislação
Camila Ferreira, que estudava e trabalhava em Nova York, voltou ao Brasil para aproveitar oportunidades que surgiram após mudança na legislação

A norma estabelece que essas cotas sejam aplicadas de forma gradual, atingindo o máximo no ano que vem, mas já faz com que o volume de trabalho e de vagas aumente. "O número de contratos fechados cresceu. Não são só conversas ou sondagens, de fato estamos fechando mais trabalhos do que nos anos anteriores", destaca Giuliano Cedroni, sócio da produtora Prodigo Films.

Camila Ferreira, 22, resolveu voltar ao Brasil há três meses, depois de quatro anos estudando e trabalhando com produção de programas de TV nos Estados Unidos, por causa da nova legislação. Ela considerou que teria mais oportunidades no mercado nacional do que nas produtoras americanas.

"Achei que era o momento certo para voltar e estou me dando melhor. Tenho mais oportunidades porque há muitos projetos que vão entrar em produção daqui para a frente", conta.
Há dois meses, Ferreira foi contratada como assistente de produção na BossaNovaFilms. "Meu trabalho é desde entrar em contato com a equipe, com o elenco, até montar a ordem do dia e ir para o set dar uma assistência geral."

OS MAIS PROCURADOS

Nesse primeiro momento, a principal procura é por pessoas que desenvolvam projetos de programas e os negociem com exibidores. De acordo com produtoras, a corrida é, principalmente, para encontrar e para formar bons roteiristas, que sejam capazes de atender a demanda.

"Roteirista é o que a gente precisa formar o mais rápido possível. Temos pouca tradição de ficção fora das TVs abertas, que ficam com os profissionais mais experientes. E você não desenvolve bons projetos se não tiver roteiristas qualificados", afirma Clélia Bessa, sócia da Raccord Produções e professora da PUC-Rio.

Luiz Noronha, produtor-executivo da Conspiração, diz que, em 2009, a equipe tinha só dois roteiristas. Hoje são 16 contratados e oito freelancers acionados para projetos especiais. "O cinema é a arte do diretor e a TV é a do roteirista e do produtor."

O problema é que, de acordo com os empresários, o país ainda forma poucas pessoas dessa área: a oferta de cursos especializados é pequena e leva tempo até que as produtoras possam treinar profissionais iniciantes.

"O trabalho de roteirista exige anos até que a pessoa fique afiada", opina Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2.

Eduardo Knapp/Folhapress
Guto Figueiredo, formado em administração de empresas, atua como diretor-executivo da produtora Dogs Can Fly
Guto Figueiredo, formado em administração de empresas, atua como diretor-executivo da produtora Dogs Can Fly

Para os interessados em trabalhar na área, um dos caminhos é investir em cursos livres de pós-graduações, que tendem a ganhar importância.

"Até hoje a educação formal não era tão valorizada, mas, com a profissionalização e o crescimento do mercado, a tendência é que isso mude. Mas a indicação, a experiência e o voluntarismo ainda são importantes", afirma André Mermelstein, professor da pós-graduação em gestão de TV da FAAP.

EXIBIDOS

É aconselhável bater na porta das empresas e mostrar projetos, mesmo que em fase inicial, e também entrar em contato com profissionais que possam analisar o trabalho e fazer indicações.

"Tem que colar em pessoas que já atuam no mercado e mostrar ideias. Não consigo ver outra maneira", opina Edu Tibiriçá, gestor da BossaNovaFilms.

A internet e o barateamento de equipamentos como câmeras digitais facilitam o esforço de se exibir para o mercado. Ulisses Oliveira, 39, o "Molusco", trabalhava com publicidade quando foi descoberto, há um ano, por uma produtora por causa de um vídeo que postou no YouTube, em que conta histórias vestindo máscara mexicana.

"É uma banda de um homem só: faço o roteiro, filmo, atuo e edito", brinca. Ele foi contratado como roteirista e trabalha na criação de séries como "Morando Sozinho", exibida pelo Multishow.

"Meu chefe teve acesso aos vídeos e me chamou para conversar. Eu disse para ele: 'Eu sou publicitário, mas se você me enxerga como roteirista eu encaro''', conta.

Esse crescimento tende a fazer com que os profissionais da área audiovisual focados em outros segmentos -por exemplo publicidade e cinema- sejam atraídos para a televisão independente.

Alexandre Samori, 40, que trabalhava como assistente de câmera e há três anos começou a atuar como diretor de fotografia, está usando esse bom momento para ganhar experiência na função.

"O cinema é concorrido. Para ser diretor de fotografia de um filme, há um percurso a percorrer, então você vai cavando oportunidades e criando laços", diz Samori, que trabalhou em ao menos quatro atrações para a TV neste ano.

Ele atua como freelancer (autônomo), algo muito comum na área, sendo contratado para projetos específicos. "É um mercado bem seletivo, em que, em cada trabalho, você precisa garantir o próximo. As pessoas que não funcionam não vão para a frente", conta.

Cecilia Acioli/Folhapress
Ulisses Oliveira, o "Molusco", foi contratado depois que diretor viu vídeo no YouTube em que Oliveira atua usando máscara mexicana
Ulisses Oliveira, o "Molusco", foi contratado depois que diretor viu vídeo no YouTube em que Oliveira atua usando máscara mexicana

Samori destaca que a remuneração nesses trabalhos é 50% menor em relação ao cinema. "A oferta de trabalho aumentou, mas é difícil um bom cachê. Profissionais experientes não topariam fazer projetos que estou fazendo."

Cedroni, da Prodigo Films, afirma que as produtoras recebem "muito pouco" para produzir séries para a TV. "Um episódio de novela da Globo não sai por menos de R$ 250 mil e a tabela do mercado de séries é de R$ 150 mil por capítulo. Mas, agora, depois da lei, os valores começaram a melhorar."

Para Rodrigo Terra, sócio da produtora Sentimental eTal, os salários tendem a aumentar com a maior demanda pela produção de programas. "Nesse momento, o mercado está definindo quanto custam os programas, e os cachês vão acompanhar isso."

GESTOR SENSÍVEL

Além de profissionais que saibam trabalhar com a parte artística das produções, as produtoras vão precisar de pessoas com perfil executivo, que ajudem a fazer com que as produções deem lucro.

"São funções que vão além das atividades de produção: envolvem a preparação de planos de negócio, a negociação com os canais e também o licenciamento de produtos com a marca da atração", afirma Mauro Garcia, diretor-executivo da Abpitv (Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV).

Por isso, é possível trabalhar na área mesmo não sendo formado nas carreiras relacionadas à comunicação e ao setor de audiovisual.

Paulo Schmidt, sócio do Grupo INK, diz que esse tipo de profissional, geralmente, é alguém que tem formação em cursos como administração ou finanças e tem "sensibilidade artística".

Guto Figueiredo, 33, é formado em administração de empresas e atuou por seis anos em uma companhia de cartão de crédito, mas, depois de uma "crise existencial", foi trabalhar em uma produtora, como assistente. Passou por várias funções na área de produção e hoje é diretor-executivo da Dogs Can Fly.

"A produção é a base de tudo. Até para defender um cronograma, um orçamento e o que dá e o que não dá para fazer em um roteiro. Ter esse 'know-how' ajuda a atuar na parte comercial", diz.

Para os donos de produtoras, a tendência é que esse bom momento do mercado de trabalho no setor se mantenha a longo prazo. Os profissionais descartam que o crescimento seja uma bolha.

"O audiovisual cresce ano a ano: primeiro veio o cinema, depois os documentários e, agora, a TV, com essa lei. Já era uma área carente de profissionais. Acredito que esse crescimento seja duradouro", aposta Barata, da O2.

 

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